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No dia 10 de outubro, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP premiou, pelo terceiro ano consecutivo, os melhores projetos do Programa de Extensão de Serviços à Comunidade (Pesc), um projeto no qual alunos da faculdade auxiliam organizações sem fins lucrativos. Entre os destaques deste ano está o trabalho realizado para a Associação Minha Rua Minha Casa. Criada em 1994, ela auxilia diariamente cerca de 200 moradores de rua de São Paulo, oferecendo refeições, serviços de higiene pessoal, enfermaria e biblioteca. Desde 2001, o Pesc

Entidades beneficiadas pelo programa da FEA: a Universidade a serviço da sociedade

já beneficiou 47 entidades da cidade.

Através do Pesc, um grupo de alunos da FEA criou uma rede de economia solidária visando a proporcionar a melhoria da qualidade de vida das pessoas atendidas pela Associação Minha Rua Minha Casa. Entre outras medidas, eles criaram a Feira Solidária, um mercado realizado de e para moradores de rua. Uma vez por mês, desabrigados e outros interessados expõem ali produtos que podem ser trocados por outras mercadorias ou mesmo pela “miruca”, moeda social criada para alimentar a feira. “Eles trazem material reciclável, coisas que encontram na rua ou que lhes são dadas, mas não servem. Mesmo quem não tem nada ganha duas mirucas para, pelo menos, comprar comida e uma roupa. É um ótimo jeito de eles conseguirem o que precisam, sem depender unicamente de doações”, afirma Rosana Baesso, coordenadora da associação.

A feira faz parte do Banco Solidário, criado pelos alunos para conceder microcrédito em mirucas aos moradores de rua, grupo excluído do sistema bancário tradicional, já que não oferece as garantias normalmente exigidas para o negócio. “Foi um empreendimento bem-sucedido. Todos que obtiveram o microcrédito pagaram e agora estamos adaptando as regras do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) para começarmos a trabalhar com empréstimos em reais”, afirma Felipe Bannitz, formado em Economia pela FEA e tutor do grupo.

Os alunos foram responsáveis não apenas pela criação desses empreendimentos, mas também pelo marketing da feira e pela divulgação das demais entidades ligadas à Organização de Auxílio Fraterno, uma ONG que atua na assistência a diversos grupos carentes. “Pudemos aprimorar conhecimentos específicos aplicando teorias que muitas vezes acabam sendo abstratas e também aprofundar a visão da economia. Além disso, há um lado mais subjetivo, já que pudemos fazer nossa parte para melhorar a sociedade”, avalia Bannitz.

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Alguns dos alunos participantes do Pesc: um outro lado da economia

A parceria rendeu também um curso de economia solidária, em que os alunos expuseram o conhecimento adquirido com a experiência e apresentaram uma reflexão teórica sobre o tema. “Nós saímos muito contentes do projeto. Conseguimos bons resultados para a associação e por isso pretendemos continuar no projeto, aprimorando o Banco Solidário e criando novas propostas”, conta Bannitz.

Marketing – Outro projeto do Pesc premiado neste ano foi o planejamento estratégico e reestruturação financeira elaborados por um grupo de alunos para o crescimento da Associação Sociedade Alternativa, organização que há dez anos desenvolve projetos educativos em comunidades carentes da cidade e hoje atende 1.700 famílias de baixa renda.

Depois de uma análise, com a diretoria da organização, dos problemas a serem resolvidos, a equipe de alunos destacou a necessidade de um plano de marketing estruturado e mais eficiente, que divulgasse o trabalho não só dentro das comunidades onde ela já atua, mas também em outros bairros que pudessem usufruir de seus serviços. “Eles precisavam de mais público e mais recursos, então pensamos em utilizar o jornal impresso deles como veículo dentro da comunidade e também um book para apresentá-los a possíveis patrocinadores”, explica Eduardo Naccache, aluno de Economia e membro da equipe que atuou na Sociedade Alternativa.

Uma necessidade apontada pela entidade era organizar sua área contábil. Para tal, os alunos decidiram utilizar o conhecimento obtido na faculdade para criar planilhas previamente montadas e de simples preenchimento, para que, após o término do trabalho do Pesc, a entidade pudesse manter o projeto sozinha. “Nós apresentamos o projeto para os membros da entidade em um workshop com a diretoria. Depois de algum tempo, eles nos disseram que estavam conseguindo utilizar as planilhas corretamente e que o projeto foi de grande ajuda para a entidade, já que poderiam utilizá-las para mostrar a gestão dos recursos aos parceiros e à comunidade”, conta Naccache.

Segundo ele, o Pesc foi a oportunidade de ganhar experiência profissional, além de aprender um outro lado da economia. “Nós focamos nossos estudos na economia capitalista, que visa ao lucro. Com o Pesc, temos outros objetivos. É um ponto de vista interessante.”

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Crianças e adolescentes recebem noções de informática e outros conhecimentos graças ao trabalho de entidade social, que contou com a ajuda dos estudantes da USP: em 2007, 10 instituições foram beneficiadas por 11 projetos do Programa de Extensão de Serviços à Comunidade (Pesc) da FEA

Já para Jaqueline Takita Levy, aluna do segundo ano de Administração, a experiência no programa permitiu que visse como é difícil a realidade do terceiro setor no País, principalmente para a captação de recursos, objetivo central do trabalho de sua equipe no Centro de Estudos e Assistência à Família (Ceaf), trabalho também premiado pela FEA. “Encontramos vários desafios, estudamos bastante o assunto. Eu trouxe à faculdade muitos novos conhecimentos práticos adquiridos no projeto”, diz Jaqueline.

O Ceaf atua desde 1983 no atendimento psicológico preventivo e terapêutico gratuito a famílias de baixa renda. Como a maioria das entidades sem fins lucrativos do País, o centro tem muita dificuldade em conseguir recursos para manter a periodicidade de seus serviços, que incluem palestras, workshops, cursos e fóruns de debate.

Por isso, o grupo da FEA focou na fidelização de seus colaboradores, para proporcionar uma certa segurança na renda do centro nos próximos anos. “Nós estudamos os conceitos envolvidos em captação de recursos e transformamos esse conhecimento teórico em um workshop para a diretoria do Ceaf e todas as pessoas interessadas em conhecer mais sobre o assunto. A idéia era capacitar essas pessoas para trabalharem de maneira mais eficiente”, conta Jaqueline.

Ao longo do trabalho, o grupo notou a necessidade de desenvolver a imagem e a comunicação da entidade, para que seu trabalho como prestadora de serviços sociais fosse reconhecido dentro da comunidade e pelos possíveis colaboradores. “Dessa forma, a captação de recursos seria um subproduto do trabalho de imagem. Para isso, nós trabalhamos alguns conceitos teóricos e também fizemos algumas ações pontuais, como entrega de flyers em locais de grande circulação de pessoas, conquista de espaço em jornais locais e uma newsletter para doadores e voluntários do centro, principalmente aqueles que haviam parado de doar”, explica Jaqueline.

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Oficina de artes do Centro de Ação Social Espaço Livre: alunos da FEA desenvolveram página eletrônica e ajudaram na captação de recursos

Para o Ceaf, a parceria com o Pesc trouxe novas idéias e reflexões, que podem reformular seus processos administrativos, a fim de obter maior eficiência. “O workshop foi um evento marcante, pois pudemos trazer outras ONGs e trocar experiências. Agora, estamos tentando colocar em prática as perspectivas trazidas pelos alunos. Gostaríamos de contar com o apoio deles por mais tempo, para que nos ajudem a implementar as idéias apresentadas”, registrou a entidade no relatório final do programa.

Resultados – Os bons resultados do programa podem ser vistos também em projetos não-premiados. É o caso do Centro de Ação Social Espaço Livre, entidade que trabalha pelo desenvolvimento e inclusão social de pessoas com deficiência mental, localizada na zona leste da cidade.

Conhecido principalmente dentro da comunidade, o centro precisava divulgar seu trabalho para outras comunidades, principalmente com o objetivo de captar os recursos necessários para a construção do Núcleo 2, um novo prédio que ampliará a capacidade de atendimento da entidade – que hoje atende 104 crianças a partir de 7 anos.

A estratégia encontrada pelos alunos foi a elaboração de uma página eletrônica para a entidade, na qual os interessados pudessem conhecer um pouco mais sobre as diversas atividades e serviços oferecidos gratuitamente pelo centro, além de saber como colaborar. “A internet é um veículo importante para que as pessoas nos procurem. Foi um trabalho que nos ajudou muito e seria muito bom se a parceria continuasse”, avalia Marlene Neves, membro da comissão fiscal da entidade.

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Aula de informática do Centro de Ação Social Espaço Livre

Para ela, o programa proporciona uma rica troca de experiências entre estudantes e a entidade, já que os alunos aprendem a rotina da administração de uma instituição do terceiro setor e conhecem as necessidades da periferia da cidade.

Além do desenvolvimento da página eletrônica, o grupo de alunos elaborou um plano de marketing para aumentar a visibilidade da instituição na sociedade e captar recursos para a construção da nova sede. “ Eles nos ensinaram a importância de prestarmos contas aos nossos parceiros e doadores e até a escrever cartas para agradecer a eles. São pequenas ações que contam muito no difícil processo de conseguir recursos ”, afirma Maria Cristina Souza, presidente da entidade.

Como a prefeitura ainda não concedeu o alvará para a construção do Núcleo 2, o trabalho de captação de recursos ainda não pode ser efetivado. Mas os alunos se comprometeram a ajudar a entidade assim que a construção puder ser iniciada. “Esse prédio é nosso maior objetivo, pois atenderemos o dobro de pessoas, oferecendo oficinas de reabilitação e semiprofissionalizantes para toda a comunidade”, planeja Maria Cristina, que também é mãe de uma das crianças atendidas pelo centro.

 

“Eles me ensinaram muito”

O Programa de Extensão de Serviços à Comunidade (Pesc) da FEA foi criado em 2001, em resposta ao pedido dos próprios alunos por uma oportunidade de utilizar os conhecimentos obtidos nas salas de aula em prol da sociedade, através do auxílio a entidades do terceiro setor, como organizações não-governamentais (ONGs), cooperativas e centros educacionais já formalizados ou buscando meios para se formalizar. “Era uma cobrança dos alunos por uma atuação social, uma oportunidade para que eles pudessem interagir e tentar solucionar questões importantes de cunho social”, lembra o professor Carlos Alberto Pereira, coordenador-geral do programa. “Para a FEA, o Pesc é uma oportunidade de consolidar sua imagem de responsabilidade social, do que nós somos e desenvolvemos dentro da USP.” O programa é aberto a todos os alunos da USP – e não só da FEA – e as inscrições acontecem no início de cada ano letivo.

Projeto de ação social voluntário, o Pesc é hoje formado basicamente por grupos de quatro a sete alunos dos três cursos da FEA – Administração, Economia e Contabilidade –, de anos diferentes, que elaboram um projeto com temas ligados à área para a melhoria e crescimento da instituição social escolhida. Eles são coordenados por um tutor, um aluno da pós-graduação, que auxilia na execução do projeto. “O Pesc proporciona um conhecimento que não temos na sala de aula e permite que entremos em contato com o que está acontecendo no mundo”, avalia o aluno de Economia Eduardo Naccache.

A troca de conhecimentos entre as três áreas de estudo é, segundo Naccache, a maior vantagem do programa, que permite conhecer o que é necessário para o bom funcionamento de uma empresa, seja com ou sem fins lucrativos. “Nosso grupo teve que estudar mais conceitos de contabilidade para cumprir nossa meta e também algumas noções de administração, que foram estratégicas para o bom planejamento de nossa ação. As três áreas são mais próximas do que imaginava”, conta.

Já para as entidades, que são normalmente gerenciadas por pessoas sem formação na área da administração, o conhecimento trazido pelos alunos é importante para aprimorar os processos administrativos e ajudar no caminho para a auto-sustentabilidade. Para isso, o Pesc enfatiza a sua função de capacitação e não simplesmente assistencialismo. Os alunos ensinam conceitos e técnicas, mas quem os implementa é a entidade. “Eles me ensinaram muito, até a ter jogo de cintura para lidar com a burocracia a fim de obter os documentos necessários. Foi uma experiência muito gratificante”, resume Marlene Neves, do Centro de Ação Social Espaço Livre.

Prêmio – Em sua terceira edição, o prêmio do Pesc foi criado, segundo o professor Carlos Alberto Pereira, para reconhecer os melhores trabalhos a cada ano, além de estimular os alunos a dar o melhor de si. Para tal, a equipe coordenadora avalia a pontualidade e compromisso do grupo com as metas determinadas, a participação nas palestras preparatórias e, claro, o resultado concreto obtido pelas equipes. “A idéia é premiar apenas um grupo, mas as equipes têm apresentado um nível tão bom que tivemos que premiar três”, orgulha-se Pereira.

As três equipes premiadas ganharam uma viagem ao Rio de Janeiro para conhecer organizações sociais locais e apresentar a elas os trabalhos realizados pelo Pesc. Para Pereira, é uma oportunidade de os alunos conhecerem iniciativas bem-sucedidas, trocar conhecimentos e experiências e entrar em contato com outra realidade.

Mais informações sobre o Programa de Extensão de Serviços à Comunidade (Pesc) da FEA podem ser obtidas na página eletrônica www.erudito.fea.usp.br/portalfea ou pelo telefone (11) 3091-9094.

 
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