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Estréias nacionais

Com a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, muitos filmes estréiam em circuito nacional. Cinco deles são brasileiros, sendo que dois já estão em cartaz e outros três têm pré-estréia nesta semana no Cinusp

Imagens dos filmes: Noel, A Via Láctea, Meu não é Johnny e Mutum

O cinema brasileiro diversifica suas histórias e temas, na ficção e no documentário, para reconquistar seu público. São histórias sobre um caso de amor, uma paixão pelo samba, a visão da criança do nebuloso mundo adulto, a trajetória de um traficante, e a vida real de diferentes mulheres. Para quem gosta de música, e gosta mais ainda de samba, Noel – Poeta da Vila, primeiro longa-metragem do diretor Ricardo van Steen, retrata os poucos anos de produção artística de Noel Rosa, poeta e sambista que revolucionou o samba carioca ao unir o morro e a cidade, brancos e negros. A história de Noel, que morreu com apenas 26 anos, vítima de tuberculose, se cruza com a de outros artistas consagrados, como Cartola, Aracy de Almeida, Wilson Batista e Ismael Silva.

Foi Ismael, aliás, quem levou Noel para conhecer o morro, depois de um turbulento primeiro encontro com que o filme começa, em que Noel ainda era o estudante de Medicina e Ismael, o malandro. Vinte minutos são suficientes para Noel deixar os livros e escrever a letra de Com que Roupa?, uma paródia do Hino Nacional, que fez sucesso no carnaval da época e tornou Noel o primeiro autor de samba a vender milhares de discos no Rio de Janeiro. A partir daí, Noel forma um grupo com rapazes de Vila Isabel, troca a faculdade pela boemia, passa a freqüentar clubes e teatros, e conhece a bailarina Ceci, por quem se apaixona. O filme tem um ritmo fragmentado, compensado pela boa trilha sonora, que mistura o áudio de estúdio e o som que se podia ouvir em casa, durante a Era de Ouro do Rádio.

Outro filme que já está em cartaz, depois de ser exibido na 31 o Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é A Via Láctea, da cineasta Lina Chamie. Depois de uma intensa discussão por telefone, o casal, interpretado por Marco Ricca e Alice Braga, precisa se encontrar frente a frente. Heitor, o namorado, entra no carro decidido a chegar à casa da namorada. Mas é fim do dia e entre eles está a cidade de São Paulo, com seu trânsito, engarrafamentos, bares, meninos nas esquinas e pedestres. A paisagem urbana é retratada de forma semidocumental, mostrando cenas da cidade capturadas, na maioria, com uma câmera digital, o que permitiu à diretora maior agilidade nas filmagens. O caos urbano se mistura com a ficção e com a viagem interna do próprio personagem, explorando os limites de espaço e tempo, de vida e morte.

Mais duas produções estréiam ainda no mês de novembro. Com pré-estréia no Cinusp nesta quarta, o documentário Jogo de Cena é o décimo longa-metragem de Eduardo Coutinho. O documentarista discute o caráter da representação ao misturar depoimentos verídicos de mulheres e cenas de atrizes que interpretam a seu modo as mesmas histórias de vida contadas pelas personagens escolhidas. Ao todo, foram 83 mulheres que atenderam a um anúncio de jornal para contar suas histórias num estúdio, mas apenas 26 foram selecionadas para serem filmadas no Teatro Glauce Rocha em junho de 2006, com suas histórias recontadas pelas atrizes Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão, em setembro do mesmo ano. O documentário deve chegar ao circuito comercial nesta sexta, dia 9 de novembro.

Mutum, filme de Sandra Kogut, chega aos cinemas no dia 15 de novembro. Baseado no conto de Miguilim, do livro Campo Geral, de João Guimarães Rosa, conta a história do personagem Thiago e sua família, moradores de um lugar isolado chamado Mutum, palavra que pode significar mudo ou dar nome ao pássaro preto que canta à noite. Filmado em pleno sertão de Minas Gerais, o isolamento da família é também econômico, mostrando um lugar com poucas estradas e cidades sem energia elétrica. O mundo dos adultos é visto pelos olhos de Thiago, que, ao lado do seu irmão e único amigo Felipe, começa a perceber as traições, violências e silêncios dos mais velhos. O filme tem pré-estréia no Cinusp nesta sexta.

De um típico garoto da classe média carioca a um dos maiores vendedores de drogas do Rio de Janeiro, a trajetória real de João Guilherme Estrella é contada no filme Meu Nome não é Johnny, do diretor Mauro Lima. O personagem, interpretado por Selton Mello, mostra a questão da falta de limites pela busca do prazer e da transformação humana. Começou vendendo drogas para amigos, até conhecer outro traficante, e juntou a cocaína à rede de usuários da zona sul a que tinha acesso. Depois de tentar vender a droga para fora do País, é preso e acaba nas páginas dos jornais e no submundo carcerário. Hoje, além de preparar seu primeiro disco solo como cantor e compositor, é produtor musical. A produção só chega às telas em janeiro de 2008, mas tem pré-estréia no Cinusp nesta quinta.

O Cinusp fica r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540. Sessões sempre às 19h. Entrada franca (retirar senha uma hora antes do início de cada filme na administração do Cinusp, no favo 37). Mais informações no site www.usp.br/cinusp.

 

Ditadura Militar


O documentário Caparaó, de 2006, dirigido por Flávio Frederico

O Cinusp exibe até o dia 14 de novembro a mostra “Ditadura e Cinema”, com uma seleção de filmes, produzidos a partir da década de 80, que fazem um recorte cinematográfico da ditadura militar no brasil. Na programação desta semana estão Lamarca (1994), de Sérgio Rezende, sobre Carlos Lamarca que decide se juntar à revolução armada contra o regime militar brasileiro, e para isso abandona o exército e envia a família para Cuba, passando a viver na clandestinidade (segunda, às 16h, e na próxima semana, dia 13, às 16h, e no dia 14, às 19h); Araguaya – Conspiração do Silêncio (2004), de Ronaldo Duque, que durante o regime militar, a formação da Guerrilha do Araguaya une militantes de um partido de esquerda e camponeses, tentando lutar contra a opressão de um país sob efeito da ideologia militar de segurança nacional (terça e sexta, às 16h); Pra Frente Brasil (1983), de Roberto Farias, sobre um homem de classe média que é confundido com um militante político, preso e torturado, enquanto o País torce pela seleção brasileira de futebol na Copa de 1970 (terça, às 19h, e quarta, às 16h); e o documentário Caparaó (2006), de Flávio Frederico, traz depoimentos de um grupo de gerrilheiros que se instala na Serra do Caparaó na tentativa de organizar o primeiro movimento armado em oposição ao regime militar brasileiro (segunda, às 19h, e quinta, às 16h). Encerrando a mostra serão apresentados Quase Dois Irmãos (2005), de Lúcia Murat, sobre dois amigos de infância que tomam rumos diferentes e encontram-se na prisão na década de 70, um é preso político e o outro assaltante de banco (dia 12, às 16h, e dia 13, às 19h) e Cabra-Cega (2005), de Toni Venturi, em que um militante é ferido em um confronto com a Polícia e se refugia em um apartamento, tendo como único contato com o mundo uma mulher (dia 12, às 19h, e dia 14, às 16h). Além do ciclo de filmes, acontece o Seminário sobre Cinema e Ditadura, com a presença de realizadores e professores, sempre a partir das 20h50: nesta terça o debate gira em torno do filme Pra Frente Brasil, com o diretor Roberto Farias e o professor Marcos Napolitano (Departamento de História da USP); no dia 12 de novembro, o tema A Atualidade da Ditadura é discutido por Paulo Vannuchi, ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e Marcos Antonio da Silva, professor associado do Departamento de História da USP. No Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). Mais informações no site www.usp.br/cinusp.

 

50 Anos de José Mojica Marins


O clássico do horror À Meia-Noite Levarei tua Alma

A mais completa mostra já realizada no Brasil sobre a obra do cineasta José Mojica Marins, que se confunde com o personagem que criou, o Zé do Caixão, presta homenagem aos seus 50 anos de carreira. Precursor do cinema de horror no País, com filmes consagrados como À Meia-Noite Levarei Sua Alma, Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, O Estranho Mundo de Zé do Caixãoe O Despertar da Besta, o diretor trabalhou no registro de diferentes gêneros, do melodrama ao fantástico, passando pelo faroeste, pornochanchada e comédia. A mostra exibe longas, médias e curtas-metragens em que o cineasta atuou, dirigiu e produziu, incluindo ainda o filme inédito A Praga, inicialmente rodado em 1980, depois abandonado e finalizado agora em 2007 em vídeo, especialmente para o evento, sobre o qual Mojica afirma: “Foi a primeira vez na vida que me arrepiei vendo um filme meu”. Originalmente concebido como um episódio do programa televisivo Além, Muito Além do Além, da década de 60, o filme conta a história de um casal que, durante um passeio, tira fotografias em frente à casa de uma senhora que roga uma praga, alterando completamente a vida dos dois. No total serão exibidos 41 filmes, incluindo na lista de longas Trilogia de Terror (1967-68), com episódios dirigidos por três cineastas: O Acordo, direção de Ozualdo Candeias, Procissão dos Mortos, de Luiz Sergio Person, e Pesadelo Macabro, de José Mojica Marins; e um curta-metragem, Por Exemplo Butantã (1968), com produção da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, um exercício narrativo realizado por alunos do curso de cinema sobre o Instituto Butantã, com direito a uma aparição de Zé do Caixão. Há ainda documentários, como À Meia-Noite com Glauber (1997), colagem com material de arquivo de Ivan Cardoso em diálogo com texto de Haroldo de Campos; e Maldito:O Estranho Mundo de José Mojica Marins (2001), de André Barcinski e Ivan Finotti, tributo ao cineasta que inclui depoimentos pessoais. Também será lançado um livro-catálogo (180 páginas), organizado e editado pelo cineasta Eugênio Puppo, que assina a curadoria da mostra. A publicação traz um conjunto biocinematográfico, com ensaios e artigos inéditos de alguns dos maiores críticos, como Marco Aurélio Lucchetti, Inácio Araújo e o americano Tim Lucas. A mostra “José Mojica Marins – Retrospectiva da Obra” vai até 25 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-3651). Programação completa em www.bb.com.br/cultura. Ingressos: R$ 4,00 e R$ 2,00 (meia-entrada).

 
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