A USP, por meio do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) e do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE), apresentou no dia 23, na Escola Politécnica, o ônibus movido a etanol com emissão quase nula de poluentes. A iniciativa faz parte do Projeto Best (Bioethanol for Sustainable Transport). Esse projeto, idealizado pela USP, recebe apoio de oito parceiros e é incentivado pela União Européia. “Para participarmos dessa idéia tínhamos que apresentar algo novo, por isso nossa proposta foi construir um ônibus movido a etanol”, afirma o professor José Roberto Moreira, docente da Escola Politécnica, presidente do Conselho Gerenciador do Cenbio e coordenador do Best no Brasil.

O Brasil já contou com uma iniciativa parecida, no entanto economicamente inviável, lembra Moreira. “Há oito anos, em São Paulo, houve uma experiência em que os resultados se mostraram excelentes do ponto de vista ambiental, porém modestos do ponto de vista econômico, devido à diferença de preço entre o óleo diesel e o etanol, o que esperamos superar com a nova geração do motor e também do aditivo. Hoje, o óleo diesel custa quase o dobro do etanol e existe a tendência de contínua elevação do preço do petróleo.” O ônibus vai circular

O ônibus a etanol da Escola Politécnica: muitas vantagens em relação ao motor a diesel

durante um ano na cidade de São Paulo, a partir de dezembro, como teste para demonstração de viabilidade, no corredor Jabaquara-São Mateus, com parada em nove terminais e atendimento a quatro municípios: São Paulo, Diadema, São Bernardo do Campo e Santo André.

O etanol – um álcool hidratado para combustível – precisa de aditivo para ser utilizado em motores diesel, pois não tem propriedade de auto-ignição por compressão, que é a tecnologia do motor diesel. O aditivo permite uma combustão mais rápida e com maior eficiência energética. Estudos indicam que o ônibus consome aproximadamente 60% a mais de etanol do que de diesel para percorrer a mesma distância. Embora o etanol seja 50% mais barato que o diesel, as despesas precisam de análise, pois há a necessidade de acrescentar o custo do aditivo. Por enquanto, a sueca Sekab é a única empresa a produzir aditivo para motor a base de etanol.

Caberá à equipe da USP monitorar e avaliar a eficiência energética do etanol como combustível. Após os resultados, a equipe do Projeto Best e a União Européia fornecerão recomendações para a formulação de políticas públicas que incentivem o uso do etanol no transporte público urbano. “É um projeto de conscientização da sociedade e quer chamar a atenção dos formadores de opinião de que essa tecnologia está disponível e pode ser encarada como uma tecnologia comercial”, diz Moreira.

Foto crédito: Marcos SantosO professor conta ainda que a Suécia optou, desde 1985, pelo uso desse combustível na frota de ônibus. “Embora ele seja mais caro, preferiram dar mais valor à redução da poluição local, para a melhoria da qualidade de vida, do que ao custo. Num país onde a passagem de ônibus tem valor elevado em comparação a São Paulo, é mais fácil absorver esse combustível, inclusive porque no início recebeu subsídio do governo. De qualquer forma, a Suécia tem quase 600 ônibus em operação e 200 deles foram incorporados no programa Best.”

Diesel e etanol – O investimento no Projeto Best é da ordem de R$ 1,6 milhão e o custo do veículo sai em torno de R$ 500 mil, quase o mesmo preço do ônibus atual, segundo Paulo José Guarese, gerente executivo de Projetos Especiais da Marcopolo. Ao se comparar a tecnologia do ônibus a diesel usado na frota de São Paulo com a tecnologia usada para o ônibus a etanol, verifica-se que a diferença é pouca, afirma Moreira. “A taxa de compressão de um motor a diesel comum é de 18:1, enquanto a do motor a etanol é de 28:1. Isso significa alteração da dimensão do cilindro. A eficiência energética é igual à do motor a diesel, mas consome mais combustível. O vilão é a quantidade de energia contida num litro de etanol, que é muito menor do que num litro de diesel, assim como o volume também.”

O veículo de teste será incorporado primeiramente à frota da operadora Metra (Sistema Metropolitano de Transporte), indicada pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), e a mais uma operadora, escolhida pela SPTrans, que gerencia o transporte de ônibus na capital paulista.

Segundo Moreira, o etanol deve ser incentivado por vários motivos, entre eles, a alta produção de álcool do Estado de São Paulo – maior produtor do País – e o combate à poluição. Esse combustível permite a redução de 92% de monóxido de carbono, 93% de material particulado, 83% de hidrocarboneto e 100% de enxofre. “O que mais interessa é a diminuição do dióxido de carbono. A quantidade emitida é muito baixa, em torno de dez quilos. É um combustível renovável, limpo e biodegradável. Atende aos limites de emissão de poluentes da Euro 5 (regulamentação de emissões de poluentes que entrará em vigor em 2009, na Europa). Não contém enxofre, o responsável pela chuva ácida, reduz em mais de 80% as emissões de gases do aquecimento global. Estimula o emprego na zona rural e é um produto disponível em larga escala no País.”

Foto crédito: Francisco Emolo O ônibus a etanol circulará em quatro cidades e servirá como um teste para que mais veículos com o mesmo combustível sejam incorporados à frota de São Paulo: alternativa viável para combater a poluição atmosférica

A apresentação do ônibus movido a etanol contou com a participação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que se prontificou a defender o projeto, deixando à disposição o secretário da SPTrans, Alexandre Moraes, e pediu mais colaboração das empresas presentes, para que colocassem mais dez ônibus em operação até o início de 2008, o que foi aceito pelo diretor da Coopersucar, Aloísio Nunes de Almeida, e pelo gerente executivo de Assuntos Institucionais do Produto Scania, José Henrique Senna.

O secretário da SPTrans explicou que o pedido do prefeito aos parceiros do projeto para operarem imediatamente mais dez veículos é a melhor forma de ter em larga escala os resultados mais importantes do projeto. A partir daí, pode-se pensar em implementar o projeto na frota de 15 mil ônibus da cidade de São Paulo. “Com a redução da emissão de gases que geram o efeito estufa e com a ausência da emissão de enxofre, se multiplicarmos por 15 mil ônibus que rodam quase 24 horas na cidade, teremos inevitavelmente uma melhoria para o ambiente não só do Brasil, mas do mundo.”

O Brasil é o primeiro país das Américas a ter ônibus movido a etanol em circulação pelo Projeto Best. Outras cidades da Europa e Ásia participam do programa: Estocolmo (Suécia), Madri (Espanha), Roterdã (Holanda), La Spezia (Itália), Somerset (Inglaterra), Nanyang (China) e Dublin (Irlanda).

 
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