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O campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba, a centenária Esalq da USP, se assemelha em muito aos campi americanos. Sua sede central é rodeada por um imenso jardim que, nos finais de semana, fica coalhado de pessoas – alunos, normalmente –, que passeiam por aquela área verde despreocupadamente. Um pouco afastado daquela paisagem de cartão-postal, encontra-se, porém, um prédio de forma trapezoidal que chama a atenção não só por sua estrutura diferenciada, mas principalmente pelo que

reserva em seu interior: trata-se da Biblioteca Central da Esalq, cujo acervo é tão antigo e importante quanto a própria escola de agricultura. Já no decreto de 23 de março de 1901, do governo do Estado de São Paulo, que criava a então “Escola Prática Agrícola”, havia a designação de um “arquivista bibliotecário”. Assim, a biblioteca da Esalq pode ser considerada a segunda mais antiga da Universidade, só perdendo para a da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco.

Entre os dias 22 e 26 de outubro, o acervo bibliográfico da Esalq, composto por 118.815 títulos (entre teses, livros e anais de congressos) e 3.059 periódicos, teve destaque e atenção especiais durante a 10 a Semana do Livro e da Biblioteca, evento que acontece simultaneamente em todo o Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP. Para o evento deste ano, a biblioteca da Esalq organizou um evento intitulado Serviços On-Line: Biblioteca 24 Horas, com a intenção de facilitar a busca por parte dos usuários de seu acervo na internet. “O importante é conhecer a infinidade de recursos para acesso à base de dados e conteúdos digitais que precisam ser utilizados por docentes e alunos da escola”, afirma Márcia Regina Migliorato Saad, diretora da Divisão de Biblioteca e Documentação (DIBD) do campus de Piracicaba.

Os milhares de títulos na grande rede, no entanto, são apenas uma parte visível e sazonal de tudo o que a biblioteca da Esalq oferece. Não é à toa que a DIBD recebeu, recentemente e pela segunda vez, a medalha de bronze concedida pelo Instituto Paulista de Excelência da Gestão, na categoria Organizações Educacionais e de Ensino. No total, trabalham na biblioteca 35 profissionais, além de oito estagiários.

Publicações – Na verdade, a Divisão de Biblioteca e Documentação da Esalq é formada por quatro bibliotecas: a central e outras três setoriais, ligadas aos Departamentos de Genética, Economia e Agro-indústria. No total, são 3.604 metros quadrados para a guarda e manutenção de livros e periódicos. Só a central possui cerca de 2.800 metros quadrados. E é lá que estão algumas das maiores preciosidades bibliográficas do campus de Piracicaba, todas devidamente digitalizadas ou em vias de serem.


A Biblioteca da Esalq: preciosidades a serviço da formação humana

A jóia mais reluzente desse rico acervo em papel e couro é um livro datado de 1688, o Traitez nouveaux e curieux du café, du thé et du chocolate – Ouvrage ecalement nécessaire aux medecins et á toux qui aument leur santé (“Tratado novo e curioso sobre o café, o chá e o chocolate – Obra igualmente necessária aos médicos e a todos aqueles que prezam sua saúde”), de Philippe Sylvestre Dufour. A obra, cujo título quilométrico e exageradamente explicativo bem condiz com o estilo verborrágico da época em que foi escrita, tem mais de 440 páginas, encadernação em couro marrom e, apesar da idade avançada, está em ótimo estado.

E está prestes a ganhar um espaço nobre para ser guardada, ao lado de outras obras raras do lugar. Trata-se de uma sala especial, separada na biblioteca central, destinada a livros, digamos, mais sensíveis. O lugar, no entanto, não está totalmente pronto. “O espaço ainda não é o ideal, mas já estamos cuidando disso. Vamos climatizá-lo adequadamente, trocar as telhas de amianto por um telhado de alumínio, mais apropriado, adquirir novas estantes e cuidar para que a acidez não os afete. É um trabalho que deverá estar inteiramente concluído até o ano que vem”, afirma Márcia Saad, da DIBD. “Piracicaba é uma cidade muito quente e precisamos ter todos esses cuidados.”

Há outras raridades na biblioteca, como tratados seculares sobre fauna e flora, com desenhos feitos a bico-de-pena, e outros que estão nas bibliotecas departamentais e que serão encaminhados à central. Além do trabalho de conservação e guarda de importantes volumes – e de também disponibilizar todo esse acervo pela internet –, a biblioteca da Esalq ainda realiza um outro trabalho: o de editar, periodicamente, a série Produtor Rural, que já conta com cerca de 40 títulos. Nessa via de mão dupla – mantendo o que já foi editado e editando o que deve ser lido –, a biblioteca cumpre um papel essencial neste universo bibliográfico uspiano, justificando não apenas as medalhas ganhas, mas sua importância para a própria Universidade.

 
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