São milhares e milhares de leitores de todo o mundo. Professores, pesquisadores e estudantes que entram virtualmente na biblioteca da Faculdade de Direito da USP. É possível navegar e mergulhar em um oceano de livros. Vários desses internautas de todo o planeta acabam vindo pessoalmente para observar as preciosidades do acervo, como a Operi de Dante com suoi Comenti, de 1520, e as Ordenações Manuelinas, de 1539, entre várias outras jóias.

foto crédito: Arquivo FD

Ficar em silêncio lendo e pesquisando nas sete salas da biblioteca é, como garante a diretora Maria Lucia Beffa, a oportunidade para desfrutar de um acervo de 360 mil itens. “Nossa biblioteca está entre as cinco maiores da USP, observa”. “Conta com quase 2.500 títulos de periódicos e sua coleção de obras raras é a maior da Universidade, com 6.500 obras dos séculos 16 ao 18. E o esforço de atualização contínua resultou na inserção de 4 mil novos itens em 2006, sendo aproximadamente 2 mil monografias e 2 mil fascículos de periódicos.”


Mas se, hoje, os estudantes podem pesquisar à vontade de jeans, bermudas, tênis e até chinelos, há vários espaços da biblioteca que sinalizam um tempo completamente diferente. “Até 1972, os estudantes só podiam entrar na biblioteca e na faculdade de gravata”, conta Maria Lucia. Foi o diretor Pinto Antunes quem aboliu a gravata. “Mas ele alertou: ‘Sem gravata, tudo bem, mas com bermuda, jamais.”

Bispo de Funchal – Entre esses espaços preciosos, que foram tombados em 2002 pelo Condephat (com o prédio da faculdade), estão o depósito de livros, as estantes de metal, a sala de consulta. O mais curioso é a chapelaria, que remete a uma sociedade elegante, quando ir à biblioteca era um ritual inusitado na cidade. “Na época, era preciso criar um lugar que fosse o símbolo da busca do conhecimento e cultura, mesmo porque a cidade reivindicava a instalação de uma universidade”, explica a diretora. “O acervo originou-se da livraria dos franciscanos. Foi enriquecido pelo legado de D. Luiz Rodrigues Villares, bispo de Funchal. Junto com o acervo formado, foi agregado também o acervo da Diocese de São Paulo. Assim, em 1825, os paulistanos tinham à disposição a primeira biblioteca pública oficial da Província de São Paulo.”

Com um acervo de 5 mil livros, São Paulo já tinha um bom argumento para solicitar a instalação de uma universidade na cidade. “Tratava-se de um anseio de progresso intelectual e político que se enquadrava na concepção do Brasil como um povo livre e soberano”, explica a bibliotecária Luciana Napoleone.

Foto crédito: Francisco Emolo
A Biblioteca da Faculdade de Direito: corredores freqüentados por Ruy Barbosa, Castro Alves, Monteiro Lobato, Jânio Quadros e Arthur Bernardes, entre outras personalidades

Na época, a província lutava contra as dificuldades financeiras. Era um modesto aglomerado com 10 mil habitantes. “Foram muitas as tentativas de criação de uma universidade brasileira na cidade, porém nenhuma delas teve êxito”, observa Luciana. “Dentre as primeiras iniciativas, podem ser citadas a solicitação de concessão de títulos acadêmicos no Brasil e a transformação de um colégio em universidade, ainda no século 16. A idéia foi ressurgir com a chegada de D. João VI e com a Inconfidência Mineira.”

Enfim, a biblioteca foi instituída pelo primeiro presidente da província, Lucas Antonio Monteiro de Barros. O primeiro bibliotecário foi o bispo D. José Antonio dos Reis, que se tornou aluno da primeira turma da Faculdade de Direito, fundada em 1827.

Dos 5 mil livros da época ao acervo atual, com 360 mil itens, passaram-se 182 anos de sonhos, lutas e muita informação. “O laboratório do estudante de direito é a biblioteca”, diz Maria Lucia. “Nossos livros tiveram, entre os alunos, leitores igualmente preciosos, como Ruy Barbosa, Castro Alves, Álvares de Azevedo, Hilda Hilst, Monteiro Lobato e Lygia Fagundes Telles, além de presidentes da República como Jânio Quadros, Campos Salles, Prudente de Morais, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Delfim Moreira, Wenceslau Brás e Arthur Bernardes.”

Poetas, juristas e políticos que tinham que deixar os seus chapéus na chapeleira. E só podiam consultar os livros se estivessem devidamente trajados com terno e gravata e as mulheres, com vestidos e tailleurs (também abolidos em 1972).

Novos espaços – Hoje, toda a informação sobre o acervo está registrada em bancos de dados bibliográficos disponíveis na internet e na rede local da biblioteca. Os dois principais bancos de dados – Dedalus (livros, teses, coleções de periódicos e produção do corpo docente) e Iusdata (artigos de periódicos de doutrina, nacionais e estrangeiros, a partir de 1980) – são acessíveis a partir da página da biblioteca e constituem as fontes de pesquisa para a pesquisa jurídica.

A biblioteca possui dez diferentes espaços de atendimento, distribuídos em três andares do prédio, oferecendo serviços para a comunidade interna e externa. Tem uma sala de referência (fichário) e a biblioteca central no primeiro andar, mais um balcão de atendimento e seis salas especializadas no segundo andar, chamadas de bibliotecas departamentais, e uma sala especialmente voltada para empréstimo de livros para estudantes da faculdade, no andar térreo.

A Biblioteca da Faculdade de Direito da USP fica aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 8 às 22 horas, e aos sábados, das 9 às 13 horas, no Largo São Francisco, 95. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3111-4053

 
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