Diante das exigências da sociedade do conhecimento, o sistema educacional atual se tornou obsoleto. Duas são as exigências de um novo ensino, que contribua efetivamente para o desenvolvimento do Brasil: fortalecer em todas as pessoas a capacidade de aprender e criar condições para a educação permanente. Essas análises estão no artigo “Uma nova sociedade e uma nova educação”, de autoria do ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, publicado na recém-lançada edição número 74 da Revista USP – publicação trimestral da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP.

foto crédito: Arquivo FD

A nova edição traz o dossiê “Pensando o futuro – Humanidades”. Ela faz parte de uma trilogia, que nas próximas edições discutirá ainda os temas “Pensando o futuro – Ciências Biológicas” (número 75) e “Pensando o futuro – Ciências Exatas (número 76). “A trilogia levanta problemas, procura respostas e busca soluções não apenas para o País, mas para o mundo em que vivemos”, afirma o editor da Revista USP, jornalista Francisco Costa. “O que propomos é um encontro com o que será o mundo de amanhã.”

Visão caleidoscópica – Como afirma Costa,

o primeiro volume da trilogia traz uma “visão caleidoscópica” a respeito das ciências humanas. Entre os temas contemplados nos dez textos do dossiê desta edição estão direito, reforma política no Brasil, educação, relações internacionais, artes plásticas, economia, filosofia e cibernética – todos eles analisados por especialistas de diferentes instituições.

A professora Olgária Matos, do Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, por exemplo, discute a influência do capitalismo na educação – cada vez mais submetida a avaliações de produtividade e à privatização. No artigo “Cultura capitalista e humanismo: educação, antipólis e incivilidade”, ela define o “capitalismo cultural” em vigor hoje: o modo de produção que integra as realizações espirituais no mercado consumidor segundo as determinações do custo-benefício e de amortizações rápidas de investimento. “A cultura capitalista é a da simbiose entre economia e cultura e se constitui pela dessublimação repressiva de desejos, pela ilimitação do consumo e pela produção permanente de carências e falta, determinando uma cultura do excesso, de tal forma que a sociedade de mercado atual conduz à incivilidade.”

“A economia do Brasil no futuro” é o título do artigo do professor Guilherme Dias, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, publicado na Revista USP. Ele aponta a falta de representação política dos principais atores sociais como uma restrição fundamental para uma nova fase de crescimento no Brasil. “O capital estrangeiro e as agências multilaterais apontam para a falta de previsibilidade das nossas agências reguladoras como restrição para investimentos em infra-estrutura, mas pode ser o ‘déficit de representação política' que impede a legislação adequada e a boa gestão de nossas agências reguladoras”, analisa Dias. “Na falta de oportunidades seguras de investimento, o lucro das empresas no Brasil pode ser transformado em exportação de capital, ou seja, poupança doméstica transferida para o exterior.”

Revista USP, número 74, dossiê “Pensando o futuro – Humanidades”, Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP (telefone 11 3091-4403), 206 páginas

Também para a área do direito, o mundo contemporâneo trouxe transformações profundas, como ensina o professor Tercio Sampaio Ferraz Júnior, da Faculdade de Direito da USP. “Nosso tempo está dominado, de modo imperceptível para o homem comum, por um 'sentido pantécnico' sem par”, escreve o professor, recorrendo a uma expressão do filósofo austríaco Martin Buber (1858-1965). “Só conhece sujeitos dominantes, de um lado, e objetos a dominar, de outro. Não estabelece grandes diferenças entre tratar-se ora de material natural, ora do chamado material humano. Nesse mundo, no qual todo objeto e qualquer sujeito é um dado, tudo é meio para alcançar um fim, inclusive o próprio sujeito, degradado à mera força de trabalho, renovável e substituível.”

A Revista USP dá espaço também para o futuro da arte, em texto do professor Teixeira Coelho, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Teixeira Coelho desconfia da possibilidade de prever o futuro em arte – o único jeito de fazer isso é através do controle da arte, como fazem as ditaduras, ele diz. Mesmo com essa ressalva, ele discorre sobre possíveis alterações em sete aspectos da arte no mundo: o suporte (a arte pode “compartilhar os caminhos da inovação tecnológica, aprofundando-a e intensificando-a”), o lugar (“a arte tende a ser cada vez mais pública”), a decisão, a matéria, o sujeito, a representação e o ânimo. “O futuro não verá esses sete eixos se implantando com igual força ao mesmo tempo. E um ou outro será mais provável que os demais. Mas sempre é preciso lembrar: a previsão é inviável.”

Cibernética e justiça – Outros textos publicados no dossiê “Pensando o futuro – Humanidades” são “O futuro das reformas institucionais”, do senador Marco Maciel, “Pensando o futuro do sistema internacional”, do diplomata Gelson Fonseca Júnior, “De como a cibernética pôs abaixo o mundo organizado como linguagem”, do professor Ciro Marcondes Filho, da ECA, e “Pós-humano – por quê?”, da professora Lucia Santaella, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. O dossiê traz ainda “O futuro é plural: administração de justiça no Brasil”, de Joaquim Falcão.

Na seção Textos, o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero assina o artigo “A mãe de todas as ameaças: a mudança climática e o futuro da vida”, e o professor Antonio Gouvêa Mendonça, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, escreve sobre “Protestantismo no Brasil: um caso de religião e cultura”. “Bernardo Guimarães: a exceção pelo riso”, de Duda Machado, e “Dom Quixote e a agudeza do furor”, de Claudio Bazzoni, completam a seção. A professora de Sociologia da USP Maria Arminda do Nascimento Arruda faz a resenha, na seção Livros, de Bilac, o jornalista, de Antonio Dimas.

 
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