Uma boa escola não é feita só por bons professores e alunos interessados, mas também por pais e mães conectados com o que se ensina para seus filhos e dispostos a apresentar propostas para melhorar a educação deles. Trilhando esse caminho, um grupo de pais e mães da Escola de Aplicação – instituição de ensino fundamental e médio ligada à Faculdade de Educação da USP – criou o Projeto Cidadão USP. A iniciativa tem como objetivo levar os alunos a usufruir da riqueza de conhecimentos das diversas unidades da Universidade instaladas na Cidade Universitária, em São Paulo.

Foto crédito: Cecília Bastos

Essa idéia não é tão inédita assim, porque já há dez anos existe o Clube da Matemática, coordenado pelo professor Manoel Oriosvaldo de Moura, da Faculdade de Educação da USP, que oferece atividades lúdicas para alunos do primeiro ciclo (de 6 a 10 anos de idade) da Escola de Aplicação, sempre às terças-feiras, com a ajuda de estagiários do curso de Pedagogia. Foi daí que surgiu a idéia de dar às crianças mais oportunidades de conhecer o campus da USP. José de Barros Chagas, pai da aluna Laura, de 8 anos, se reuniu com outros pais na

Associação de Pais e Mestres, dirigida pela professora Maria Julia Rangel de Bonis, para juntos buscar outros institutos que pudessem oferecer atividades para as crianças da escola.

Dessa parceria alguns bons frutos já foram colhidos. Os alunos da Escola de Aplicação já participam do Clube da Matemática, do professor Oriosvaldo Moura, e passaram a freqüentar também o Clube de Ciências, oferecido às quartas-feiras pelo Instituto de Física da USP, coordenado pelo professor Fuad Daher Saad. Segundo José Chagas, já foi fechada uma parceria com o Instituto de Biociências da USP, que promoverá o Clube da Biologia, onde serão discutidos temas como cadeia alimentar, ciclo da vida e a vida em comunidade das formigas. “Esse clube já tem uma preocupação acadêmica sobre o que transmitir para as crianças”, diz Chagas.

Outras parcerias em andamento são com o Instituto Oceanográfico e com o Clube de Idiomas, da Faculdade de Educação. “Há várias propostas em estudo e outras se concretizando. Na Prefeitura da Cidade Universitária, vamos começar um trabalho ambiental ao redor da escola, classificando as árvores, plantas e flores, observando os pássaros e pesquisando as vegetações. Também queremos envolver o USP Recicla e o Programa de Uso Racional da Energia Elétrica da USP, o Pure. Assim estaremos formando alunos conscientes do espaço físico em que vivem e de como podem usufruir dele sem prejudicá-lo”, explica José Chagas.

Foto crédito: Cecília Bastos
Alunos da Escola de Aplicação aprendem a fazer contas no Clube da Matemática, coordenado pelo professor Oriosvaldo Moura, da Faculdade de Educação: os pais tiveram a iniciativa de criar projeto que leva os estudantes a conhecer a ciência produzida nas unidades da USP da Cidade Universitária

A julgar pela alegria das crianças, o Projeto Cidadão USP já é um sucesso. No dia em que a reportagem do Jornal da USP visitou o Clube da Matemática, o aluno Diógenes, de 7 anos, fazia com empenho a tarefa de ligar os números para descobrir a figura que apareceria daquele monte de traços. “Olha, é uma peteca!”, exclamou, animado. À repórter, Juliana, de 6 anos, explicou que adora matemática porque seu pai é professor de matemática na USP e sempre a ajuda nas dificuldades de fazer contas e raciocinar com os números. Ela conta que no Clube da Matemática aprendeu o que é número par e número ímpar. “Sabe como você descobre qual é o número par e qual é o ímpar? Se você tiver duas ovelhinhas, é par, se tiver três é ímpar, porque uma sempre fica sem par”, diz. Rapidamente a amiguinha Nicoli, de 6 anos, interfere na conversa: “Meu pai me ensina e eu fico cada vez mais sabida”.

Já Nicolas, de 8 anos, compenetrado, vai medindo os cômodos de uma planta baixa de uma casa, usando pequenos blocos de madeira de vários tamanhos. E fala, todo alegre: “É bom aprender matemática brincando”. Helena, de 8 anos, também gosta de brincar de aprender matemática: “A gente entende mais fácil esse monte de contas e números”.

Cidadania – A professora Maria Julia, da Associação de Pais e Mestres, afirma que o Projeto Cidadão USP tem a intenção de desenvolver nos jovens a noção de cidadania. “Participando dessas atividades extracurriculares, os alunos passam a enxergar a Cidade Universitária com um olhar mais amplo, além das cercas da Escola de Aplicação, e se informam do quanto eles podem participar, cuidar, valorizar e zelar pelo espaço em que circulam todos os dias.”

Para ela, a escola não é um espaço estático, em que o aluno só recebe conteúdos, mas sim dinâmico. “O conhecimento não é só da escola, mas vem de todos os cantos, principalmente de fora de suas grades. Precisamos valorizar e ver o que acontece ao nosso redor.”

Para uma das coordenadoras pedagógicas da Escola de Aplicação, Luciana Sedano, a iniciativa dos pais é muito valiosa. “É importante desbravar e ir atrás dos institutos, procurar as atividades, pedir vagas. E, para crianças que estão inseridas numa universidade que pulsa saber e pesquisa, é a oportunidade de compartilhar, desde cedo, o que a USP produz em termos de conhecimento.”

Foto crédito: Cecília BastosSegundo Luciana, o fato de os alunos não terem ainda aprendido em sala de aula os conteúdos apresentados nos clubes não significa um problema. “O importante no momento é fazer ciência. Se o projeto não estiver exatamente vinculado com o que estivermos trabalhando em sala de aula, isso não tira a qualidade dele. É uma parceria que pode ser fortalecida e que acrescenta cada vez mais conhecimentos.”

Já para o diretor da Escola de Aplicação, professor Vanderlei Pinheiro Bispo, esse projeto adquire uma importância maior pelo fato de ter sido proposto pelos pais, partindo das necessidades que as famílias percebem na educação de seus filhos. “Os próprios pais, como trabalham na Universidade e conhecem as unidades e os seus trabalhos, iniciaram o contato e a procura pela atividade que poderiam oferecer para a escola. O fato de ter surgido das próprias famílias, a partir dessa análise da proposta pedagógica da escola, do trabalho que a escola realiza, dá uma qualidade maior ainda para esse projeto.”

Para o diretor, o Projeto Cidadão USP é uma tentativa de colocar as crianças desde cedo em contato com os diferentes setores da pesquisa científica e do conhecimento, ampliando os espaços de aprendizagem. “Para a criança, seja uma visita ao Instituto Oceanográfico ou ao Instituto de Física, trata-se de um conhecimento todo relacionado. Assim, contribuímos para acabar com as várias ‘caixas de saber fragmentado', propondo uma unidade entre elas.” Sem contar que os alunos que participam hoje do primeiro ciclo, acrescenta o diretor, quando estiverem no ensino médio já estarão mais bem informados e preparados para escolher a profissão que quiserem seguir. “Esse contato mais precoce com o conhecimento acadêmico possibilita que a criança se encontre e desperta nela maior interesse pelos diferentes ramos da ciência.” Pais e mães da Escola de Aplicação interessados em participar do Projeto Cidadão USP podem comparecer às reuniões da Associação de Pais e Mestres, às quintas-feiras, 13 horas, na escola.

 
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