Ferramenta estratégica para o desenvolvimento de um país, o ensino superior passa por reformas profundas no mundo todo. A inclusão social, a cobertura mais abrangente do ensino e a eficiência nas atividades de pesquisa são questões em pauta na nova agenda da educação. Esses temas serão tratados num seminário internacional que reunirá, no Anfiteatro da Fapesp, nesta segunda e terça-feira, dias 3 e 4, alguns dos mais conhecidos especialistas em políticas públicas da área. Com palestras a partir das 9h30, o encontro mostrará experiências de países que passaram pela massificação do ensino e buscaram soluções criativas para manter a excelência.

“Precisamos saber o que outros países enfrentaram e as soluções encontradas inclusive para problemas muito semelhantes aos nossos. Temos de alargar nossa perspectiva e enxergar questões que incomodam e que são a pura realidade no Brasil, entre elas o baixo nível de conhecimento do alunado que chega à universidade”, diz Eunice Ribeiro Durham, Professora Emérita da USP e pesquisadora permanente do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (Nupps) da USP.


Responsável pela conferência inaugural do evento, Eunice defende a diversificação conceitual do modelo de ensino superior prevalente no País. “A estrutura do ensino superior no Brasil segue um modelo concebido na reforma de 1968. Se a universidade é o ideal de todo brasileiro, é porque aqui faltam opções de formação. Precisamos perceber que a universidade, concebida tal como a conhecemos, não é a solução de todos os nossos problemas. O ensino superior pode ter escolas de formação profissional e escolas mais generalistas, e isso também pode ser muito bom. Felizmente o Brasil começa a despertar para novos formatos, como os que vêm sendo estruturados na Universidade Federal da Bahia e na Universidade do ABC, por exemplo”, afirma Eunice.

O seminário mostrará a expansão e consolidação de formatos inovadores no ensino superior, estruturados nos mais diversos lugares, como a região de Bologna, na Itália, Pequim, na China, e no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos.

“A universidade historicamente sempre atendeu a uma minoria, é tradicionalmente elitista e sempre funcionou com uma lógica colegiada. Quando se quer sair desse patamar é preciso necessariamente modificar a sua estrutura. Não se pode ampliar drasticamente a cobertura num sistema construído para atender a uma minoria”, defende a professora Elizabeth Balbachevsky, pesquisadora do Nupps e uma das organizadoras do seminário, ao lado do professor José Augusto Guilhon Albuquerque, do Núcleo de Relações Internacionais (Nupri) da USP.

Guilhon, Eunice e Elizabeth compõem o conselho científico do seminário, organizado em conjunto pela Assembléia Legislativa, Nupps e Nupri. O presidente da Fapesp, Celso Lafer, e os secretários estaduais do Ensino Superior, Carlos Vogt, e do Desenvolvimento, Alberto Goldman, além do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Vaz de Lima, participam da cerimônia de abertura.

Foto crédito: Francisco Emolo
Eunice Durham: “Precisamos perceber que a Universidade, tal como a conhecemos, não é a solução de todos os nossos problemas. O ensino superior pode ter escolas de formação profissional e escolas mais generalistas, e isso também pode ser muito bom”

Califórnia – A professora Eunice Durham lembra que os Estados Unidos possuem um problema muito semelhante ao brasileiro em relação à educação no que diz respeito à etnicidade e conseguiu sanar questões relativas à inclusão, cobertura e deficiências do ensino médio. Segundo a professora, o sistema público de ensino superior na Califórnia se compõe por uma grande e renomada universidade, a Universidade da Califórnia, que possui campi em Berkeley e Los Angeles, além da Universidade Estadual da Califórnia, mais focada em mestrado e formação profissional. Além disso, existem os colleges, pequenas instituições locais que absorvem mais de 70% do alunado, os quais oferecem formação superior generalista de dois anos, com possibilidades de formação especializada com mais dois anos de estudo e com sistema de transferência para as universidades públicas do Estado.

“Trata-se de um sistema bastante diversificado e que funciona muito bem num país heterogêneo como é o nosso. Precisamos considerar que a escola de ensino profissional pode ser um sistema muito criativo e inovador”, diz. Segundo a professora, outra idéia corrente para a educação superior, especialmente na Europa, são as escolas generalistas, em que o aluno entra para uma grande área do conhecimento e depois escolhe uma especialidade. “Precisamos pensar um formato de ensino que considere um sistema capaz de remediar diferenças de formação e étnicas. Como é possível um aluno mal preparado querer freqüentar a universidade? Basta ver os resultados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) para verificar que a grande maioria dos estudantes tem dificuldades com textos e escrita, não conhece operações elementares de aritmética e possui uma visão fragmentada de geografia e história.”

Um balanço publicado recentemente pelo Saeb, compreendendo provas aplicadas a alunos de escolas públicas e privadas do País desde 1995, mostrou uma queda significativa no desempenho dos alunos. De 1995 a 2005, a média das notas de português dos alunos do terceiro ano do ensino médio caiu de 290 para 257. Houve queda também em outras séries e disciplinas. A tabela pode ser vista aqui.

Transformações – Para a professora Elizabeth, as transformações necessárias ao ensino superior incorporam as tensões de dois vetores. De um lado, a ampliação do acesso e, de outro, a maior eficiência na atividade de pesquisa. “Ao incorporar uma massa mais heterogênea de jovens, é preciso contar com o fato de essa massa ser formada por estudantes com formações mais precárias e com menores condições de consolidar uma carreira acadêmica. Isso está diretamente relacionado à excelência do ensino superior e constitui um dos desafios para as políticas públicas voltadas à educação”, afirma.

No sentido de sanar essa problemática, alguns países têm empreendido mudanças na estrutura do ensino superior e a professora cita os exemplos de Pequim e da região de Bologna como exemplares.

A professora Wan-Hua, da Universidade de Pequim, apresentará as mudanças na política educacional na China. Pedro Teixeira, da Universidade do Porto, em Portugal, discutirá a polaridade ensino público versus privado. Carlos Henrique de Brito Cruz, ex-reitor da Unicamp e membro do conselho superior da Fapesp, ao lado de outros debatedores, discorrerá sobre o tema “Master Plan do ensino da Califórnia”. A “Economia do ensino público superior paulista” será o tema abordado pelos professores Hélio Nogueira da Cruz e Carlos Antônio Luque, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP (leia abaixo a programação completa do seminário).

O Simpósio Internacional Ensino superior numa era de globalização será realizado nos dias 3 e 4 no Anfiteatro da Fapesp (rua Pio XI, 1.500, 4 o andar). Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 3886-6280 e 3886-6282.

 

O ensino superior em debate

Esta é a programação do seminário Ensino superior numa era de globalização: comparando políticas nacionais de inclusão social e financiamento, que se realiza nos dias 3 e 4 na Fapesp.

 

Segunda-feira, dia 3

9 horas. Cerimônia de abertura. Vaz de Lima, presidente da Assembléia Legislativa, Alberto Goldman, vice-governador e secretário estadual de Desenvolvimento, Carlos Vogt, secretário estadual do Ensino Superior, e Celso Lafer, presidente da Fapesp.

9h30. Conferência inaugural: Eunice Ribeiro Durham, da USP.

9H50. Mesa 1: “Globalization and Educational Policy Change in China”. Wan-Hua, da Universidade de Pequim. Comentários: Simon Schwartzman e Elizabeth Balbachevsky.

11h15. Mesa 2: “Ensino Superior Público e Privado: Competição ou Complementaridade?”. Pedro Teixeira, Universidade do Porto, Portugal. Comentários: José Augusto Guilhon Albuquerque e Hélio Nogueira da Cruz, da USP.

14h30. Mesa 3: “Ensino Superior e Pesquisa no Brasil: Conseqüências do Modelo Institucional Prevalente”. Elizabeth Balbachevsky, da USP. Comentários: Pedro Teixeira e Tereza Kerbauy, da Unesp.

15h55. Mesa 4: “O Master Plan do Ensino Superior da Califórnia”. Carlos Henrique deBrito Cruz, da Universidade Estadual de Campinas. Comentários: Wan-Hua e Clarissa Baeta Neves, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

17h20. Mesa 5: “A Economia do Ensino Público Superior Paulista”. Hélio Nogueira da Cruz e Carlos Luque, da USP. Comentários: Pedro Teixeira e Renato H. L. Pedrosa, da Unicamp.

18h30. Coquetel de boas-vindas.

 

Terça-feira, dia 4

9h30. Mesa 6: “Acesso ao Ensino Superior em São Paulo e no Brasil: Índices e Comparações Internacionais”. Renato H. L. Pedrosa, da Unicamp. Comentários: Clarissa Baeta Neves e Cibele Yahn de Andrade, da Unicamp.

10h55. Mesa 7: “Acesso ao Ensino Superior em São Paulo: Uma Visão a Partir do Ensino Médio”. Maria Helena Guimarães de Castro, secretária de Estado da Educação. Comentários: Renato H. L. Pedrosa e José Augusto Guilhon Albuquerque.

14 horas. Mesa 8: “Acesso ao Ensino Superior no Estado de São Paulo: Desafios e Políticas”. Representante da Secretaria de Estado do Ensino Superior. Comentários: Eunice Ribeiro Durham e Cibele Yahn de Andrade.

15h25: Mesa 9: “Ensino Superior e Sistema de Inovação”. Carlos Américo Pacheco, secretário adjunto da Secretaria de Estado do Desenvolvimento. Comentários: Carlos Henrique de Brito Cruz e Elizabeth Balbachevsky

16h50: Mesa 10: “Dilemas do Acesso ao Ensino Superior na América Latina”. Jorge Balan. Comentários: Simon Schwartzman

18h15. Encerramento.

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]