Foto crédito: Cecília Bastos

Mais de 4.500 alunos de graduação em ciências humanas, engenharia e exatas, biológicas e agropecuárias de diversas universidades do País mostraram seus trabalhos de pesquisa e trocaram experiências no 15º Simpósio de Iniciação Científica da USP (Siicusp), um dos principais eventos de produção científica universitária do Brasil. Dividido por área de conhecimento, o evento ocorreu em quatro campi da Universidade, entre os dias 21 e 29 de novembro. De 21 a 23, alunos da área de humanidades mostraram suas pesquisas na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), na USP Leste. Nos dias 22 e 23 foi a vez da área de ciências biológicas, que teve trabalhos expostos no campus de Ribeirão Preto (leia o texto abaixo). O campus de São Carlos sediou a mostra de engenharia e exatas, nos dias 26 e 28, e Pirassununga recebeu, nos dias 28 e 29, estudantes da área de agropecuária.

“O simpósio reúne anualmente milhares de alunos que querem apresentar seus dados em um ambiente de ampla discussão das mais diversas áreas de ciências”, comemora a professora Maria Angélica Miglino, presidente da Comissão Coordenadora do

Programa de Iniciação Científica da USP. “Os alunos querem a opinião dos examinadores e dos debatedores, que avaliam todos os trabalhos apresentados. Suas críticas podem ser incorporadas ao trabalho, aumentando sua qualidade.”

Além da oportunidade de exibir suas pesquisas e trocar conhecimento, os alunos participam de uma seleção que levará os dez melhores trabalhos para um intercâmbio acadêmico com a Universidade de Nova Jersey e a Universidade de Ohio, ambas nos Estados Unidos. Lá, os alunos representam a USP em eventos de iniciação científica, nos quais apresentam seus trabalhos a estudantes e professores. “É uma oportunidade de divulgar o nome da USP no exterior. Mas nós queremos que, além de apresentar o trabalho, esses alunos possam passar duas ou três semanas no laboratório das universidades na sua área de pesquisa”, propõe a professora.

As universidades americanas, por sua vez, enviaram ao Siicusp, este ano, 17 alunos, que apresentaram seus trabalhos de pesquisa científica durante o simpósio. A USP recebeu também professores da Universidade do Porto, de Portugal, e da Universidade de Notre Dame, dos Estados Unidos. Eles vieram conhecer o evento e já demonstram interesse no intercâmbio de alunos. “É uma oportunidade importante para levar nosso trabalho para além da Universidade, de mostrar nossa pesquisa para a comunidade científica”, avalia Maurício Reis, um dos alunos participantes do simpósio.

Foto crédito: Marcelo Alonso
O Simpósio de Iniciação Científica da USP: milhares de jovens cientistas apresentam suas pesquisas, com entusiasmo e interesse, num evento que contribui de forma marcante para a sua formação

Vargas e a história – Na EACH, centenas de trabalhos das mais diversas áreas de humanidades foram apresentados em 188 mesas. Entre eles estava a pesquisa do aluno de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Marcus Vinicius Salinas. Com o título “Perguntas e respostas nos livros didáticos de história (1937-1945)”, sua pesquisa avalia as mudanças na educação brasileira no conturbado período do Estado Novo.

“Mais do que um regime político, essa época inaugura uma nova proposta de educação, baseada em um sentimento altamente nacionalista. Nas décadas de 20, 30 e 40, há uma elite cultural que começa a refletir essa consciência nacional. Eles vêem na educação uma ferramenta para superar a crise e as turbulências sociais que marcaram a época”, explica Salinas. Ele usa conceitos abordados em livros de história que retratavam o momento político e social da época e influenciavam o pensamento de crianças e adolescentes sobre o País.

Conhecedor desse poder, o governo criou, em 1938, a Comissão do Livro Didático, que escolhia qual material chegaria às salas de aulas. Os livros se tornaram um veículo de exaltação da política vigente no País e das crenças de seus representantes. “Os textos apresentavam, por exemplo, os afrodescendentes agregados apenas como um adendo, um tempero ao caldeamento que forma a sociedade brasileira. Apesar de pregar a independência e a reflexão, as apostilas de história não davam autonomia para que os alunos respondessem. Todas as perguntas remetiam ao conteúdo do livro, um discurso autoritário, uma perspectiva já normatizada pelo Estado”, aponta Salinas.

O papel do afrodescendente nas páginas dos livros didáticos é um tema que ainda suscita muitas discussões e não agrada à maioria dos historiadores. Para trazer essa questão de volta à discussão, o aluno Maurício Barboza dos Reis, do curso de História da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Assis, apresentou sua proposta de pesquisa. Intitulada “Africanos e afrodescendentes nos livros didáticos: políticas públicas e novos sujeitos”, pretende abordar as ações do governo para incluir o papel do negro africano na grade de ensino de história.

Foto crédito: João NevesEm 2003, foi promulgada a Lei 10.639, que obriga as escolas a inserir História da África e dos Afrodescendentes como matéria curricular. Apesar de bem-intencionada, a lei não traz diretrizes sobre como isso deve ser feito e nem ao menos quais elementos da história do continente devem ser ensinados, o que fez com que a tentativa ficasse apenas na teoria, diz Reis. “O negro é visto como um objeto de escravidão, até a abolição da escravatura. Depois, ele some completamente da história brasileira e mundial ensinada na rede pública nacional.”

Por experiência própria, ele sabe que esse é um problema grave e não terá solução a curto prazo. Ele é aluno de um dos pouquíssimos cursos de História que incluem na grade curricular obrigatória a África. A FFLCH, por exemplo, conta apenas com disciplinas optativas. “Como o governo poderá exigir que essa matéria entre na grade curricular do ensino básico se nem ao menos estamos formando um número suficiente de profissionais aptos a lecionar sobre o assunto?”, ele questiona. “Até mesmo a bibliografia do tema disponível no País é pequena e pouco abrangente.”

Energia – Com o título “Aplicação do mecanismo de desenvolvimento limpo no Brasil: O caso do Projeto de Cogeração com Bagaço Alta Mogiana”, a pesquisa da aluna Carolina Gamba, do curso de Geografia da FFLCH, utiliza a experiência prática de uma usina em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, para avaliar como as empresas sucroalcooleiras estão se adaptando às novas exigências ambientais.

O projeto da Usina Alta Mogiana usa o bagaço de cana resultante da produção do etanol para gerar bioeletricidade. A energia é vendida para a rede elétrica nacional, que a redistribui para cidades com alto consumo de energia. “Hoje, a usina consegue um ganho de R$ 500 mil só com o bagaço de cana”, conta Carolina.

Apesar dos bons números, a atividade de cogeração ainda não é unanimidade entre as usinas brasileiras. Como elas devem custear a infra-estrutura não só para geração, mas para transmissão da bioeletricidade, somente empresas de grande porte conseguem aplicar o mecanismo de maneira lucrativa. “A usina pensa prioritariamente no lucro da venda dessa energia. A redução de emissão de poluentes ainda é apenas uma conseqüência positiva da atividade”, critica Carolina.

O mecanismo de desenvolvimento limpo ainda é uma contribuição tímida diante dos altos índices de emissão mundiais, mas, para Carolina, indica um caminho de conscientização pelo qual as empresas devem seguir com a comprovação da influência do efeito estufa sobre o aquecimento global.

 

Em Ribeirão, qualidade é cada vez maior

O universo da pesquisa científica na área biológica reuniu, em Ribeirão Preto, mais de 1,5 mil jovens cientistas, incluindo aí nada menos que 250 estudantes que vieram de outras universidades do Brasil e do exterior. Eles foram atraídos pela 15ª edição do Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (Siicusp), que ocorreu nos dias 22 e 23 de novembro.

Trata-se de uma oportunidade para apresentar seus trabalhos. E o resultado foi surpreendente. Segundo a coordenadora do evento, professora Maria Lucia Zanetti , da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, a qualidade dos trabalhos está cada vez melhor e os alunos estão ficando mais preparados, tanto para a pesquisa quanto para a apresentação. “Os alunos mostram um entusiasmo cada vez maior em realizar pesquisas e isso com certeza traz reflexos em sua formação profissional”, afirma a professora. Os cursos da área médica foram responsáveis pela apresentação de mais de 600 trabalhos, com destaque para os jovens pesquisadores da Nutrição, com 96 apresentações.

Este ano houve algo inédito na história do Siicusp, na área de biológicas. O evento contou com quatro palestras, que abordaram assuntos atuais e de diferentes áreas do conhecimento. O professor Marco Antonio Zago , presidente do CNPq, falou sobre “A Importância da Iniciação Científica na Formação de Futuros Pesquisadores”. Duas conferências internacionais também movimentaram o ambiente acadêmico do Siicusp. A professora Lúcia Costigan , do Departamento de Língua Espanhola e Portuguesa da Universidade do Estado de Ohio, Estados Unidos, abordou “Domingos Caldas Barbosa e a Emergência da Cultura Afro-Brasileira em Portugal”. Por sua vez, Jorge Gonçalves, vice-reitor da Universidade do Porto, Portugal, falou sobre “A Universidade do Porto no Centro da Investigação em Ciências da Vida e da Saúde”. E, no encerramento, o professor Sérgio Nunomura , do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), abordou uma questão que não sai de pauta, as “Fontes de Energia Alternativa: biocombustível ”.

E não foram só os trabalhos científicos que movimentaram o simpósio em Ribeirão Preto este ano. Na abertura, que contou com a professora Maria Angélica Miglino , representante da Pró-Reitoria de Pesquisa, houve apresentação de violão com o professor Gustavo Costa, do Departamento de Música de Ribeirão Preto da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

FERRAZ JR., de Ribeirão Preto

 

Artes Cênicas também mostra suas pesquisas

Nesta semana, de 3 a 7 de dezembro, o Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP apresenta a 6 a Mostra de Licenciatura em Artes Cênicas. Intitulado “Som, Imagem e Estranhamento – Experiências pedagógicas do fazer teatral”, o evento traz os trabalhos de conclusão de curso dos futuros professores de teatro.

Durante o último semestre, cada aluno conduziu um trabalho teatral em escolas públicas, casas culturais, bibliotecas e organizações não-governamentais, nos quais os atores eram os próprios membros da comunidade. “São trabalhos feitos diretamente na comunidade com pessoas que têm interesse por teatro, que querem vivenciar essa experiência, mas não necessariamente seguir carreira como ator”, explica a professora Maria Lúcia de Souza Barros, coordenadora do evento.

A idéia é que a população entenda a importância de se fazer teatro como uma atividade lúdica que promove o desenvolvimento social de atores amadores, em sua maioria pessoas carentes que não têm acesso ao mundo cultural da cidade. Trechos desses trabalhos produzidos nas comunidades vão ser encenados durante a mostra, em dois horários, às 10h e às 15 horas, no Departamento de Artes Cênicas. Logo em seguida, os alunos apresentam suas monografias com um relato da experiência vivida durante a realização do projeto, examinando os processos de trabalho desenvolvidos e com uma reflexão sobre a própria pedagogia do teatro.

O evento abre espaço ainda para as encenações de alunos do curso de Bacharelado em Artes Cênicas da ECA. As apresentações ocorrem nos dias 3, 4 e 5, às 17 horas, no dia 7, às 20 horas, e nos dias 8 e 9 (sábado e domingo), às 11h e às 14 horas. Todos os eventos são gratuitos e abertos ao público. A programação completa está disponível aqui.

 
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