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século a taxa de participação dos católicos deixou de cair e manteve-se “estável no primeiro quarto de década, com 73,79% em 2003”. Os evangélicos seguem crescendo, mas agora angariando seu público no segmento dos sem-religião – grupo que caiu de 7,4% para 5,1%.
O texto afirma que os dados demonstram claramente que “a velha pobreza brasileira” (como nas áreas rurais do Nordeste) continua católica, enquanto “a nova pobreza” (periferia das grandes cidades) “estaria migrando para as novas igrejas pentecostais e para os chamados segmentos sem religião”. “Discutir política social sem levar em conta a atuação de entidades religiosas é deixar de fora um elemento fundamental”, aponta o estudo.
Espetáculo – Não só a periferia e os grandes centros constituem o ringue em que o crescimento evangélico e a reação católica travam seus embates. A luta pelos corações e mentes dos fiéis se dá em diversos campos, inclusive no midiático – terreno, como se sabe, pouco propício à santidade. Enquanto a mais conhecida das denominações neopentecostais, a Igreja Universal do Reino de Deus, tem construído um verdadeiro império de comunicação, com a TV Record à frente – “vamos ser líderes na comunicação no Brasil”, diz seu fundador, Edir Macedo (veja abaixo) –, a Igreja Católica também busca alternativas na televisão. Hoje já são quatro as emissoras católicas do País: Rede Vida, TV Século XXI, Rede Canção Nova e TV Aparecida. Seus perfis procuram dar voz às diferentes correntes, das carismáticas às mais ligadas ao engajamento sociopolítico, que formam o rebanho majoritário do cristianismo brasileiro.
Padre Marcelo Rossi (acima) e Estevam Hernandes, da Renascer: luta pelo rebanho cristão
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Artigos de acadêmicos que pesquisam a presença dos grupos religiosos nos meios de comunicação estão no livro Mídia e religião na sociedade do espetáculo, lançado no final de 2007. O volume traz textos apresentados no I Colóquio de Comunicação Eclesial, promovido pela Cátedra Unesco de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp).
“Enquanto as igrejas históricas – catolicismo e protestantismo – usavam os meios de comunicação de massa como instrumentos de sua mensagem, como transportadores de seus conteúdos, as novas religiões nascem fundidas, geneticamente produzidas pela mídia, particularmente a televisão. O que significa que as segundas correspondem ao bios midiático e as primeiras precisam aprender a ser para assim sobreviver”, escreve Christa Berger, docente da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS).
Para ela, do ponto de vista da comunicação, “as religiões integram a sociedade midiática do espetáculo”. Vários são os textos, por sinal, que fazem referência a Guy Debord e seu clássico A sociedade do espetáculo, que já em 1967 dizia que “a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de espetáculos”.
Reencantamento – Professor da Umesp e vice-presidente para a América Latina da Associação Mundial para Comunicação Cristã, Luciano Sathler, por sua vez, cita Peter Burke para dizer que a concentração de poder na mídia no século 20 embaralhou as possíveis linhas divisórias entre informação e entretenimento, inclusive com as influências mútuas entre política, mídia, economia e religião. Já o complicado quadro das concessões de televisão que misturam interesses políticos e religiosos é analisado por Alexandre Brasil Fonseca, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Características do cenário pós-moderno – como vazios de sentido, supervalorização do consumo, um “misticismo shopping center” temperado pelo pensamento mágico – são abordadas em diversos textos do volume. Para vários autores, o tema do reencantamento é fundamental. Como define o teólogo Jung Mo Sung, professor de Ciências da Religião da Umesp, citado num dos artigos, trata-se de empreender uma busca por encontrar nas coisas, atividades e pessoas valores que transcendam o econômico “e revelem um sentido de vida que seja muito mais humano e profundo que simplesmente acumular riquezas e ostentar bens de consumo”.
Karla Pereira Patriota, doutoranda em Sociologia na Universidade Federal de Pernambuco, alerta que “não podemos esquecer que na pós-modernidade praticamente tudo passa pela mídia”. Ela é receptora dos discursos da sociedade e deles também se alimenta. Portanto, diz a pesquisadora, se os grupos religiosos estão alcançando sucesso nessa seara é porque, segundo a lógica da propaganda e do mercado, “têm o que o público precisa”. E como lembra Angela Maria Lucas Quintiliano, mestranda da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, citando Durkheim: “Não existe religião alguma que seja falsa, todas elas respondem de formas diferentes a condições dadas de existência.”
Mídia e religião na sociedade do espetáculo, de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi e Ana Claudia Braun Endo (org.). Editora Metodista, 302 págs., R$ 38,00.
“Record vai ser a número um”, diz Edir Macedo
Um dos textos do volume aborda o sucesso da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Para Eduardo Refkalefsky e Cyntia Lima, da Escola de Comunicação da UFRJ, Edir Macedo “criou e desenvolveu uma organização que precisa ser estudada para que empresas, consultores, teóricos e acadêmicos aprendam melhor a realidade da comunicação, marketing e administração na sociedade e economia contemporâneas”.
Para os autores, o diferencial da igreja é o fato de ter escolhido um inimigo claro: “A Iurd posiciona-se contra e a partir da doutrina umbandista: reconhece o ‘poder' de suas entidades, porém afirma que são ‘diabólicas', precisando, por isso, ser combatidas. A Igreja Universal é exatamente aquela que se encarregaria de combater o ‘mal demoníaco' da umbanda”.
Com isso, diz o texto, a Iurd aceita a existência do mundo mágico que integra a matriz religiosa brasileira “e não se opõe às crenças da maioria da população do País, como havia feito o protestantismo tradicional”.
Os autores também afirmam que Macedo conhece profundamente a umbanda porque teria sido praticante de seus ritos antes de ser pastor. Na biografia O bispo (Editora Larousse), lançada no ano passado, o líder limita-se a dizer que freqüentou centros espíritas na adolescência.
Nascido em 1945, Edir Macedo entrou na Igreja Nova Vida aos 17 anos e teria se convertido realmente aos 19. Em julho de 1977, realizou o primeiro culto em sua Igreja da Bênção, mais tarde Universal.
O crescimento da Iurd foi avassalador: hoje ela está presente em dezenas de países. Em 1989, numa negociação ainda envolta em questionamentos, a Universal adquiriu a TV Record. Passou então a ser alvo de freqüentes reportagens atacando seus métodos de arrecadação de doações, veiculadas especialmente na TV Globo.
O ápice da “guerra santa” com a Globo se deu em 1995, com a exploração do episódio do “chute na santa” (“nosso maior erro”: “atrasou nosso trabalho em dez anos”, reconhece Macedo no livro) e a exibição da minissérie “Decadência”, na qual um pastor inescrupuloso, interpretado por Edson Celulari, chegou a dizer frases inteiras retiradas de uma entrevista que o bispo havia concedido à revista Veja anos antes.
Em relação a outras igrejas pentecostais e neopentecostais, Edir Macedo opina em O bispo : “Eu vejo grandes deficiências em muitas denominações. A maior delas é a exploração da fé emotiva. Abusa-se o tempo todo da emoção em detrimento da fé inteligente”.
E, sobre o futuro de seu grupo na mídia, é taxativo: “Vamos ser líderes na comunicação no Brasil. A Record será a número um. Iremos trabalhar o tempo que for necessário, mas vamos chegar lá. Não tem volta”.
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