Após receber da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), nos últimos anos, os prêmios de Melhor Programação Musical, Melhor Programação de Cultura Geral e Melhor Programa de Variedades e vencer, com o programa “Clip Atualidades”, o 3º Concurso Internacional de Programas de Rádio da Rádio Cubana, a Rádio USP FM (93,7 MHz) poderia

se dar ao luxo de permanecer a mesma: as mesmas músicas, os mesmos shows e os mesmos noticiários. Entretanto, a diretoria da emissora vem instituindo uma série de mudanças que vão da aparelhagem ao noticiário da manhã.

“A rádio está passando por modificações da grade musical com o objetivo de alcançar os jovens”, afirma o diretor da Rádio USP, Celso Santos Filho. Até agora, cerca de 75% das músicas tocadas na rádio pertencem ao gênero MPB, de compositores e cantores como Chico Buarque, Tom Jobim, Vinicius de Morais e Elis Regina, entre outros. Com a

inauguração da nova programação, em abril, esses títulos serão mantidos, mas com menor freqüência. A emissora planeja introduzir músicas internacionais e alternativas em programas como “Madrugada USP” e “Nonstop Music”, criados “para impactar”, e apresentar rock dos anos 60 aos 90 em “Johnny B. Rock”, além de mostrar canções de jazz e blues em “Clube do Jazz” e “Blues Power”.

Com cerca de 700 músicas, além das já tocadas, a nova programação procurará dar espaço para artistas mais recentes no cenário musical brasileiro, como Adriana Calcanhoto, Fernanda Porto, Ana Carolina, Ira, Cidade Negra, Cássia Eller, Carlinhos Brown e Capital Inicial. No tocante ao jazz e blues, a rádio incluirá Charlie Parker, Miles Davis, Nat King Cole, Billie Holiday, Quincy Jones e John Coltrane, entre outros. O projeto estipula que a duração dos noticiários seja ampliada e que haja um debatedor convidado. “Ninguém quer aquele ‘você ouviu e vai ouvir' que caracteriza as emissoras antigas.” Em parceria com o Ibope, a Rádio USP constatou que a audiência é de 4.200 pessoas por hora, das cerca de 30 mil que circulam na Cidade Universitária no mesmo período.

Jornalismo – Fato que chamou a atenção para a mudança foi a chegada ao país de um ex-aluno da Escola Politécnica da USP, hoje representante técnico da Rádio França no Brasil. Ao desembarcar em solo brasileiro, ele sintonizou a Rádio USP e se deparou com as mesmas músicas de seu tempo de estudante. Ao relatar sua feliz surpresa à equipe da emissora, o processo de mudanças, que já estava iniciado, foi incrementado e acelerado. Segundo Santos, agora a rádio enfatiza a programação jornalística. “Hoje damos mais cobertura ao que acontece na USP.” Os noticiários também informam e comentam o que ocorre fora dos portões da Universidade. “Queremos atender às obrigações de uma rádio, como prestar serviços de utilidade pública, informar e crescer culturalmente.”

Foto crédito: Cecília Bastos
Celso Santos: meta é alcançar jovens

As alterações, tanto de nível técnico quanto na grade musical, procuram angariar apoio cultural e tornar a Rádio USP mais competitiva, afirma o diretor. O equipamento de transmissão não permite que a emissora alcance toda a cidade de São Paulo, o que, para Santos, não corresponde ao perfil de uma emissora educativa com a qualidade universitária do “nível USP” e não permite competir com Eldorado, Antena 1 ou Alpha, suas “concorrentes diretas” no mercado de rádios segmentadas. Como trabalha apenas com financiamento público, ao contrário das três anteriores, o apoio cultural é necessário para custear a produção.

A Rádio USP, diz Santos, tem um “compromisso com o conhecimento”, mas há também a necessidade de se auto-sustentar sem o patrocínio de instituições privadas. Isso envolve, por exemplo, reforma de equipamentos, transmissores e compra de “casting musical”. A emissora, integrada no processo digital, pretende contar, futuramente, com “quatro canais no digital: um analógico-digital e três digitais”. Isso vale também para as outras duas emissoras que, com a Rádio USP FM de São Paulo, formam a Rede USP de Rádio: a Rádio USP FM de São Carlos e a Rádio USP FM de Ribeirão Preto.

O diretor explica que a programação musical da rádio estava muito focada no “tradicional”. Apesar de não haver nenhuma reclamação expressiva, decidiu-se renovar a grade de músicas “agregando valores”. Ele pede que o público adepto de MPB não se alarme, pois programas como “Memória” e “Empório”, apresentados por Milton Parron, serão mantidos.

Santos justifica a qualidade da emissora através de seu conteúdo. “O programa sempre tem que ter conteúdo”, diz, citando uma das vantagens do rádio em relação ao iPod, que disponibiliza uma grande oferta de músicas. A principal diferença entre um iPod e uma rádio é que esta oferece informação de qualidade, ele destaca. Um locutor pode contar o processo de gravação do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, oitavo disco dos Beatles, curiosidades da vida de Cartola e dizer que a discoteca foi a precursora da ideologia da geração saúde. “Quase ninguém sabe disso”, diz Santos. Para o diretor, é importante dar a informação e seu contexto. Assim é possível atrair o jovem da comunidade uspiana e outras pessoas que estejam cansadas da programação tradicional.

Foto crédito: Cecília Bastos
A redação da Rádio USP: mais notícias sobre o que acontece na Universidade

Não bastassem os empecilhos trazidos pela inovação tecnológica, segundo Santos, uma pesquisa norte-americana comprova que “ninguém ouve mais que 20 minutos de rádio por dia”. Trata-se do efeito zapping, conhecido dos espectadores de televisão: a pessoa, com o controle remoto em mãos, troca de canal incessantemente. O diretor afirma que o mesmo tem acontecido com as rádios e por isso a programação precisa “chamar a atenção”, ter “rotatividade”.

Todas as mudanças que estão sendo feitas têm caráter experimental. Santos explica que “essa experimentação é importantíssima, mas sempre baseada em pesquisa, em audiência, em dados e fatos reais”. A rádio está resgatando idéias do início de sua história, quando tudo era novidade e o objetivo era “transmitir o que era novo”. A emissora é responsável pelo lançamento de artistas como Chico César e da banda Titãs, movimento que espera retomar. Característica de uma instituição pública que se pauta pela “pesquisa, saber e educação”, o diretor enfatiza que “é difícil, às vezes, você criar o novo, mas nunca existe o impossível de criar o novo”.

A programação semanal da Rádio USP FM (93,7 MHz) está disponível no endereço eletrônico www.usp.br/radiousp.

 
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