Os dentes podem fornecer informações-chave para a compreensão do autismo e das fissuras labiopalatinas. Pesquisa desenvolvida no Instituto de Biociências da USP analisa células-tronco dos dentes de crianças autistas e fissuradas para tentar verificar os caminhos genéticos que levam à formação dos males. Os estudos, iniciados em março

Foto crédito: Ernani Coimbra

do ano passado, são pioneiros em escala mundial e contam com a participação de voluntários para que sejam impulsionados.

A base da pesquisa é a análise do RNA das células-tronco extraídas dos dentes. As células-tronco são aquelas que, por um processo denominado diferenciação celular, podem dar origem a diferentes tecidos do corpo humano. Na formação de um embrião, são responsáveis pela constituição dos tecidos que darão forma ao corpo.

É por isso que o foco das pesquisas está justamente nesse processo. No caso das

fissuras labiopalatinas, sabe-se que o mal se origina justamente na fase embrionária do ser, mas ainda não se conhece com precisão onde e como a má-formação tem início. As pesquisas verificarão o comportamento das células-tronco e suas trocas de RNA, para, a partir daí, tentar descobrir em que situação a má-formação aparece.

Já para o autismo os procedimentos se concentrarão na formação dos tecidos neuronais, onde, espera-se, começam as más-formações que terão como conseqüência a manifestação da doença. Lembre-se que tanto o autismo quanto as fissuras labiopalatinas são males de origem genética e ambiental, ou seja, a combinação gênica não é o único fator que determina o aparecimento das doenças. Mas sua compreensão teria implicações significativas para os tratamentos desenvolvidos pela ciência.

Processo natural – As células-tronco são encontradas em diferentes partes do corpo humano, como fígado, medula óssea e líquido amniótico. Então, por que a pesquisa do Instituto de Biociências tem como ponto de partida as células dos dentes? “Porque isso torna o processo menos invasivo. Trocar a dentição é algo que acontece com todas as crianças, é um procedimento natural. E os dentes de leite são fontes ótimas de células-tronco”, explica a professora Maria Rita dos Santos e Passos Bueno, coordenadora do projeto.

Outra justificativa para o uso dos dentes de leite está na idade dos pacientes analisados. As células-tronco se encontram com maior abundância no cordão umbilical, e, para as pesquisas, seria até mais fácil obtê-las a partir dali. Mas a natureza das doenças analisadas explica a espera para a idade da troca natural da dentição, que ocorre, em média, entre os 5 e 10 anos.

O autismo é uma doença de caráter essencialmente psicológico. “Não há, no autismo, nenhuma manifestação física”, explica a mestranda Karina Griesi Oliveira. Não se pode, portanto, diagnosticar o autismo em um recém-nascido. As lesões labiopalatinas se manifestam de maneira visível, mas é preciso um diagnóstico adequado para que se saiba corretamente a que síndrome estão associadas.

Com a posse dos dentes, os pesquisadores submetem os materiais à fase de cultura – quando estimulam as células a um desenvolvimento similar ao que ocorreria na natureza. E a observação do desenvolvimento é que dará as chaves para o andamento da pesquisa.

Contato – A equipe do Instituto de Biociências que trabalha no projeto conta com a doação de dentes de crianças com autismo e fissuras labiopalatinas. Pais ou responsáveis dos pequenos devem entrar em contato com os pesquisadores para receberem as instruções da coleta. Além de contribuir com o material, as crianças receberão consultas genéticas. O telefone é (11) 3091-9910 . Pais de pacientes com autismo podem contatar a pesquisadora Daniela Bueno, no e-mail dbueno@usp.br. Para os pacientes com fissuras labiopalatinas, o contato é a pesquisadora Karina Griesi Oliveira, no karina.oliveira@usp.br.

 
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