No início a mostra se chamava Novíssimos e reunia apenas diretores, a maioria deles formandos do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Logo, atores e alunos de outras escolas começaram a participar da programação, até que, em 2007, instituiu-se a primeira Mostra de Teatro Experimentos do Teatro da USP

(Tusp), com apresentações de trabalhos em processo e pesquisas da pós-graduação. Este ano, o evento busca “dialogar com outras áreas do conhecimento no sentido de refletir a pedagogia teatral”, informa a professora Maria Thais Lima Santos, atual diretora do Tusp.

Em sua segunda edição, com início nesta segunda, o Tusp traz apresentações departamento e da Escola de Arte Dramática (EAD) da USP, do Departamento de Artes Cênicas da Unicamp e da Unesp e ainda da Escola Livre de Teatro (ELT), da Prefeitura Municipal de Santo André. As oito semanas do evento se dividem em Exercícios Cênicos, com trabalhos em fase de conclusão realizados no decorrer dos cursos; Ensaios, aulas abertas que mostram o processo criativo de montagens sob orientação de professores, assim como comunicação de

O exercício cênico Manter em Local Seco e Arejado

pesquisas feitas no âmbito da pós-graduação; Em Processo, que abarca trabalhos realizados principalmente por alunos da graduação; e Diálogos, que reúne um filósofo e um pedagogo em debate sobre os processos de formação teatral.  

Dando início às atividades, a 55ª turma da EAD apresenta nesta quarta, às 20h, o espetáculo KD-EU? ou As Árvores Somos Nozes, que reflete sobre a eterna inquietação do ser humano em relação a sua identidade, onde está e qual o significado da vida. Na quinta, no mesmo horário, um grupo de alunas orientadas por Alice K. encena A Pérola, narrativa sobre o aniversário de uma senhora onde se encontram quatro integrantes da “Sociedade da Idade Secreta”. Ainda nesta semana, na sexta, estudantes da pós-graduação da Unicamp se baseiam em Hamlet, de Shakespeare, para fazer associações com objetos artísticos contemporâneos, esboçando seu processo particular de criação. No sábado, a Sociedade Baderna da EAD parte do mito fáustico, da história popular alemã do século 16, para questionar o ativismo social da atualidade, o significado de engajamento e ação. Serão apresentados ainda o ensaio Tipos Cômicos Circenses, 7 Atos, e as montagens Em Terra que se Tem Pó, de Dois Olhos Faz-se um Só, Manter em Local Seco e Arejado, Vibrações Poéticas da Imagem no Espaço-Tempo e Com os Bolsos Cheios de Pão, entre outros.

Segundo Maria Thais, os objetivos da mostra são “fazer com que as atividades desenvolvidas dentro das escolas de teatro, que normalmente são encerradas pelas mesmas, para um público interno, possam chegar à comunidade”. Como órgão ligado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade, considera que o Tusp “é um espaço de comunicação da universidade com a comunidade” e muito do que se produz no interior do teatro fica restrito ao público universitário, sem que a população possa usufruir de um “investimento da sociedade”. O evento visa a mostrar também pesquisas que as escolas realizam, dando destaque àquelas da pós-graduação.


O mistério de um roubo em A Pérola

A diretora conta que nos dias de hoje há uma grande lacuna entre espectador e cena teatral, por isso é preciso fazer um trabalho educativo com o público. Não basta montar uma peça. O teatro deve fornecer instrumentos de compreensão da linguagem cênica e de formação da platéia. Por esse motivo e para promover maior interatividade entre atores e espectadores, o palco do Tusp é um local “não convencional”, ou seja, não há frontalidade e fixação, o que pode causar certa estranheza a quem está habituado a teatros clássicos. Trata-se de “um teatro que não está dentro das convenções tradicionais”.

Relações com a platéia – A mostra oferece a jovens artistas, professores e pesquisadores a grande oportunidade de levar seus trabalhos ao público, assim como “checar se sua pesquisa reverbera, se comunica, tem algum grau de comunicabilidade ou estabelece relações com a platéia”. Não menos importante é o espaço de troca que se configura no evento, uma vez que “todas as escolas de teatro públicas estarão presentes”. Além disso, o contato com a companhia convidada, no caso, Os Fofos Encenam, também será de grande proveito para os participantes, afirma Maria Thais. “A universidade não é o único local onde se faz pesquisa” e muitas vezes aquilo que a comunidade produz não estabelece conexão com a produção acadêmica. A cia. vai apresentar sua pesquisa realizada no projeto O Ninho, com workshops, palestras e encenações.

Acerca da diversidade de dimensões formativas dos artistas, que promete enriquecer futuros processos criativos, a diretora remete principalmente ao perfil das escolas participantes e à própria história do teatro brasileiro, que “não tem uma tradição teatral que se possa dizer única”. Comenta que, “como o próprio Brasil, ele (o teatro) é formado por um grau de diversidade muito alto, de miscigenação”. Ela explica que cada escola enfoca um aspecto particular da formação: EAD e Unicamp são especializadas no trabalho do ator; Unesp, com o curso de licenciatura, prioriza o desenvolvimento pedagógico; a ELT, como o próprio nome diz, possui um programa livre, estruturado a partir de vários elementos móveis (atuação, direção, dramaturgia, teatro de rua), passíveis de adaptação; e o CAC se divide em cinco habilitações: licenciatura, cenografia, interpretação, teoria e direção, tudo isso dentro do contexto do “artista-pedagogo-pesquisador”, espécie de tríade de formação.


A criação coletiva Vibrações Poéticas da Imagem no Espaço-Tempo

A partir da convivência entre atores, professores, pesquisadores, técnicos e cenógrafos da graduação e pós, a mostra busca “romper com a barreira de teatro de experimentação, pois ele pode chegar a uma relação direta entre as platéias”. Fundamental para a formação dos artistas, promove a separação entre teoria e prática, uma vez que “a formação artística pressupõe sempre um campo teórico e um prático”. Maria Thais finaliza reforçando que o grande trunfo deste evento é “abrir as pesquisas sem uma hierarquia entre elas, mostrando o trânsito que se faz nessa área para produzir arte”. 

A mostra fica em cartaz até 5 de maio, de quarta a segunda, às 20h ou às 21h, no Centro Universitário Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, Consolação). Mais informações pelo tel. 3255-7182. A programação completa pode ser encontrada no site www.usp.br/tusp (atualizada semanalmente). Gratuito.

 
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