Após 18 meses de “gestação”, um inovador programa de incentivo à pesquisa científica dá os primeiros passos rumo à sua efetivação nas escolas públicas de ensino médio do estado de São Paulo. Será assinado até o final deste mês o documento que oficializará o Programa de Pré-Iniciação Científica da USP, permitindo que 360 estudantes do ensino

Foto crédito: Cecília Bastos

médio sejam incorporados a mais de 150 pesquisas em andamento nos sete campi da Universidade – localizados em São Paulo, Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos.

O convênio será assinado pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e pelo Banco Santander. Inicialmente serão 400 bolsas por ano, com validade de 12 meses cada, no valor de R$ 150,00 por mês. Mas já existem negociações avançadas para a participação do CNPq e também da iniciativa privada, o que permitirá, em dois anos, a  

inclusão de até 2 mil alunos da rede pública em projetos de pesquisa da USP, segundo o professor Pedro Primo Bombonato, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, responsável pelo programa.  

Em dezembro passado, a Pró-Reitoria de Pesquisa divulgou em seu site a lista dos projetos selecionados para integrar o Programa de Pré-Iniciação Científica da USP. As mais de 150 pesquisas, realizadas em todos os campi da Universidade, englobam áreas tão diversas quanto ciências biomédicas, jornalismo, física, arte, ecologia, matemática e outras. Das 368 vagas solicitadas para alunos de ensino médio, foram concedidas 360 das 400 bolsas disponíveis. “A idéia é integrar o jovem na rotina de pesquisa e fazer com que ele se torne um agente disseminador do conhecimento científico e também um multiplicador de ações que possam contribuir para a melhoria do processo de aprendizagem na sua escola”, afirma Bombonato.

Coordenadora pedagógica do programa, a professora Myriam Krasilchik, da Faculdade de Educação da USP, afirma que a convivência nos laboratórios da USP e com o ambiente acadêmico “vai intensificar o interesse do jovem pela ciência e aproximar a Universidade da escola pública, ajudando a estreitar os laços da academia com a sociedade”.

Para Bombonato, a sociedade precisa saber como a Universidade funciona e que tipo de conhecimento é produzido dentro dela. “O conhecimento precisa ser dessacralizado. O desenvolvimento humano é o que importa, pois a ciência por ela mesma perde a razão de ser. Ora, a ciência existe para resolver os grandes problemas da humanidade e esse caminho da resolução de problemas começa com a curiosidade.”

Foto crédito: Cecília Bastos
Incentivo: jovens de ensino médio poderão fazer pesquisa na USP

Segundo Bombonato, o programa prevê que o jovem pesquisador participe de atividades de investigação científica estritamente relacionadas ao projeto do qual participa. “Não queremos boys de luxo nem assistentes administrativos. Queremos formar jovens pesquisadores e inocular o vírus da curiosidade no maior número de pessoas”, afirma.

Os alunos contarão com um supervisor do ensino médio e a orientação dos responsáveis pela pesquisa. A seleção dos alunos será feita pela Secretaria da Educação, a partir das inscrições que vigoraram até 10 de março pelo site do órgão. O principal critério para a seleção é o desempenho escolar do aluno. Todos os trabalhos receberão avaliação continuada e serão divulgados bimestralmente em seminários especialmente com essa finalidade, segundo informações do professor responsável pelo programa.

Arte e história – “Preservação de Bens Culturais.” Esse é o título de um dos projetos contemplados com bolsa de pré-iniciação científica da USP. Coordenado pelo professor Paulo Reginaldo Pascholati, do Instituto de Física, a pesquisa envolve graduandos e pós-graduandos num trabalho iniciado há cinco anos com a Pinacoteca do Estado. “Eu solicitei apenas uma bolsa porque quero inicialmente ver como é trabalhar com um jovem do ensino médio. O trabalho está relacionado com técnicas de restauro e conseqüentemente o aluno será treinado para reconhecer alguns aspectos de objetos de arte e de valor histórico”, diz Pascholati. O físico nuclear já realiza voluntariamente seminários e outras atividades para uma escola de ensino médio na periferia de Osasco, na Grande São Paulo. “Acho interessante motivar o quanto antes um adolescente para o estudo.”

A física pode extrair informações valiosas de pigmentos e a partir de luz ultravioleta e de infravermelho, diz o professor. Com esses elementos e diversas técnicas, é possível identificar, restaurar, datar, classificar e autenticar objetos de arte e de interesse histórico, diz. “Esse tipo de pesquisa auxilia inclusive nos estudos de história. Sonho, um dia, poder disponibilizar em São Paulo um local que reúna todos os tipos de técnicas de restauro”, conta.

Foto crédito: divulgaçãoTransplante e prevenção – No mínimo seis jovens pesquisadores de pré-iniciação científica se envolverão em estudos realizados pelo Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas. Esse é o número de estudantes solicitados pelo professor Edimar Alcides Bocchi para quatro pesquisas que atualmente coordena sobre temas como transplantes e prevenção de doenças cardiovasculares. “Integrar o estudante na sua fase mais precoce da formação escolar à missão da Universidade é certamente uma forma de promover o ensino, a pesquisa e a extensão. Mas, além disso, o envolvimento com o tema específico da pesquisa, no caso, transplante e doação de órgãos e práticas preventivas para doenças cardiovasculares, é uma forma de desenvolver e introduzir mais eficazmente esses temas na sociedade”, diz.

Segundo Bocchi, as doenças cardiovasculares são uma endemia no mundo. A insuficiência cardíaca ocupa o primeiro lugar de internações hospitalares nos países desenvolvidos e o terceiro lugar no Brasil. No SUS, gravidez responde pelo primeiro lugar e doenças infecciosas em geral, pelo segundo, afirma. “Essa carga deve aumentar com o envelhecimento da população. Portanto esses jovens cientistas poderão exercer um papel importante influenciando pessoas e ajudando a mudar hábitos. A prevenção é hoje uma questão de saúde pública e de importância econômica para o país”, diz o professor.

 
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