Em sua 13ª edição, o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, fundado e dirigido por Amir Labaki, exibe 137 filmes, sendo 24 títulos de 19 países na competição internacional, e 18 títulos brasileiros inéditos, além de retrospectivas dedicadas ao documentário experimental brasileiro e outra intitulada 10 Documentários

que Mudaram o Mundo. Na abertura, Stranded, do uruguaio Gonzalo Arijón, grande vencedor do Festival de Documentários de Amsterdã de 2007. O filme reconstitui um trágico desastre ocorrido em outubro de 1972 nos Andes, quando um avião das Forças Aéreas Uruguaias, levando um time de rúgbi para amistoso no Chile, caiu na Argentina, matando 16 dos 45 passageiros. Mas apenas 16 dos 29 sobreviventes foram resgatados, depois de uma agonia de 72 dias que os levou inclusive ao consumo de carne humana, causando polêmica diante da mídia sensacionalista.

Dentro dos programas especiais estão filmes de Jonathan Demme e Simon Brook. O primeiro diretor comparece com Jimmy Carter – O Homem de Plains (EUA, 2007), que acompanha o ex-presidente norte-americano, Prêmio Nobel da Paz em 2002, na campanha de lançamento de seu livro Palestine Peace Not Apartheid. Com o filme, o cineasta que também dirigiu os documentários Neil Young: Heart of Gold e

Stranded, de Gonzalo Arijón, abre o festival

Stop Making Sense, recebeu premiação tripla no Festival de Veneza do ano passado. E Geração 68 (França, 2007), em que o diretor Simon Brook – que já havia participado em 2003 do É Tudo Verdade, com Brook por Brook, um Retrato Íntimo, sobre o seu pai e diretor de teatro Peter Brook – mostra toda a agitação daquela época, com as greves estudantis que abalaram a Europa e a América Latina e o engajamento político e social que contaminou as artes em geral e derrubou tabus em relação ao comportamento sexual.

Destaque ainda para Relato de Memória (13 Lembranças do Documentário – Descrição de um Combate), do diretor israelense Dan Geva, que retoma 47 anos depois o filme Description d'um Combat, de Chris Marker, filmado em 1960, que mostrava Israel como uma jovem nação. Nesse filme, Geva refaz o trajeto, explorando novos cenários e criando um diálogo entre ambos os filmes para analisar as expectativas frustradas à luz da guerra permanente. E o curta-metragem Salim Baba, co-produção entre Estados Unidos e Índia, com direção de Tim Sternberg, sobre o homem do título, um senhor apaixonado pelo cinema, filme que é finalista na disputa do Oscar deste ano. 

Dentro da retrospectiva internacional estão filmes do ciclo 10 Documentários que Mudaram o Mundo, realizado em outubro do ano passado em Londres pelo British Film Institute, com curadoria do consagrado crítico Mark Cousins, que selecionou filmes como Tiros em Columbine (EUA/Canadá/Alemanha, 2002), do polêmico Michael Moore, que tem como ponto de partida o massacre de 12 alunos e um professor por dois estudantes, nos Estados Unidos, em 1999; o inglês Morte de Uma Nação: A Conspiração Timorense (1994), de David Munro e John Pilger, vencedora do prêmio do público no Festival de Amsterdã, que faz um levantamento sólido sobre o massacre da população no Timor Leste, ocorrido em 1991, comprovando a cumplicidade criminosa por parte dos governos ocidentais; e A Revolução não vai Passar na TV (2003), produção irlandesa de Kim Bartley e Donnacha O'Brian, filmada no calor da hora, sobre o golpe de Estado, que em 11 de abril de 2002 depôs brevemente o presidente da Venezuela Hugo Chávez.


Jimmy Carter, de Jonathan Demme está em Programas Especiais

Documentário experimental – Na competição brasileira, dos 18 filmes que competem, 17 são lançamentos mundiais, mostrando assim a vitalidade da cinematografia brasileira, como afirma o crítico Amir Labaki. Entre eles, três biografias: João, comentarista esportivo e técnico da seleção brasileira, demitido às vésperas da Copa de 1970; um olhar singular sobre o poeta Waly Salomão; e ainda detalhes sobre a carreira do cantor Simonal. Também, pela primeira vez, o festival exibe a mostra especial Vidas Brasileiras, com seis títulos selecionados que retratam personalidades, como o escritor Antonio Callado, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade e o músico Caetano Veloso. 

Filmes experimentais compõem a retrospectiva brasileira, reunindo 23 obras produzidas entre 1929 e 2007. Entre os destaques, Chapeleiros (1983), de Adrian Cooper, premiado nos festivais de Havana e Oberhausen (eleito para a mostra “Os Melhores Filmes em 40 Anos”), abordando, sem diálogos, o conflito entre tradição e modernidade a partir de uma fábrica de chapéus do início do século 20; Dormente (2005), do diretor Joel Pizzini, que utiliza diferentes texturas e enquadramentos para captar a sensação de passagem e deslocamento a partir de estações de metrô e linhas de trem; Sopro (2004), de Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander, obra que integra o acervo permanente do Museu Guggenheim, de Nova York, em que uma bolha de sabão serve de metáfora sobre a natureza; e São Paulo, Sinfonia e Cacofonia (1994), de Jean-Claude Bernardet, um dos mais importantes teóricos do cinema brasileiro, que documenta a identidade da metrópole através de trechos de filmes de várias épocas.


São Paulo, Sinfonia e Cacofonia, de Jean-Claude Bernardet, que integra a retrospectiva brasileira Documentário Experimental, tema que se repete na conferência internacional deste ano

Há ainda as seções O Estado das Coisas, Foco Latino-Americano e Horizonte, Homenagens para os grandes mestres do cinema mundial Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni e Round Midnight, que apresenta dois trabalhos abordando a trajetória do grupo Joy Division e sua trajetória seminal, interrompida pelo suicídio do vocalista Ian Curtis, aos 23 anos, em 1980; e do escritor beat norte-americano William Burroughs. E completando a programação, a 8a Conferência Internacional do Documentário acontece na próxima semana, de 2 a 4 de abril, com a participação de Jorgen Leth, grande nome do documentário dinamarquês e inovador do gênero, e Jean-Pierre Rehm, diretor do Festival de Marselha, além de pesquisadores brasileiros, que este ano vão discutir o documentário experimental.

O festival É Tudo Verdade vai até 6 de abril, em várias salas da capital (entre elas, Centro Cultural Banco do Brasil, Cinemateca, Cinesesc, Reserva Cultural e Cinusp com  mostra paralela à conferência), sendo exibido simultaneamente no Rio de Janeiro; depois segue para Brasília, e ainda prevê extensões em Bauru, Recife e Caxias do Sul. Programação completa e mais informações podem ser obtidas no site www.etudoverdade.com.br.

 
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