A estação da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM) na USP Leste – inaugurada dia 25 de janeiro, quando a Universidade comemorava 74 anos de fundação – é mais que um símbolo daquilo que a instituição projetou fazer ao se expandir para uma região da capital paulista densamente povoada, carente de serviços públicos e

de ensino de qualidade em todos os níveis. A proposta era e continua sendo reverter essa situação social mediante trabalho conjunto com as comunidades e autoridades locais, dotando bairros e cidades avizinhadas de infra-estrutura em educação, transporte, trabalho, preparação profissional, esporte, lazer e tudo aquilo que uma vida saudável e responsável pressupõe. Pois a estação de trem dentro do campus é apenas um melhoramento dos muitos benefícios que devem aparecer graças à tríplice parceria –

Exposição na Estação USP Leste da CPTM: academia mais próxima do povo

governo, ensino e moradores.

Para que os usuários da linha da CPTM possam avaliar a importância da presença da USP na zona leste e do trabalho comunitário apenas iniciado, a empresa decidiu homenagear a Universidade com uma exposição de 52 fotografias que contam um pouco da história acadêmica e com um painel de 6 metros de largura com a linha do tempo política e cultural das últimas sete décadas. A maior visibilidade do painel na plataforma lhe confere a preferência e a atenção dos passantes, muitos dos quais param para ler a relação de nomes de pessoas ilustres que estudaram ou foram professores na USP, talvez sonhando com a possibilidade de um dia eles também fazerem parte da lista. Lá estão ex-presidentes da República, governadores, parlamentares, juristas, escritores, poetas e oradores.

Na mostra de fotos, que tem a curadoria do artista fotográfico João Kulcsár, os passantes declaram apreciar particularmente imagens de prédios e suas linhas arquitetônicas, de professores famosos, a exemplo de Florestan Fernandes, e de grupos de alunos resistindo à investida de soldados e cavalos da ditadura militar. Também se podem ver índios festejando a devolução de uma machadinha sagrada retirada do acervo do Museu Paulista e devolvida aos legítimos donos. O curador disse que, na seleção do material, levou em conta a diversidade de momentos registrados pelos fotógrafos, a rápida assimilação dos significados por um público que passa apressado pelo local e a oportunidade de mostrar como se faz pesquisa. A exposição transforma-se em itinerante, indo em junho para a estação do Brás, depois para outras da CPTM.

A propósito da vocação altamente social da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) – a unidade instalada na USP Leste –, o professor Edmur Stoppa, do curso de Lazer e Turismo, observa que tal característica se fez notar já no projeto pedagógico da escola, que não obedece à estrutura departamental como as demais unidades da USP, mas desde logo guarda relação estreita com a comunidade cujos problemas são pesquisados, formulados e discutidos em sala de aula e em pesquisas de campo.

Mudanças profundas – Nas várias dezenas de alunos da EACH que em cerca de uma hora passaram pela nova estação da CPTM, no dia 11 passado, podia-se detectar preocupação com os graves problemas dos bairros que constituem a zona leste da cidade. Vários desses estudantes confessaram ter optado por cursos que lhes permitiriam atuar diretamente na comunidade. Henrique Moreira, de Gestão de Políticas Públicas, diz ter notado que ainda na construção da USP Leste os moradores do entorno, especialmente do Jardim Keralux, área na maior parte não-documentada, não tinham a menor noção do que fosse a Universidade, mas atualmente observam-se mudanças profundas, nas ruas e nas cabeças das pessoas. Chegou o asfalto e, com ele, noções de limpeza e higiene, graças em boa parte ao trabalho dos alunos e professores. Temas como o Rodoanel e obras na avenida Jacu-Pêssego mereceram atenção especial nos debates comunitários. Segundo o aluno, ainda faz muita falta um comércio mais ativo.

Simone Matos, residente em Itaim Paulista e cursando Obstetrícia, se preocupa com o grande número de adolescentes grávidas, que precisam de orientação, ajuda que ela já pode começar a dar. Também tem observado excessivo número de partos por cesária, quando o parto natural é preferível. Outra modalidade de curso pioneiro na USP Leste é o de Geriatria, que Carlos Eduardo Veronese, do Brás, iniciou e considera muito interessante. Quando o concluir estará formado em gestão de idosos, conhecendo como ninguém antes o processo de envelhecimento e a melhor forma de cuidar de idosos em casa. Também Milena Telles, de Pirituba, faz Gerontologia e confessa que se apaixonou pelo curso.

De repente, da escada rolante surge um grupo de jovens unido, alegre, todos cursando Marketing. Vinicius Bezerra, de Cidade Patriarca, explica que o curso inclui marketing social, que vem a ser orientação para o público sobre a melhor forma de consumo, racional e consciente. Guilherme de Camargo Galli, do Tatuapé, está no segundo ano e concorda com o colega, atribuindo importância vital a esse estudo numa região carente de boa habitação e de bom meio de transporte, no momento em que mais pessoas precisam se locomover em direção do centro da cidade em busca de emprego. Em cada curso um objetivo social; em cada cabeça uma solução para algum problema detectado. Assim é a USP Leste.

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]