Quem poderá descrever as infinitas belezas e descobertas, os horizontes sem limites que contempla uma alma abandonada à aventura da vontade divina? Algumas frases de Chiara Lubich são de rara profundidade e marcaram muitas pessoas. Seus ideais e sua própria vida inspiram milhares em todo o mundo. O carisma de Chiara,

fundadora e presidente de um movimento presente em 182 países, foi reconhecido pelo papa João Paulo II como o “radicalismo do amor”.

Bento XVI – que chamou Chiara de “mensageira da esperança e da paz” – ressaltou o serviço “silencioso e incisivo” prestado por ela à Igreja, em carta lida no funeral da célebre religiosa, realizado no dia 18 de março na basílica de São Paulo Fora dos Muros (ou Extramuros), em Roma, na Itália. A cerimônia, presidida por um enviado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, foi acompanhada por 20 mil presentes e transmitida em cadeia por emissoras de TV de diversos países e pela internet.

Ut omnes unun sint” (Que todos sejam um, em latim) acabou por se tornar o lema do Movimento dos Focolares, iniciado em Trento, na Itália, em meio à Segunda Guerra Mundial. Comparado por muitos a uma “revolução silenciosa”, nas palavras de João

Paulo II o movimento representa o perfil da “Igreja do Concílio”, aberta aos vários diálogos.

Em 7 de dezembro de 1943, a jovem professora de 23 anos de idade, nascida Silvia, fez seus votos na capela dos Frades Capuchinhos. Havia, então, descoberto Deus como um “ideal que nenhuma bomba pode destruir”. Ao abraçar o Evangelho como um “estilo de vida”, Chiara iniciou uma caminhada sem ter a dimensão do que viria depois. A palavra “focolares” vem do italiano foco (fogo em português), para representar a paixão evangélica que animava a religiosa, e que inspira o movimento.

Medalha da USP – Chiara é detentora de diversas homenagens importantes, entre elas o Prêmio Unesco Educação para a Paz de 1996, o Prêmio da Templeton Foundation para o Progresso na Religião e o da Cruz Bizantina, conferida pelo patriarca ortodoxo de Constantinopla (1984), além de centenas de títulos de Doutora Honoris Causa.

No dia 30 de abril de 1998, Chiara recebeu do então reitor Jacques Marcovitch a Medalha de Honra ao Mérito da USP. “Essa homenagem é um agradecimento pela imensurável contribuição à cultura e à educação que se volta para a paz e a solidariedade”, declarou Marcovitch ao entregar a honraria. Na ocasião, Chiara foi recepcionada com um discurso do então deputado André Franco Montoro, que destacou a importância do Movimento dos Focolares no contexto da Segunda Guerra Mundial. “Contra o totalitarismo que esmaga a pessoa humana, que considera o estado a única realidade, Chiara vem lembrar a eminente dignidade da pessoa humana, que é inviolável e tem valores que devem ser reconhecidos”, declarou Montoro. “Contra o nacionalismo estreito dos que declararam a guerra, ela vem lembrar que a pátria é uma dimensão menor, que somos todos membros de uma família humana. É esse entendimento amplo, de todas as nações e de todas as religiões que ela prega, que ela realiza e que os Focolares dão como exemplo ao mundo.” E Montoro acrescentou: “Contra a violência e o ódio, ela vem nos ensinar que o amor é a vida do mundo. Essa é a grande lição”.


Chiara Lubich na USP, em 1998, ao receber homenagem da Universidade: uma vida pela união dos povos

Inspiração – A inspiração por promover a unidade, a fraternidade e o amor entre os povos esteve presente também durante o funeral de Chiara. Considerada a mulher mais influente do catolicismo nos dias atuais, sua despedida, aos 88 anos de idade, foi acompanhada não só por membros da Igreja, mas também por muitos líderes religiosos das mais diversas religiões.

A primeira mulher cristã leiga a comunicar sua experiência espiritual a mais de 800 monges budistas na Tailândia e a 3 mil muçulmanos afro-americanos do bairro negro do Harlem, em Nova York, deixou não apenas mensagens inspiradoras. Para promover a união entre os povos, os diálogos ecumênicos e inter-religiosos e para fortalecer os valores cristãos nas famílias, os focolares dispõem do que chamam de “instrumentos de unidade”. São espaços chamados Mariápolis, ou Cidade de Maria, constituídos por casas, empresas, escolas e locais de culto.

Espalhadas pelo mundo, as Mariápolis funcionam como centros de intervenção social e econômica e oferecem um modelo de convivência para as atividades que promovem. Propõem um novo estilo de vida, baseado no amor ao próximo.

Os focolares estão no Brasil desde 1959. No Brasil existem 35 Mariápolis Permanentes e 63 “centros Mariápolis”, espalhados em cidades do Nordeste, Norte, Sudeste e Sul. A Mariápolis Ginetta, em Vargem Grande Paulista, em São Paulo, possui um pólo de manufaturados, forma líderes do movimento em nível nacional e recebe a visita de cerca de 20 mil pessoas anualmente.

 

Os ideais de Chiara Lubich

A seguir, frases de Chiara Lubich sobre o Movimento dos Focolares, que fundou em 1944, na Itália, e sobre seus ideais.

* “Num refúgio antiaéreo, abrimos ao acaso o Evangelho na página do Testamento de Jesus: ‘Pai, que todos sejam um, como eu e tu’. Aquelas palavras pareciam iluminar-se uma a uma. Aquele ‘todos’ foi o nosso horizonte. Aquele projeto de unidade, a razão da nossa vida”

* “Como cristãos, temos a consciência de que somente um amor novo, sem os obstáculos do anti-semitismo, pode curar os traumas de 2 mil anos de inimizades, perseguições e desprezo”

* “Na passagem de uma época rumo a novos paradigmas culturais e como resposta à crise cultural que atinge o Ocidente, a partir da espiritualidade da unidade estão se delineando linhas de pensamento que contribuem para desbravar trilhas que conduzam a uma renovação cultural”

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]