A 8ª Conferência Internacional do Documentário, parte integrante do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentário, acontece de quarta a sexta, no Sesc Avenida Paulista, reunindo pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Espaço de reflexão sobre esse gênero cinematográfico, o encontro aponta rumos de pesquisa e mobiliza as

comunidades científica e artística da área em torno de debates. Este ano, cinco mesas-redondas vão apresentar um panorama histórico e também a produção contemporânea do documentário, analisando seu caráter experimental. Tudo exemplificado através de filmes que serão exibidos em mostra no Cinusp, que inclui longas e curtas-metragens.

A primeira mesa tem como tema “Panorama Histórico do Documentário Experimental” e conta com a participação de Betsy A.

A Alma do Osso, longa poético de Cao Guimarães

MacLane (co-autora com Jack C. Ellis de A New History of Documentary Film), Jean-Pierre Rehm (diretor do Festival Internacional do Filme Documentário de Marselha) e mediação da professora Maria Dora Mourão (diretora do Cinusp), apresentando uma cronologia do documentário experimental, desde as vanguardas do início do século 20, até a produção contemporânea. “Os Novos Territórios do Documentário”, sob as vertentes tecnológica e de distribuição, é o assunto da segunda mesa que reúne Michael Renov (professor da University of Southern California e um dos fundadores da conferência itinerante de cinema documentário Visible Evidence), Arlindo Machado (professor do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA/USP) e o mediador Marcius Freire (do Departamento de Cinema da Unicamp).

O Documentário Experimental no Brasil: Glauber Rocha, Rogério Sganzerla e Andréa Tonacci apresenta o cinema nacional sob a perspectiva das experimentações formais nas obras desses três cineastas, objeto de análise de Tetê Mattos (vice-presidente do Fórum dos Festivais e organizadora da mostra Araribóia Cine Festival de Niterói), Samuel Paiva (professor de Teoria e História do Audiovisual da Universidade Federal de São Carlos), além do jornalista e crítico de cinema da Folha de S. Paulo Sérgio Rizzo e da mediadora Esther Hamburger (atual chefe do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA/USP). O assunto é retomado só que desta vez analisando obras dos cineastas brasileiros Arthur Omar, Cao Guimarães e Carlos Adriano, com os debatedores Carlos Alberto Mattos (jornalista, escritor e crítico de cinema do jornal O Globo e do site Críticos), Maria Henriqueta Statt (professora da PUC do Rio Grande do Sul), Rubens Machado Jr. (professor do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA/USP) e mediação de Andréa França (professora da PUC-RJ e vice-presidente da Socine – Sociedade de Estudos de Cinema Audiovisual). E a última mesa traz A Visão do Realizador: um Diálogo com Jorgen Leth, grande nome do documentário dinamarquês e inovador do gênero, que vem ao Brasil para contar seu processo de trabalho, fortemente associado à subjetividade, à imposição de uma visão autoral da realidade que muitas vezes se sobrepõe ao registro dos fatos. Leth dirigiu mais de 40 filmes, alguns deles exibidos no Cinusp.


Tudo é Brasil, de Rogério Sganzerla, sobre a história de It´s All True, rodado no Brasil por Orson Welles

Mostra de filmes – Paralelamente à conferência, o Cinusp apresenta de segunda a sexta produções que serão objeto de análise dos pesquisadores. Abrindo a mostra, estão curtas-metragens de ou sobre Glauber Rocha e Rogério Sganzerla, com títulos como Linguagem de Orson Welles (1991), de Sganzerla, um ensaio histórico sobre a vinda do cineasta ao Rio de Janeiro, em 1942; A Voz do Morto (1993), dirigido por Sérgio Zeigler e Vitor Angelo, que retrata a trajetória de Glauber Rocha, que se confunde com questões relativas à identidade nacional e à colonização cultural do Brasil; e A Degola Fatal (2004), de Clóvis Molinari e Ricardo Favilla, com imagens inéditas, feitas originalmente em Super-8, em 22 de agosto de 1981, que mostram o funeral do cineasta Glauber Rocha narrado por ele mesmo. Ainda de Rogério Sganzerla será exibido o longa Tudo é Brasil (1998), semi-documentário sobre a história do filme It’s All True, dirigido e rodado no Brasil por Orson Welles, em 1942.

Outro bloco inclui curtas poéticos de Cao Guimarães, Da Janela do Meu Quarto (2004), feito a partir da janela do quarto do artista, sobre a rua de areia e um resto de chuva, mostrando uma luta amorosa de duas crianças; Sin Peso (2006), e Atrás dos Olhos de Oaxaca (2006), rodados no México e no Brasil, sendo que o primeiro mostra o efeito do ar saindo do peito em vozes multiformes de comerciantes de rua que balançam os toldos multicoloridos, e o segundo, um pequeno eye-movie pelas estradas do estado mexicano de Oaxaca; além do longa A Alma do Osso (2004), que mostra a existência isolada de um ermitão de 72 anos que vive em uma caverna encravada em uma montanha de pedra. Também serão exibidos curtas de Carlos Adriano, como A Luz das Palavras (1992), com várias visões de letreiros luminosos da cidade; e O Papa da Pulp: R. F. Lucchetti (2002) sobre o autor que escreveu contos de horror e mistério, histórias em quadrinhos e roteiros de cinema e rádio, publicando 26 livros sob seu nome e 1.514 sob heterônimos.

E fechando a mostra estão curtas de Jorgen Leth: Aarthus (2005), com uma concepção visual inspirada na pintura para rememorar sua infância na cidade de Aarthus; Novas Cenas da América (2002), visão pessoal e poética do diretor sobre a América, rodada em vários estados em setembro de 2001, em uma continuação de seu clássico 66 Cenas da América, filmado 20 anos antes; e O Ser-Humano Perfeito (1967), estudo antropológico, também poético, sobre o modelo de homem perfeito, 40 anos atrás. Este último tema do longa Os Cinco Obstáculos (2003), em que o cineasta dinamarquês Lars Von Trier desafia Jorgen Leth a fazer cinco refilmagens de sua obra-prima (O Ser-Humano Perfeito), a partir de cinco impedimentos sucessivamente propostos por ele. Um verdadeiro panorama do documentário experimental, realizado no Brasil e no mundo.

A 8ª Conferência Internacional do Documentário acontece quarta (às 14h30) e quinta e sexta, a partir das 10h, no Auditório do Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, tel. 3179-3700); e a mostra de filmes tem sessões às 16h e às 19h, no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540). A entrada é franca. Mais informações no site www.etudoverdade.com.br.

 
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