Boa parte das águas engarrafadas que são comercializadas na cidade de São Paulo possui níveis de flúor acima do permitido, diferente do que é informado nos rótulos. Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP revelou que entre 229 amostras, de 35 marcas diferentes, 19% (44 amostras) continham mais 0,8 miligramas

de flúor por litro (mg/L). “De acordo com a lei municipal 12.623/98, é proibida a comercialização na cidade de águas engarrafadas com níveis de flúor superiores a 0,8 mg/L”, lembra a coordenadora da pesquisa, professora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, do Departamento de Ciências Biológicas da FOB.

A professora alerta que níveis elevados de flúor na água engarrafada são prejudiciais principalmente a bebês. “Os médicos pediatras e odontopediatras recomendam às mães de recém-nascidos que diluam o leite em pó em águas engarrafadas, já que esses produtos anunciam em seus rótulos baixos índices de flúor”, explica. O nível ideal de flúor na água destinada à dissolução do leite

em pó é abaixo de 0,2 mg/L. Segundo Marília, na maioria das amostras, os níveis encontrados nas análises estavam entre 0,01 e 2,04 mg/L. Valores diferentes dos informados nos rótulos foram encontrados em 88 amostras, o que equivale a 38%.

Durante o ano de 2006, os pesquisadores recolheram as amostras em cinco regiões da cidade de São Paulo, nas mercearias, bares, lanchonetes e supermercados que comercializam o produto. Foram 71 amostras na região norte, 34 na região sul, 43 na região leste, 25 na região oeste e 56 na área central. “Já que as quantidades indicadas nos rótulos não condizem com a realidade, podemos deduzir que está existindo falha na fiscalização da Secretaria Municipal de Abastecimento, que é o órgão responsável no município”, adverte a pesquisadora.

Dentes estragados – Marília lembra que os altos níveis de flúor na água podem provocar o desenvolvimento da fluorose dentária. A doença, em casos de menor gravidade, caracteriza-se pelo aparecimento de manchas brancas nos dentes. “Nos casos mais graves as manchas se tornam marrons e pode-se observar até mesmo alguns buracos nos dentes. Mas, diferentemente da cárie, a fluorose não chega a provocar dor”, explica a professora.

Marília acredita que o caso merece maior atenção, principalmente porque a fluorose pode atacar a criança no período de formação dentária, entre 1 e 7 anos de idade. “Nos primeiros três anos, a doença pode atingir principalmente os dentes da frente”, lembra. De acordo com a professora, recomenda-se a utilização das águas engarrafadas para diluição do leite, visto que, como o volume do produto consumido pelas crianças geralmente é grande, se for utilizada água de abastecimento fluoretada para diluição do leite em pó pode haver uma ingestão excessiva de flúor. “Na cidade de São Paulo existe o que chamamos de heterocontrole, ou seja, a fiscalização dos teores de flúor adicionados à água de abastecimento público é feita por um órgão externo à companhia que fluoreta a água. Por conta disso, os níveis de flúor estão hoje entre 0,6 e 0,8 mg/L”, relata Marília.

A pesquisa envolveu seis pesquisadores, entre professores e estudantes de especialização e pós-graduação da FOB. Todas as análises foram realizadas nos laboratórios da instituição, em Bauru.

 
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