A biblioteca do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP possui um dos mais expressivos acervos de obras raras do país: dos cerca de seus 150 mil títulos, aproximadamente 70% são catalogados como raridades. Nesta quinta, a coleção do instituto se une aos livros da Biblioteca Mário de Andrade na exposição “Obras Raras em Acervos Públicos”,

criada para mostrar uma visão geral dos critérios que determinam a raridade de uma obra e as dificuldades e desafios do processo de conservação, restauro e integridade dos livros.

Da coleção da biblioteca do IEB foram selecionados 40 livros, impressos entre os séculos 16 e 20, que atendem às condições de raridade: são primeiras edições, possuem comentários de leitores importantes nos cantos das páginas (conhecidos como marginalia), encadernações raras, ilustrações de renomados artistas gráficos ou ainda dedicatórias do autor. Recebem

destaque os exemplares Oração Apodixica aos Scismáticos da Pátria, primeira obra a ser publicada por um brasileiro; Histoire des Choses Memorables, de Jean de Léry, missionário e escritor francês nascido em 1534; e Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, do pintor e desenhista Jean Baptiste Debret a respeito da natureza, do homem e da sociedade brasileira em meados do século 19; além de livros editados pela Imprensa Régia. Segundo Ana Lucia Duarte Lanna, diretora do IEB, trata-se de obras significativas e conhecidas, que passam uma “visão bastante geral do acervo”. Ela ressalta ainda a presença de obras da literatura infantil como A Festa das Letras, de Cecília Meireles; Sapo Ferreiro e Outras Histórias, de Paulo Correa Lopes; Terra dos Meninos Pelados, de Graciliano Ramos; e a primeira edição de Cinderela, escrita por Charles Perrault.

A biblioteca surgiu a partir da aquisição, em 1962, da antiga Brasiliana, até então pertencente ao historiador paulista Yan de Almeida Prado. Além de uma coleção geral, obtida por permutas, doações ou compra, possui um acervo com 21 coletâneas pessoais de escritores como Guimarães Rosa, Hélio Lopes, Caio Prado Júnior, Alberto Lamego, Mário de Andrade, Juarez Bezerra de Menezes, Pierre Monbeig e Waldisa Russio. A biblioteca conta ainda com uma coleção de artes visuais criada em 1968, com a chegada do acervo inicial de Mário de Andrade. Possui obras de Alex Flemming, Anita Malfatti, Barão de Itararé, Mariana Quito, Sérgio de Moraes e Carla Milano, entre outros.

Da Biblioteca Mário de Andrade, fundada em 1926 a partir do acervo da Câmara Municipal de São Paulo, serão exibidos 14 dos livros recuperados de um furto descoberto em setembro de 2006, quando obras completas foram levadas e muitas outras perderam gravuras e litografias de artistas como Debret, Rugendas, Hermann Burmeister e Johann Jacob Steinmann. Estão presentes na mostra uma primeira edição de As Primaveras, de Casimiro de Abreu; Pau Brasil, de Oswald de Andrade (impresso em Paris); Memorias Posthumas de Braz Cubas, escrita por Machado de Assis; e dois exemplares da primeira edição de Les Fleurs du Mal, do escritor francês Charles Baudelaire, publicada em 1857 – um deles pertenceu a um dos juízes que decretou censura da obra e o outro, incompleto, ao próprio escritor. A atual condição dos livros furtados, que foram largamente danificados, exprime a dificuldade de preservação e segurança de obras raras.

Com mais de três milhões de itens em seu acervo, a Biblioteca Mário de Andrade possui a segunda coleção documental mais importante do país. Em 1936 adquiriu a coleção de Felix Pacheco, à época uma das maiores coletâneas privadas de obras raras; recebeu grande doação de manuscritos e livros pertencentes a Batista Pereira em 1937; e adquiriu todo o acervo da Biblioteca Pública do Estado, com mais de 70 mil volumes, em 1939; além das doações de obras pertencentes a personalidades como Paulo Prado, Sérgio Millet e Paulo Duarte.

Eventos paralelos – A mostra promove também uma série de encontros com pesquisadores e personalidades da área. Nesta quinta, às 18h, o diretor da Biblioteca Mário de Andrade, Luis Francisco Silva, ministra palestra sobre Preservação e Segurança de Obras Raras. A programação segue com a professora do IEB, Telê Ancona Lopez, que fala sobre Mário de Andrade e os Modernos em São Paulo (dia 8 de maio); Carlos Augusto Calil, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e um dos grandes especialistas de cinema do país, discorrendo sobre Blaise Cendrars no Brasil (dia 15 de maio). Ainda haverá, em data a ser definida, uma palestra sobre os significados e a importância dos contos de fadas.

Nas palavras da diretora, as obras “dialogam numa preocupação com os problemas brasileiros” e todo livro da mostra “impressiona pela beleza ou é muito importante do ponto de vista da forma-livro em si”. A exposição procura atrair um público variado, incluindo os próprios estudantes da USP, “que acabam não freqüentando muitas possibilidades que a Universidade proporciona”, diz.

A exposição “Obras Raras em Acervos Públicos” fica em cartaz até 29 de junho, de segunda a sexta, das 9h às 18h, e sábados, das 10h às 16h, na Sala Marta Rossetti Batista do IEB (av. Professor Mello Morais, trav. 8, 140, Cidade Universitária). Mais informações pelo tel. 3091-2399. Entrada franca.

 
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