Com 25 anos de atividades, completados no ano passado, o Hospital Veterinário (Hovet) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP tem muito a comemorar. Considerado uma referência no Brasil como hospital-escola por atender um grande número de animais de pequeno e grande porte, nas áreas de cirurgia e clínica

Foto crédito: Cecília Bastos

médica, ele registra um volume de procedimentos que gera anualmente uma renda industrial de cerca de R$ 2 milhões, dos quais 90% cobrem os custos do hospital com pessoal, material médico-hospitalar e médico-veterinário.

Somente no ano passado, foram feitos 47.500 atendimentos. Nesse total estão incluídos consultas novas, retornos e procedimentos cirúrgicos de pequenos e grandes animais. No caso de procedimentos específicos e exames subsidiários, como anestesia, radiografias, ultra-sonografias, tomografias, exames histopatológicos e citologia, entre outros, foram realizados 47.100 mil casos (veja tabela abaixo).

Uma especificidade do Hovet é o cuidado com os ruminantes, o que não é comum em hospitais-escola particulares. “Por ter um custo alto de manutenção do animal alimentado, com baias limpas, durante 24 horas, não são muitas as escolas que se

interessam por esse serviço. Dá muito pouco retorno financeiro. É um serviço que precisa ser subsidiado”, explica o diretor do hospital, professor Luis Cláudio Lopes Correia da Silva.

Nas atividades do Hovet, existe um custo a ser pago pelo proprietário do animal. Segundo o diretor, o dinheiro obtido dessa forma é usado para pagamento de pessoal, compra de material de consumo para atendimentos e procedimentos cirúrgicos e para a ampliação da estrutura física ou reformas. “Há mais de dez anos o Hovet não apresenta falta de material para trabalhar”, ressalta Correia da Silva.

Fundado em 1981, o hospital congrega os Departamentos de Clínica Médica, Cirurgia, Medicina Veterinária Preventiva e Patologia da FMVZ. Os cinco departamentos da FMVZ prestam 19 serviços à comunidade através do hospital, entre eles cirurgias, clínica, obstetrícia, dermatologia, exames laboratoriais, castração, oftalmologia, cardiologia e pronto-socorro médico a pequenos animais, entre outros.

O Hovet está ligado ao curso de graduação em Medicina Veterinária. Por isso o corpo profissional do hospital se compõe de seis docentes que atuam no hospital, além de ministrar aulas. E, como o cotidiano do hospital é repleto de atenção aos mais diversos tipos de animais, conta com 27 veterinários contratados e 26 vagas para residentes. “São poucas vagas para residência, mas pretendemos ampliá-las com a reforma curricular que estamos fazendo”, explica Correia da Silva. “Pretendemos ampliar o número de programas e períodos de atendimento. Algumas áreas específicas não têm residentes, por exemplo, diagnóstico por imagem, anestesiologia e cirurgia de eqüinos.”

Foto crédito: Cecília BastosO Ambulatório de Aves é um dos 19 serviços e compõe o Departamento de Patologia. A área de Ornitopatologia dá o suporte ao criador de frango para corte e galinha para postura de ovos. Existe uma médica veterinária voltada especificamente para o atendimento de aves. Também recebe clientes que trazem aves de estimação com algum problema de saúde. É o caso de Marcos Silva, dono do papagaio Loro, que já está com ele há 26 anos, e agora apresenta problemas no fígado. “Trouxe o Loro para a médica fazer um raio X e ver como vamos cuidar desse problema”, disse Silva, que foi ao hospital na semana passada.

Conforto, agilidade e simpatia – Não são só os animais que ganham com um atendimento de qualidade. Para os alunos de pós-graduação ou recém-formados, exercer a prática profissionalizante em clínica e cirurgia de pequenos animais é uma boa chance de aprender mais. No hospital os profissionais trabalham em sistema de rodízio nos diversos serviços prestados. Segundo o diretor, um bom médico veterinário, independente de onde vá trabalhar, seja numa clínica ou em um hospital, precisa ter conhecimento de todas as áreas. “O profissional precisa saber cardiologia, dermatologia, oftalmologia, cirurgia, clínica médica e diagnóstico por imagem. Só assim sua formação estará completa.”

É essa experiência que três bolsistas de aprimoramento do Programa de Residência do hospital e duas estagiárias, com a ajuda de quatro funcionários, adquirem ao cuidar dos ruminantes (cavalos, bois, vacas, cabras etc). Camila Freitas Batista, Laura Cristina Sant’Anna Henriques e Juliana Silva Nogueira se encantam com os cabritos órfãos, de uma semana e meia, Rick e Renner, que perderam a mãe por estar muito doente. “Damos atendimento clínico aos animais, fazendo exames clínicos e laboratoriais, e receitamos medicação, tudo sob orientação do professor responsável”, explicam. “Durante a semana estamos aqui das 8 às 18 horas e damos plantão nos finais de semana.”

Foto crédito: Cecília BastosCorreia da Silva lembra que o aumento do número de vagas para a residência está sendo pleiteado junto a parcerias com empresas privadas. Atualmente, das 26 vagas de residências, 18 têm bolsas da Secretaria de Saúde e oito são de empresas.

Mudanças – Várias mudanças estão nos planos do diretor. A qualidade cada vez melhor dos serviços ao cliente é uma delas. Para isso ele pretende não só melhorar o aspecto da qualidade técnica da recepção, mas também aperfeiçoar o funcionário para que este receba, trate, oriente e passe as informações da melhor maneira possível, tornando o ambiente do hospital mais receptivo e acolhedor. “Queremos que o cliente saia satisfeito. Não adianta ter consultado o melhor especialista e não ter conforto dentro do hospital. Conforto, agilidade e simpatia são nossas metas. Para isso vamos fazer algumas modificações na recepção, na triagem e na estrutura física”, conta Correia da Silva.

Outra mudança será a colocação de uma cobertura entre os prédios do hospital, para que médicos, alunos, funcionários e clientes possam circular entre as suas dependências sem precisar ficar expostos às intempéries do clima. “Existe um deslocamento de um prédio ao outro, segundo o fluxograma do hospital, e muitas vezes é preciso passar por uma área descoberta.”

Sem contar que a circulação entre os prédios é desorganizada e, para que o cliente não fique perdido, o diretor revela que será melhorada a sinalização, a fim de diminuir o tempo de deslocamento, seguindo um percurso linear. “Assim o cliente não ficará indo e voltando. Quando tiver que esperar, que possa ser num local aconchegante.”

Foto crédito: Cecília BastosOutra reforma pretendida no Hovet é o atendimento 24 horas, que ainda não acontece sistematicamente e para isso precisa de uma reforma curricular. Apenas quando o animal requer um cuidado extra o profissional dobra o turno no hospital. “Uma reforma puxa a outra”, explica o professor José Antonio Visintin, diretor da FMVZ. “A ampliação do horário está vinculada ao aumento do número de residentes e à reforma curricular. Pois só assim conseguiremos que os alunos de graduação também intensifiquem sua participação junto aos serviços, em sistema de rodízio, podendo ter mais aulas práticas e ajudando no atendimento.”

Informatização – Não é só isso o que as diretorias da FMVZ e do hospital pretendem. Para elas, a informatização do hospital é fundamental para o bom andamento de todas as mudanças. Embora já exista um sistema informatizado, implantado há 15 anos, está na hora de aprimorá-lo. “O sistema existente está insuficiente. Falta incorporar a parte do controle, de distribuição e consumo de material e os exames também”, ressalta Visintin.

“O objetivo”, explica Correia da Silva, “é que, ao fazer o exame laboratorial, este seja contemplado no sistema e quem precisar pode acessá-lo de qualquer sala de atendimento. Queremos que o exame radiográfico, o laudo e o diagnóstico fiquem à disposição, podendo até ser aberto no monitor dentro do centro cirúrgico“. O software foi doado por uma empresa e caberá ao Hovet investir em monitores, terminais de computadores, servidor e sistema de backup.

 

Para todos os bichos

Tabela de casos atendidos pelo Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP no ano de 2007

Tipos de animais

Casos atendidos (consultas novas, retornos e procedimentos cirúrgicos)

Pequenos

46.499

Grandes

1.012

TOTAL

47.124

 

 

“A Tigresa é bem tratada aqui”

O Hospital Veterinário da USP não atende só animais de grande porte ou presta serviço a proprietários de fazendas. O pequeno proprietário também recebe ajuda nos cuidados com seus animais, assim como o dono de animais de estimação.

Foto crédito: Cecília Bastos
Olinda e Tigresa: lesões nas juntas

No setor de triagem, Olinda Zequi Machado, com sua dog alemã de 9 anos chamada Tigresa, procura os serviços do Hovet há muito tempo. Olinda conta que a cachorra já nasceu com falta de creatinina e agora, mais velha, começou a ter lesões nas juntas. Como tomou muito antibiótico, hoje opta pela homeopatia, que o hospital também indica. “Gosto muito do atendimento. Tenho carteirinha e sou sempre muito bem recebida. Minha cachorra recebe todo o tratamento que merece e está cada dia melhor.”

A viralata Sem-terra, de 22 anos, cardiopata, vai se tratar no hospital a cada dois meses. Sua dona, Marina Gaya, diz que Sem-terra é a cachorra mais velha do hospital e que todos os seus seis cachorros vão ali para se tratar. “Gosto muito daqui. Meus cachorros também.”

Já no setor clínico, o viralata Leão, de 7 anos, toma soro, deitado numa cama apropriada para se recuperar do linfoma que apresenta no lado direito da cabeça. Sonia Regina Surita Peixe, a dona, fala que ao começar a quimioterapia o cão passou mal, agora está à base de soro e melhorando aos poucos.

A pequena Sheila, de 10 anos, de raça indefinida, chegou ao Hovet com os dois rins danificados e tinha 1% de chance de viver, “quase morta”, diz o dono, Alexandre da Silva Marques. “Isso foi há dois meses. Médicos veterinários de outros lugares queriam sacrificá-la. Depois que vim para cá ela melhorou consideravelmente. Está andando e brincando.”

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Marques e Sheila: quase morta

Para a médica veterinária do Hovet Bruna Maria Pereira Coelho, todos os setores do hospital estão sempre cheios. Na clínica médica o retorno é muito maior porque atende pacientes com doenças crônicas, como diabete, insuficiência renal e alguns tipos de câncer. No pronto-atendimento cuidam de doenças infecciosas ou animais em estado emergencial. Há 13 anos trabalhando no local, Bruna conta que gosta e está acostumada com a quantidade de animais que são atendidos. “Gosto de trabalhar no Hovet porque tenho contato com os alunos estagiários e com isso estou em constante aprendizado.”

Já o professor Cassio Ferrigno, do Departamento de Cirurgia de Pequenos Animais, atende cerca de 12 casos por dia. “Já passaram por nosso atendimento macacos, papagaios, orangotangos e outros bichos. Como cirurgião, temos um vasto campo de pesquisa, porque aparecem todos os tipos de bichos no Hovet.”

 

Atendimento começa na triagem

O atendimento no Hospital Veterinário é feito de segunda a sexta-feira. A triagem de pequenos animais vai das 8 às 14  horas. Para a triagem não há recolhimento de tarifa, mas para a consulta o custo gira em torno de R$ 25,00, que são usados para a manutenção do hospital. Cada exame e especialidade têm um custo específico. O proprietário, ao procurar o Hovet, deve se dirigir primeiro ao setor de triagem. Dali, dependendo do problema, o animal será encaminhado para a área clínica ou cirúrgica e sua consulta será agendada posteriormente, de acordo com a doença e a disponibilidade de vagas nos serviços do hospital. São cobradas tarifas de consulta, como também tarifas dos demais procedimentos realizados, dependendo de cada caso ou doença. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (11) 3091-1244 e 3091-1248 e pelo e-mail hovet@edu.usp.br.

 
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