”Poéticas da Natureza”, inaugurada no dia 26 de abril, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, no Parque do Ibirapuera, não é só uma exposição. É um movimento. Através do trabalho de 48 artistas, a curadora Katia Canton pontua uma função importante da arte contemporânea, que é a proposta da reflexão e do debate. As obras ocupam o

espaço de mil metros quadrados discutindo a interação entre arte e ambiente. Reverencia a importância da natureza na arte oriental e ocidental e, ao mesmo tempo, protesta contra a destruição das florestas, rios e mares.

“No ocidente, a representação historicamente conhecida da natureza, a paisagem, surgiu como gênero artístico no século 17”, explica Katia. “Desde o primeiro momento, a pintura da paisagem caracterizou-se como uma retórica importante no mundo das artes, representando os elementos da natureza como traduções da idéia de uma natureza universal.”

No oriente, a natureza permeia a história da arte. No Japão, por exemplo, é condição essencial para a harmonia do homem, daí ser lembrado como “o povo do sol nascente”. Na mostra há dois japoneses especialmente convidados: Taro Shinodaque expõe uma série de gravuras denominada Japanese gardens, e Tsuyoshi Ozawa traz uma

Obras em exposição no MAC: arte de protesto

instalação com armas feitas de vegetais.

“Poéticas da Natureza” é a terceira mostra da série que Katia Canton, pesquisadora e professora do MAC, vem desenvolvendo desde 2001. Resulta da pesquisa Tendências Contemporâneas, que discute conceitos e temas importantes da história da arte ocidental. “Esta mostra é a maior dessa série. Nós reunimos tanto artistas de renome internacional como os que estão iniciando a sua trajetória. Conseguimos abordar uma forma de representação da natureza, partindo da tradição do gênero da paisagem na visão contemporânea e propondo reinvenções do conceito”.

Através dessa pesquisa, que tem resultado em exposições e livros, Katia vem traçando um panorama importante da arte contemporânea brasileira. “Tenho acompanhado de perto os artistas, observado a sua produção e percebido o presente da nossa arte.”

Arte e ecologia – A mostra está dividida em quatro módulos. O primeiro, A Natureza da Paisagem, revela como o conceito de natureza se expande e se transforma no tempo, utilizando suportes variados. Reúne Karin Sigurdardottir, Alzira Fragoso, Adriana Rocha, Albano Afonso, Leda Catunda, Claudia Jaguaribe, Tatiana Blass, Tadeu Jungle, Fabrício Lopes e Christophe Spoto.

O segundo, Águas e Umidades, traz o trabalho de Sandra Cinto, Sonia Guggisberg, Célia Macedo, Brígida Baltar, Cao Guimarães, Marina Saleme, Ana Nitzan e Regina Saretta. “A água ocupa a maior parte da extensão do planeta, assim como de cada corpo humano, e é também um dos temas mais prementes no debate contemporâneo sobre ecologia e sustentabilidade”, explica Katia. “Ao mesmo tempo em que é elemento-chave na representação da natureza, apresenta forte carga simbólica, relacionada à renovação da vida e às profundezas do inconsciente.”

Em Denúncia e Reconstrução, o público observa obras que simbolizam as deformações, destruições e crimes contra a natureza através dos trabalhos de José Resende, Pazé, Vik Muniz, Shirley Paes Leme, Luiz Hermano, Débora Muszkat, Mariana Palma, Afonso Tostes, Marcelo Mochon, Renata Barros, Eduardo Sreur, Nair Kreme, Regina Carmona, Fernando Piola e Tsuyoshi Ozawa.

No último módulo, A Natureza Inventada, os artistas reinventam o conceito de natureza. É integrado por Anne Cartault d´Olive, Geórgia Kyriakakis, Albano Afonso, Germaine Richter, Maria Martins, Bettina Vaz Guimarães, Renato Leal, Fernando Velásquez, Marcela Tiboni, Christine Meirelles, Ernesto Bonato, Nazzareno, Janaína Tschape, Mariana Malhães e Taro Shinoda.

“Será que é real a noção de uma natureza única, consistente e universal?”, pergunta Katia. “Desde a existência da vida planetária, elementos da natureza passaram por transformações constantes. Com base nessa premissa, artistas contemporâneos se propõem a inventar novas formas de atribuição a esse conceito, incorporando noções de trânsito, fluxo, simulação e corporificação.”

No decorrer da exposição “Poéticas da Natureza”, vão ser realizadas oficinas coordenadas pela arte-educadora Andréa Amaral, com a participação de vários artistas. Também haverá seminários e debates sobre arte e ambiente.

A exposição “Poéticas da Natureza” fica em cartaz até 24 de agosto, de terça-feira a domingo, das 10h às 19h, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, no Parque do Ibirapuera (Pavilhão Ciccilo Matarazzo, terceiro piso do Prédio da Bienal). Entrada franca. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 5573-9932 e no endereço eletrônico www.mac.usp.br.

 
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