Grandes descobertas científicas, programas de extensão que ajudam a melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas, inovação no ensino de medicina, prestação de serviços em saúde e difusão do conhecimento a distância através das novas tecnologias da comunicação. Nada disso teria sido possível se não fosse o espírito empreendedor de

alguns profissionais. Mostrar como chegar a realizações como essas e os desafios encontrados pelo caminho foi o objetivo do workshop “Empreendedorismo em saúde – Histórias de sucesso”, organizado pela Medicina Jr., empresa de consultoria em gestão em saúde dos alunos da Faculdade de Medicina da USP.

Durante o evento, que aconteceu de 5 a 8 de maio, sempre no período da noite, estudantes e profissionais da saúde puderam conhecer melhor a experiência de empreendedores que, em diferentes áreas, fizeram a diferença. Foram duas palestras por noite, sempre enfocando ações inovadoras. “A idéia do curso foi incentivar as pessoas que tenham algum projeto a, apesar dos desafios, dos percalços, continuar seguindo seus ideais, seus sonhos, até conseguir a realização”, explica Philippe Hawlitschk, organizador do evento e conselheiro da Medicina Jr.

O Laboratório de Poluição Ambiental da Faculdade de Medicina da USP foi a primeira

iniciativa que os participantes puderam conhecer, no dia 5, em palestra do seu diretor, professor Paulo Saldiva. Criado no final da década de 1970 pelo professor György Böhm, o laboratório enfrentou um contexto em que a temática ambiental ainda era exótica e pouco estudada. Com o tempo, no entanto, o grupo conseguiu financiamento e pôde se consolidar. “Mostramos que os níveis de poluição atmosférica de grandes cidades causam inflamações subclínicas, que podem levar a doenças respiratórias e alterações reprodutivas”, explicou Saldiva. Hoje, a USP se encontra entre as principais universidades do mundo na geração de conhecimento nessa área.

Depois de Saldiva, Arnaldo Lichtenstein, professor responsável pelo curso de Clínica Médica do quarto ano da Faculdade de Medicina, explicou como fez uma disciplina, que há 20 anos figurava entre as piores, se tornar uma das mais bem avaliadas pelos estudantes. Quando aluno, Lichtenstein reclamara muito da disciplina. Depois de se tornar professor, não deixou escapar a oportunidade de promover as transformações que julgava necessárias, aumentando o número de professores, motivando a equipe e avaliando o trabalho periodicamente.

Pneumologia – A segunda noite do workshop, no dia 6, foi aberta pelo professor Chao Lung Wen, que procurou responder à pergunta “O que é ser empreendedor?”. Em seguida, Marcelo Amato, supervisor da UTI Respiratória do Hospital das Clínicas da USP, falou da publicação de um artigo na New England, uma das revistas de medicina mais importantes do mundo. Com seu grupo de estudos em pneumologia, ele descobriu uma forma de evitar a morte de pacientes com leptospirose, através de nova abordagem na ventilação mecânica dos pulmões. À época da publicação, o grupo enfrentou diversas contestações científicas, mas conseguiu provar que estava certo. Os pesquisadores criaram, ainda, uma nova tecnologia para obtenção de imagens dos pulmões, chamada tomografia de impedância elétrica, cujos trabalhos receberam o prêmio Siemens de Ciência e Tecnologia de 2006.

Foto crédito: Francisco Emolo
Wen: é preciso incentivar empreendedores que gerem benefícios para a sociedade

Telemedicina e Instituto do Sono estiveram em foco no terceiro dia da programação. O professor Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina, novamente iniciou os trabalhos. Ele falou das potencialidades oferecidas pela informatização do ensino e do atendimento médico. Desde 1987, a USP possui uma disciplina voltada para a informática médica. No entanto, a Telemedicina propriamente dita surgiu apenas em 1997, por iniciativa do professor György Böhm. Wen se especializou no assunto e tornou-se uma das principais lideranças nacionais da área, sendo co-fundador do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde.

Hoje, o Hospital das Clínicas e a Faculdade de Medicina encontram-se eletronicamente interligados e com outras localidades do Brasil, como a cidade de Parintins, no Amazonas. Isso permite que médicos instalados a milhares de quilômetros de distância assistam a aulas ou cirurgias realizadas em São Paulo. A tecnologia é utilizada pelos próprios alunos da faculdade, que podem acompanhar, por exemplo, um procedimento médico sem se amontoar numa pequena sala, assistindo a tudo de um auditório. Com isso, evitam-se também constrangimentos ao paciente. “Telemedicina humaniza, é um ato de respeito”, afirmou Wen durante sua exposição.

Com a Telemedicina surgiram, ainda, o homem virtual e o computador da saúde. O homem virtual é um programa que demonstra todo o funcionamento da anatomia humana com perfeição, através de imagens tridimensionais produzidas pela computação gráfica. Já o computador da saúde é uma ferramenta de qualificação das Equipes de Saúde da Família. Concebido com o apoio do Ministério da Saúde, ele congrega vídeos de orientação, manuais eletrônicos e até o homem virtual, além de permitir a tutoria de médicos a distância, pela internet.

Para encerrar os trabalhos no dia 7, o professor Sérgio Tufik, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), contou a história de seu pioneirismo nos estudos das doenças do sono. Até hoje, ele é um dos autores da área mais citados mundialmente. Seus trabalhos se iniciaram em 1970, com uma pesquisa sobre a relação entre a privação de sono e a neurotransmissão cerebral. Em 1990, seu grupo de pesquisa já possuía uma unidade com dez quartos para a realização de polissonografia, exame utilizado na detecção de distúrbios do sono. Hoje, o Instituto do Sono conta com um prédio de 18 andares e 90 apartamentos. Ali, 85 médicos se especializam por ano no assunto.

Foto crédito: Francisco Emolo

Casa da Aids – A última noite do workshop, no dia 8, contou com a participação de Eliana Gutierrez e Wellington Nogueira. Eliana fez parte da primeira equipe e é atual diretora da Casa da Aids, criada em 1994 para atender à grande demanda de pacientes com o vírus HIV no Hospital das Clínicas. Vinculada à Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HC, a Casa presta, gratuitamente, atendimento global e interdisciplinar a cerca de 4 mil soropositivos.

Nogueira, por sua vez, falou sobre os Doutores da Alegria, equipe de palhaços que ele fundou há mais de 15 anos para levar alegria às crianças hospitalizadas, aos seus pais e aos profissionais de saúde. O grupo é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos e realiza cerca de 50 mil visitas por ano a crianças internadas em hospitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte.

Para o professor Wen, eventos como o workshop “Empreendedorismo em saúde – Histórias de sucesso” são muito importantes. “A Universidade deve formar gente competente, que entende os problemas sociais e exerce seu papel de cidadania. Temos que estimular empreendedores que gerem benefícios para a comunidade.” A estudante de enfermagem Luana Fernandes Alves já saiu com uma idéia: “Como eu vou ser enfermeira, pensei em abrir uma casa de repouso para idosos. Hoje em dia as pessoas tendem a viver mais”.

 
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