Em duas oportunidades recentes em que falou à comunidade uspiana, o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, ressaltou a necessidade de o conhecimento produzido nas universidades ser transformado em tecnologias e riquezas para o país. Marco Antônio Zago, presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

– um dos braços executores das políticas de ciência e tecnologia do governo federal –, reforçou essa visão num encontro no Conselho Universitário, no dia 12 de maio. “O Brasil passa por mudanças profundas em todos os campos e precisamos investir em áreas prioritárias, levando em consideração que a ciência e a tecnologia devem promover o desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a maior parte das pesquisas está localizada nas empresas. No Brasil, cerca de 70% das pesquisas são feitas nas universidades. Esse quadro precisa ser mudado se quisermos que conhecimento se transforme em desenvolvimento”, disse.

Com o propósito de mostrar como o CNPq se

enquadra no plano geral de ciência e tecnologia, a exposição de Zago delineou os quatro pontos principais em que se baseia o Plano de Ação 2007-2010 do Ministério de Ciência e Tecnologia, anunciado em novembro de 2007 e disponível na página eletrônica do ministério. O encontro contou com a presença da reitora Suely Vilela, do vice-reitor Franco Maria Lajolo, dos pró-reitores, diretores de unidades e presidentes das comissões centrais de Pesquisa, Pós-Graduação e Cultura e Extensão Universitária.

Já que grande parte do conhecimento do país é produzida dentro das universidades, essas instituições têm um papel fundamental para organizar a produção científica e produzir inovação, ressaltou Zago. O presidente mostrou dados das exportações brasileiras, da agricultura, da saúde e outros indicadores para argumentar que o Brasil atual mudou e precisa de ciência aplicada.

Nesse contexto, Zago anunciou que o CNPq irá retomar o antigo Programa Institutos do Milênio, lançado há alguns anos para criar um ambiente favorável à inovação e executar projetos multidisciplinares e abrangentes e promover a ciência em regiões menos desenvolvidas, além da fixação de jovens doutores no país. Um dos resultados mais proeminentes dessa rede foram os projetos de seqüenciamento dos genomas dos citrus.

“Os programas novos serão lançados pelo ministro Sérgio Rezende daqui a duas semanas e por isso eu não posso discuti-los agora com detalhes. Mas um deles é um programa que vai ser o herdeiro do antigo Programa Instituto dos Milênios, que envolve laboratórios diferenciados, complexos e em geral se associam em rede com outros laboratórios, têm um financiamento maior e mais estável e, além de fazer pesquisa de ponta em projetos temáticos, têm de ser muito ativos em formar pesquisadores, técnicos, qualificar pessoas e, além disso, têm que fazer transferência de conhecimento para a sociedade, seja para empresas públicas ou privadas, seja para a população na forma de atividades educativas. Este é um programa complexo que atenderá a um certo número de centros”, declarou.


Zago (à dir.): investimentos prioritários

Setores prioritários – Além do programa de cotas de bolsas para a pós-graduação, o CNPq aumentou em 1.300 o número de novas bolsas que se destinam para setores considerados prioritários pelo organismo. Dessas, metade já foi julgada e direcionada para as áreas experimentais da física, matemática, engenharias, saúde e segurança. Há um edital aberto para a outra metade dessas bolsas, disse Zago.

O presidente mostrou um quadro comparativo das áreas que mais publicam trabalhos científicos no Brasil e na China, país que vem expandindo em grande escala sua inovação e desenvolvimento tecnológico. Zago observou que na China há mais trabalhos publicados em engenharia, física e astronomia, ciência de materiais, química e medicina. Ao passo que, no Brasil, as mais ativas são medicina, agricultura e ciências biológicas, física e astronomia, bioquímica e genética.

“Não que devamos transformar o Brasil ‘numa China’, mas precisamos prestar atenção em por que aquele país conseguiu fazer esse grande movimento em direção à inovação e ao desenvolvimento. Acredito que devemos considerar como estratégicas e que precisam de mais investimentos áreas como as engenharias, ciência de materiais, ciências da computação e engenharia química”, ressaltou.

Zago mostrou que outra preocupação da instituição é a capacitação de recursos humanos e a criação de programas de iniciação científica, além da fixação de doutores e pós-doutorados no país. Segundo Zago, atualmente existem 75 mil jovens envolvidos em programas de iniciação no Brasil. Desse total, 20 mil são bolsistas do CNPq, 15 mil de programas das próprias universidades, outros 15 mil da Fapesp e outros 15 mil são voluntários.

“Diante dos 3,5 milhões de jovens que temos nas universidades, é muito pouco apenas 75 mil envolvidos com pesquisa. Por isso, acredito que as universidades deveriam transformar a iniciação científica em programa obrigatório, pois o papel educativo da universidade é fazer o aluno estudar e aprender fazendo investigação, criticando”, disse.

Zago lembrou que, além do programa do CNPq que incentiva a permanência de doutores e pós-doutorados nos laboratórios brasileiros, recentemente a instituição criou, junto com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o chamado Programa Nacional de Pós-Doutorado, que tem como objetivo absorver, durante o período em que durarem suas pesquisas, jovens doutores para a investigação de temas estratégicos. O programa visa também ao reforço de grupos de pesquisa, à renovação de quadros das universidades e instituições de pesquisa e ao apoio à Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior.

“Esse programa com a Capes atende dando bolsas de uma quantia razoável e com cinco anos de duração. O projeto pode estar vinculado a um curso de pós-graduação ou a um grupo de pesquisa ou a uma empresa. Para esse programa o edital foi encerrado e está agora em julgamento. Houve mais ou menos 2 mil propostas”, disse Zago.

 

Convidados trazem a visão da política nacional

Recentemente participaram de encontros do Conselho Universitário o ministro da Educação, Fernando Haddad, e o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Os próximos convidados serão o diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique Brito Cruz, e secretários de estado, entre eles o secretário de Estado de Desenvolvimento, Alberto Goldman, informou a reitora Suely Vilela. “Entendemos que temos de trazer para os colegiados o que está acontecendo na política nacional de ciência e tecnologia e educação, para que a Universidade possa enxergar e contribuir para essas políticas e adotar programas na mesma direção. A Universidade deve estar próxima às áreas estratégicas de pesquisa e desenvolver redes de pesquisa para fortalecer essas áreas. Temos agora na USP uma discussão inicial sobre a criação de um centro de mudanças climáticas, que é uma área estratégica proposta pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. Esses convidados nos mostram a visão do país e a USP precisa contribuir.”

A USP tem uma participação significativa nos projetos do CNPq e está no primeiro lugar no ranking das universidades que recebem recursos do órgão, lembrou a reitora. Daí um dos motivos para que a Universidade esteja em sintonia com os programas estratégicos daquela agência, disse. “A USP entende como fundamental o Programa Nacional de Pós-Doutorado. Gostaríamos que a USP adotasse pelo menos dois pós-doc por laboratório, porque esse pesquisador é um jovem talento e está pronto para participar efetivamente na orientação de alunos de mestrado, doutorado e iniciação e está pronto para produzir conhecimento. Isso agregaria muito valor à nossa universidade”, afirmou.

A professora disse concordar com o pensamento de que as universidades devem estimular a iniciação científica e até transformar esta atividade em programa obrigatório. Segundo Suely, foi esta preocupação que deu origem, em sua gestão, ao Programa USP de Iniciação Científica, que concedeu 1.500 bolsas para graduandos. “A formação empreendedora passa necessariamente por um programa de iniciação, que vai despertar o raciocínio independente e a criatividade no aluno. A Universidade precisa formar empreendedores, empreendedorismo, aqui, entendido como atitude e criatividade, pois é esse o profissional que irá sobreviver na sociedade do conhecimento”, disse.

 
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