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Comunicação musical

A música, em toda a sua história, sempre bebeu e se apoiou nas conquistas técnicas e teóricas da filosofia, poesia e teatro, servindo de base para que estas áreas também reformulassem muitos de seus princípios. Isso é o que afirma o professor Eduardo Seincman, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, autor do livro Estética da Comunicação Musical (Via Lettera Editora, 160 págs., R$ 40,00). “A música não dialoga só a partir de notas musicais. Ela dialoga com contextos culturais”, diz Seincman. Partindo da premissa de que a comunicação é o dado fundamental de qualquer manifestação cultural, discute a posição do compositor, do intérprete e do público frente à música que é executada no palco. A obra reúne ensaios do professor e compositor e mostra que, a partir de uma estética da comunicação musical, será possível repensar a composição, a interpretação e a escuta. Passa pelo barroco, classicismo, romantismo e modernismo, contando como o diálogo através da música depende das visões de mundo de seus criadores e intérpretes.

 

Exercícios do Olhar

As relações entre o olhar e as produções artísticas são temas de Exercícios do Olhar: Conhecimento e Visualidade (Editora Unesp, 112 págs., R$ 24,00), da professora associada do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, Carmen Aranha. Partindo de perguntas como “Quando o indivíduo é criativo?” e “Como deflagrar a criatividade no ser humano?”, a autora iniciou seu estudo de caso que deu origem ao livro. Junto a professores de artes plásticas, constatou que a produção artística genuína é gerada quando o aluno tem liberdade criadora, que emerge da inspiração. Por meio de análises e exemplos encontrados em capítulos como “A Desordem da Criação”, “O Rigor da Fenomenologia da Percepção”, “A Conquista da Realidade” e “A Escrita do Olhar”, busca as mudanças essenciais provocadas na linguagem da arte ao longo da história, do barroco à produção moderna do século 20. Fala também sobre o sistema de financiamento às artes, que prioriza eventos em detrimento de outras áreas da ação cultural, colaborando para atrofiar o processo artístico. Por fim, o livro mostra as relações de passagem para as tensões características da arte atual.

 

Por Trás dos Muros

O Projeto Quixote lança Por Trás dos Muros – Horizontes Sociais do Graffiti (Editora Peirópolis, 133 págs., R$ 40,00), que mostra as inspirações de jovens que encontram no spray e no látex instrumentos de transformação social. A obra foi organizada pela jornalista Kátia Menezes e a coordenadora de Ensino e Pesquisa do projeto, Graziela Bedoian. Na convergência entre fotografia e texto, o leitor encontra as diversas linguagens do grafite e posicionamentos sobre ele, como forma de fortalecimento da identidade e da afirmação do sujeito. O livro se divide em três capítulos: “Identidade Cultural”, “Graffiti Social: Projeto Quixote” e “Graffiti: Viver Disso?” Uma série de entrevistas com terapeutas, educadores e grafiteiros compõem a narrativa, apresentando o ingresso dessa arte na vida das crianças e a experiência na geração de renda. Entre os entrevistados estão o cineasta Jon Reiss, que dirigiu o documentário Bomb It; e a urbanista Raquel Rolnik, ex-secretária nacional de Programas Urbanos do Ministério de Arquitetura e Urbanismo; além dos grafiteiros Ota, professor de educação artística; Past, estudante de arte e design; Cuba e Wolpy, todos ligados ao projeto.

 

8 X Fotografia

Reflexões sobre imagens e renomados fotógrafos permeiam os oito ensaios do livro 8 X Fotografia (Companhia das Letras, 184 págs., R$ 41,00), editado em parceria com o Centro Universitário Maria Antonia da USP. Questionando concepções consagradas, os textos refletem sobre a questão da imagem, aproximando a fotografia da filosofia, política e memória. Os críticos Alberto Tassinari e Rodrigo Naves passeiam pela obra de Henri Cartier-Bresson, cujo centenário de nascimento se comemora este ano, e André Kertész; o jornalista Eugênio Bucci parte de um antigo slide de família para refletir de que maneira as fotos dos álbuns pessoais constroem uma percepção afetiva do tempo; o mesmo assunto é abordado pelo poeta e filósofo Antonio Cicero, que analisa uma colagem fotográfica de David Hockney; o jornalista Marcelo Coelho se detém nos cartazes de uma foto do americano Walker Evans, que registrou o interior dos Estados Unidos logo após a crise de 1929; e o sociólogo José de Souza Martins analisa a tradição da fotografia épica brasileira através de uma imagem de Sebastião Salgado. Além de outros ensaios, a edição traz um caderno de fotos em papel cartão destacável, para que as fotografias possam ser vistas ao mesmo tempo em que se lêem os textos.

 

Caminhos da Conquista

Para redescobrir a história da formação do Brasil, Caminhos da Conquista: A Formação do Espaço Brasileiro (Editora Terceiro Nome, 240 págs., R$ 96,00), que aborda os diferentes ritmos e formas de conquista e ocupação no país. A obra é dos professores Vallandro Keating (com formação em Arquitetura e Urbanismo pela USP) e Ricardo Maranhão (mestre em Ciências Sociais e doutor em História pela USP), que proporcionam ao leitor novos ângulos de visão sobre o tema, estimulando a reflexão e a crítica das posturas intelectuais que a historiografia tradicional estabeleceu. O livro é repleto de desenhos que completam os textos na construção de um olhar histórico, geográfico e artístico sobre o espaço do Brasil, percorrendo aproximadamente 300 anos do período colonial. Ilustrações e mapas mostram trilhas e caminhos utilizados nas incursões desbravadoras e apresadoras, a fundação de cidades e fortes, as expedições bandeirantes e missões jesuíticas, o cotidiano dos tropeiros e a consolidação de um mercado interno. Segundo os autores, “as guerras de concorrência entre os diversos colonizadores, a escravidão e exploração dos indígenas e dos negros, a ousadia dos exploradores e o papel imprescindível do conhecimento que nossos primitivos habitantes tinham do território configuram um processo secular de conquista, desenhando as fronteiras e o espaço do Brasil”.

 

A arte de Oiticica

Textos de pesquisadores de cinco países, fotografias de obras e manuscritos inéditos estão reunidos no livro Fios Soltos: A Arte de Hélio Oiticica (Editora Perspectiva, 416 págs., R$ 65,00), primeira coletânea de artigos sobre o trabalho de Oiticica. Em edição bilíngüe (português/inglês), a obra responde ao crescente interesse internacional pela obra de Oiticica. Autor da frase “Se não mais existem movimentos vanguardistas é porque cada um deve ser a vanguarda”, ele desenvolveu proposições e textos teóricos que definem o além-da-arte que o artista chama de invenção, o novo que emerge do corpo e do comportamento. A coletânea é organizada por Paula Braga e contém artigos como “Inconformismo Estético, Inconformismo Social, Hélio Oiticica”, de Celso Favaretto; “O Hélio não Tinha Ginga”, de Michael Asbury; “Corpo + Arte = Arquitetura: Proposições de Hélio Oiticica e Lygia Clark”, de David Sperling; “Anotações sobre o Parangolé”, de Jordan Crandall; “Cosmococa – Programa in Progress: Heterotopia de Guerra”, de Beatriz Scigliano Carneiro; e “Na Selva Branca: O Diálogo Velado entre Hélio Oiticica e Augusto e Haroldo de Campos”, de Gonzalo Aguilar, além de textos do próprio artista.

 

O Projeto da Praça

O arquiteto chinês Sun Alex apresenta em O Projeto da Praça: Convívio e Exclusão no Espaço Público (Editora Senac, 292 págs., R$ 92,00) um histórico da evolução da concepção de praças na Europa e Estados Unidos. O autor analisa ainda a situação de seis praças na cidade de São Paulo, descritas como refúgios de tranqüilidade em meio ao caos que acabaram virando deserto. O livro é fruto de uma tese de doutorado defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e analisa os impactos do paisagismo americano moderno que chegou a São Paulo nos anos 60 e 70. Segundo o autor, "no Brasil, há a cultura da reforma. Parece até que não fazemos a manutenção adequada nem investimos em projetos corretos para ter de reformar, na cultura política de inaugurar o espaço". Cita praças como Plaza Mayor, em Madri, e a Piazza del Campo, em Siena, além das paulistanas Sé e a do Arouche. Para Alex, a pior praça da cidade é a Júlio Prestes: “Está ao lado de uma escola de música, próxima de locais do centro que fervilham de gente, e não reflete em nada essa diversidade. É um espaço deserto". O arquiteto fala também dos espaços verdes criados dentro de empreendimentos imobiliários, as “praças sem cidade”, e aponta o impacto dos projetos urbanos americanos até a Segunda Guerra, em oposição à idéia da praça como espaço de convívio.

 
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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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