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Uso Eficiente de Energia (Pure) e Uso Racional da Água (Pura) – uniram-se na Semana do Meio Ambiente na USP (que começa nesta segunda-feira, dia 2) e convocaram especialistas para analisar, não qual delas tem a preferência de Deus, mas este tema básico: “Água, resíduo, energia: quem paga para ver? Uma vida sustentável para nós e para as futuras gerações”. Poetas de versos formais não foram convocados, e para quê, se a poesia está em toda parte?
Serão dias de ouvir (debates) e de ver (filmes), primeiro, no auditório do prédio da Energia Elétrica da Poli, depois no Cinusp, na rua do Anfiteatro. Entre os convidados, Paulo Saldiva, o pesquisador da Faculdade de Medicina que os paulistanos conhecem bem, pois com freqüência aparece na televisão mostrando os malefícios da poluição e como é saudável andar de bicicleta em vez de usar carro. A professora Maria Laura Silveira, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), vai comentar o filme Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. A comunidade científica se lembra bem de Milton Santos, o geógrafo brasileiro mais conhecido e premiado no exterior, falecido em 2001.
Templo e catedral – Merece reflexão a posição de dois economistas sempre atentos à questão ambiental. Valquíria Padilha, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, autora de estudo sobre shopping center, que classifica de catedral das mercadorias e templo do consumo, disse que, embora ensine economia capitalista, mantém-se na perspectiva crítica, sociológica (possui graduação em Ciências Sociais pela PUC de Campinas e mestrado em Sociologia pela Unicamp). “Estamos embalados pela publicidade, levados a acumular capital, servir ao capital, mas isso não supre as necessidades humanas. E ainda há o outro lado, o desgaste do ambiente pelo excesso de consumo.”
Conservação
da água,
tratamento
de resíduos e
produção de
energia são os
temas principais
da Semana do
Meio Ambiente
na USP: filmes
e debates para
gerar reflexão,
conscientização
e preservação
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Diante dessa realidade do consumo que nos manipula, as pessoas tentam se proteger e se organizam em associações e outras formas de pensar, agir e defender o ambiente. As três entidades da USP que organizaram a semana seriam exemplos desse esforço. Segundo a professora, são representativas da fase do possível, pois a fase do desejável só virá quando mudar a “lógica produtivista”. Mudar mentalidades demanda muito tempo. Ainda bem, disse, que vivemos numa época facilitadora do debate, que abre brechas para pensar a realidade. Ensina Valquíria que “o medo organiza as pessoas”. Elas procuram saídas pelo diálogo, não mais pelas revoluções.
Outro economista, Ladislau Dowbor, diz que ele mesmo gostaria de saber o que deveria falar aos participantes da semana ambiental. Certamente que a dúvida não lhe vinha por falta do que dizer; talvez por excesso. Dowbor estudou muito. Economia na Universidade de Lausanne (Suíça) e na Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia (Polônia) e continua a aprender ensinando na PUC paulista. Como Valquíria, associa a área econômica às exigências sociais num planeta em explosão, em que 4 bilhões de pessoas vivem precariamente e 75 milhões se acrescentam anualmente ao contingente mundial. Enquanto isso, os recursos naturais vão se esgotando e o perfil de consumo se torna cada vez mais insustentável. Nesse contexto, o grande desafio da humanidade apontado pelo professor é: o que fazer, como decidir? “Uma coisa é constatar o drama, analisar a catástrofe em câmera lenta, outra coisa é encontrar uma saída.”
De acordo com o professor, é urgente mudar os processos mundiais decisórios. Já não se pode confiar em políticas como a do presidente norte-americano George Bush ou nos executivos das transnacionais que, imitando imperadores e príncipes do século 19, antes das catástrofes fazem bailes e alardeiam otimismos. Os desafios principais do planeta “consistem em nos dotarmos de formas de organização social que permitam ao cidadão ter impacto sobre o que realmente importa, em gerar processos de decisão mais racionais. Com a globalização o processo se agravou. As decisões estratégicas sobre para onde caminhamos como sociedade passaram a pertencer a instâncias distantes”. Assim, “as reuniões dos que mandam, em Davos, lembram vagamente as reuniões de príncipes brilhantes e inconscientes na Viena do século 19. A ONU carrega uma herança surrealista, onde qualquer ilhota do Pacífico com status de nação tem um voto, tal como a Índia, que tem um sexto da população mundial”.
Até a forma de avaliar o sucesso dos esforços econômicos deveria sofrer alteração, na opinião de Dowbor. Ele diz: “Liquidar a vida dos mares aparece como aumento do PIB, quando só se contabiliza o que se extrai, e não se contabiliza a descapitalização planetária que daí resulta. Cortamos as nossas florestas, destruímos a camada do solo, liquidamos as reservas de petróleo, esgotamos os lençóis freáticos de água. E nada disso é contabilizado, a não ser como valor positivo no produto vendido, sem desconto nos custos ambientais”. Isso quer dizer que, em termos contábeis, “o PIB é calculado de forma errada. Nenhuma empresa ou administração pública teria as suas contas aprovadas se não levasse em conta a redução dos estoques”.
Filmes que geram reflexões
A Semana do Meio Ambiente na USP será aberta nesta segunda-feira (2), às 9h30, no auditório do Departamento de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica (avenida Professor Luciano Gualberto, travessa 3, número 158), com a mesa de debates sobre “Água. Resíduo. Energia”. A mostra de filmes e debates será no Cinusp Paulo Emilio (rua do Anfiteatro, 181, Colméia, favo 4). A programação da mostra de filmes (um curta às 16 horas e um longa às 18 horas) é a seguinte:
Segunda-feira: Ilha das flores (12 min.), Estamira (115 min.).
Terça-feira: Césios (13,7 min.), 500 Almas (109 min.).
Quarta-feira: Narradores de Javé (100 min.), Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá (89 min.).
Quinta-feira: Mudanças do clima, mudanças de vida (15 mim.); Uma verdade inconveniente (100 min.).
Sexta-feira: Arraial do Cabo (17 min.); O pesadelo de Darwin (109 min.); Sociedade do Automóvel (39 min.).
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