O brasileiro
O Cheiro do
Ralo, de
Heitor Dhalia,
a partir do romance de Mutarelli
(ao lado), e, abaixo,
o clássico
Morte em
Veneza, de
Luchino
Visconti
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Institute, que destaca os cem melhores filmes da história do cinema americano, mostrando que, dos longas da lista, 42 foram adaptados ou inspirados em romances e contos, sete foram baseados em livros de não-ficção e mais cinco em peças ou musicais de teatro. O instituto destaca títulos como O Poderoso Chefão (1972), um clássico baseado no livro de mesmo nome de Mario Puzo; Spartacus (1960), criado a partir da obra homônima de Howard Fast; E o Vento Levou (1939), baseado na novela de mesmo nome escrita por Margareth Mitchell; O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001), que tem como ponto de partida o livro homônimo de John Ronald Reuel Tolkien; e Forrest Gump (1994), inspirado na novela de Winston Groom, que carrega o mesmo nome; Amor, Sublime Amor (1961), de Robert Wise e Jerome Robbins, que foi adaptado do musical homônimo da Broadway, que é, por sua vez, baseado na peça Romeu e Julieta, de Shakespeare.
O cinema conta, ainda, com outros clássicos baseados em obras literárias selecionados para exibição como Um Amor em Swann (Alemanha/França, 1984), obra-prima de Marcel Proust que teve sua versão cinematográfica dirigida por Volker Schlondörff; Morte em Veneza (Itália/França, 1971), escrito por Thomas Mann e levado para as telas por Luchino Visconti; Lolita (EUA, 1962), romance de Vladimir Nabokov que virou filme pelas lentes de Stanley Kubrick; e Macunaíma (Brasil, 1969), rapsódia de Mário de Andrade transposta para o cinema por Joaquim Pedro de Andrade. O caso desta última obra é interessante, pois, se o romance já havia sido representante da vanguarda do Modernismo literário no Brasil, o filme, por sua vez, foi produzido no momento do surgimento do Cinema Novo, na década de 60, outro período vanguardista brasileiro que culmina com a Tropicália. Tanto o filme quanto o livro adquiriram força e significado em momentos diferentes, mas seguindo a mesma temática e estrutura. Isso reforça o fato de que a transposição da gramática literária para a gramática particular do cinema constitui, por si só, um ato de inovação artística.
Uma outra forma de diálogo entre cinema e literatura diz respeito a uma transposição não completamente fidedigna da obra literária, mas sim a uma intertextualidade pontual, que permite a extração dos temas universais do romance e sua atualização. Nesse quadro encaixa-se o longa Match Point (EUA, 2005), em que Woody Allen reconstrói, a partir de outro ângulo, a cena de assassinato de Crime e Castigo, de Dostoiévski. O diretor diz, dessa forma, que os temas tratados pelo livro ainda são pertinentes, podendo ser revisitados pelo viés dos valores da sociedade atual.
Ainda estão presentes na mostra, A Dama de Honra (Alemanha/França, 2004), dirigido pelo premiado cineasta francês Claude Chabrol, que transforma em suspense romântico a obra homônima de Ruth Rendell; Mil e Uma Noites (EUA, 1974), de Pier Paolo Pasolini, uma adaptação da antiga antologia árabe O Livro das Mil e Uma Noites, formado por diversos contos eróticos; e Pecados Íntimos (EUA, 2006), com direção de Todd Field, baseado no romance Criancinhas, do escritor norte-americano Tom Perotta; O Cheiro do Ralo (Brasil, 2007), uma adaptação do primeiro livro de ficção do cartunista Lourenço Mutarelli dirigida por Heitor Dhalia; Fahrenheit 451 (Inglaterra/França, 1966), de François Truffaut, que dá uma assustadora dimensão realística à obra-prima literária de Ray Bradbury sobre um futuro sem livros; e Querelle (Alemanha/França, 1982), dirigido por Rainer Werner Fassbinder e baseado livremente no romance homônimo de Jean Genet.
A literatura nunca deixou de desafiar o cinema no que tange à riqueza da linguagem. Este, por sua vez, instiga o universo literário pela riqueza de suas construções imagéticas. Se o cinema se esforça para conseguir transpor a beleza das composições lingüísticas, por outro lado, a literatura vive uma fase em que não pode deixar de prestar contas aos estonteantes planos cinematográficos.
A mostra fica em cartaz até dia 27 de junho, com sessões de segunda a sexta, às 16h e 19h, no Cinusp, que fica na r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, tel. 3091-3540. A programação completa da mostra e a sinopse dos filmes podem ser acessadas pelo site www.usp.br/cinusp. Entrada franca.
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