A Medalha de Mérito Oswaldo Cruz, criada pela Presidência da República em julho de 1970, foi entregue na manhã de 10 de junho a duas personalidades paulistanas com a pompa e a circunstância que a honraria exige. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador José Serra, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o ministro da Saúde, José Gomes

Foto crédito: Cecília Bastos

Temporão e o ministro do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, além do diretor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, prestaram as homenagens aos dois laureados nas categorias ouro e prata, respectivamente, o empresário Antônio Ermírio de Moraes e o médico cardiologista do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) Roberto Kalil Filho.

A cerimônia realizada no teatro da Faculdade de Medicina da USP também contou com a presença dos senadores Romeu Tuma e

Lula na cerimônia de entrega da medalha: “Uma nação é construída de exemplos e não de discursos”

Eduardo Suplicy, do secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, de administradores hospitalares, médicos e profissionais da saúde, além do vice-reitor da USP, Franco Maria Lajolo representando a reitora Suely Vilela. O empresário Antônio Ermírio, que está em férias, foi representado pelo filho Rubens Ermírio de Moraes.

Como pede o protocolo, a categoria prata foi entregue pelas mãos do ministro Temporão e a categoria ouro, pelo presidente da República. A outorga da medalha é feita por decreto do Poder Executivo, mediante indicação do Ministério da Saúde. A honraria destina-se a “galardoar pessoas nacionais e estrangeiras que, no campo das atividades científicas, educacionais, culturais e administrativas relacionadas com a higiene e a saúde pública em geral, se hajam distinguido de forma notável ou relevante, e tenham contribuído direta ou indiretamente para o bem-estar físico e mental da coletividade brasileira”, segundo o texto do decreto 66.988, de 1970.

Temporão falou das dificuldades de definir os critérios para indicar essa honraria. “Pensamos em homenagear de alguma forma os médicos que trabalham em pequenos municípios ou que se dedicam ao trabalho na longínqua Amazônia, prestando um grande serviço ao país e lutando para fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Pensamos, ainda, no capital simbólico que representa a medicina na cidade de São Paulo. Optamos por homenagear um jovem médico e professor pelo exemplo e dedicação, e o empresário, por suas relevantes ações na área, especialmente através do hospital da Beneficência Portuguesa”, disse o ministro, antes de entregar a medalha a Kalil.


A cerimônia na Faculdade de Medicina: exemplos de dedicação ao país

Nas palavras de Temporão, Kalil foi escolhido pelas qualidades de “clínico, cardiologista, professor, orientador e pesquisador”, além de ser um exemplo de “pessoa, conhecimento, técnica, atenção, cuidado, carinho e desvelo”.

Antes da fala do ministro, Kalil fez um discurso agradecendo à família e a colegas e dedicou o prêmio às filhas Rafaela e Isabela, que suportaram “intermináveis horas de espera e planos frustrados” pela ausência do pai em razão do trabalho. “A medicina é conhecimento, paixão, suor e dores. Minha paixão é a medicina, a medicina e a medicina”, disse Kalil.

Livre-docente do Departamento de Cardiologia da Faculdade de Medicina da USP e vice-presidente da Comissão de Ensino do Incor, o cardiologista se dedica a pesquisas com ressonância magnética e possui inúmeros trabalhos publicados em revistas da área e em congressos. Para Kalil, o prêmio representa toda a classe médica.

Sensibilidade – Serra improvisou alguns trechos de seu discurso lembrando que ambas as categorias tinham uma característica heterodoxa. “Primeiro porque Antônio Ermírio não é médico. Segundo, porque Kalil é jovem e, portanto, recebe o prêmio no auge da carreira.” Kalil é o médico de várias pessoas famosas e personalidades, incluindo o próprio Serra e também o presidente Lula. “Posso dizer que Kalil encara como poucos a solidariedade que a profissão exige, pois uma pessoa, quando procura um médico, é porque está fragilizada e necessita de uma atenção especial. Quando telefono para ele à noite, ele nunca diz que está dormindo. Acho que ele nunca dorme”, brincou o governador.

A respeito de Antônio Ermírio, Serra disse que o empresário se dedica pessoalmente à administração do “hospital governamental que mais atende ao SUS no Brasil”. Quando era governador, Serra disse que inúmeras vezes teve de ouvir do empresário o quanto o hospital gasta com eletricidade e até com papel higiênico, além de questões acerca do acesso viário para o hospital. “A Beneficência Portuguesa possui categoria de referência e 60% de seus leitos são do SUS. Tudo isso tem o dedo pessoal do empresário. Esta é só uma das ações de Antônio Ermírio voltadas ao bem da saúde pública. Ele escreveu inclusive uma peça teatral sobre saúde, tal seu envolvimento com o setor”, disse Serra.

Boulos, que abriu a cerimônia, disse que Kalil representa o extremo da sensibilidade, pois trabalha com o coração, que, para místicos e poetas, “é a sede da sensibilidade, da emoção, do amor, da compaixão, e ele usa tudo isso no seu trabalho”, disse. O diretor lembrou que o empresário Antônio Ermírio é membro do Conselho Consultivo da Faculdade de Medicina e um dos maiores contribuintes para o restauro do prédio da faculdade.

Já o prefeito Kassab disse que Antônio Ermírio possui centenas de ações que contribuíram para a medicina brasileira e para o aumento da capacidade de atendimento da saúde pública. Por outro lado, Kalil é “um orgulho para a medicina” por suas qualidades profissionais e morais, disse.

 

“Quem sobressai tem alguma anormalidade”

Com muitos improvisos, o presidente Lula, último a discursar na cerimônia de entrega da Medalha Oswaldo Cruz, na Faculdade de Medicina da USP, abriu sua fala dirigindo-se diretamente às filhas de Kalil. “Caras Rafaela e Isabela: uma pessoa normal não vence na vida. Todas as pessoas que sobressaem é porque têm alguma anormalidade”, disse, arrancando muitas risadas da platéia. “E essa anormalidade é trabalhar muito. Eu, por exemplo, nunca pude estar presente no nascimento de meus filhos. Espero que vocês compreendam isso e tratem com muito carinho esse baixinho”, emendou, descontraindo ainda mais os presentes.

Lula voltou ao discurso formal afirmando que o trabalho de Kalil “torna a medicina brasileira uma referência de respeito e admiração”. Para o presidente, o prêmio “simboliza todos os profissionais de saúde que ampliam a ciência no país”. Já o empresário Antônio Ermírio, que com 80 anos de idade exibe uma vitalidade como poucos e multiplica a riqueza do país através de seus inúmeros projetos, disse Lula, “desmente a crença de que um empresário bem-sucedido não pode se dedicar à causa pública”, afirmou. “O positivo disso é que sua linhagem já tem seguidores nesta causa, pois seu filho Rubens vem se dedicando à administração de outros hospitais”, disse Lula. “Uma nação é construída de exemplos e não de discurso”, afirmou.

Nesse momento o presidente aproveitou para mencionar que o governo lutará para recuperar os recursos perdidos com a arrecadação da CPMF. “Falando em discurso, tenho admiração por Adib Jatene (ex-ministro da Saúde), que fez um belo discurso defendendo a CPMF. Mas, infelizmente, não mexeu com a sensibilidade de alguns senadores. Não deu (para continuar com a CPMF), mas agora temos que encontrar outro dinheiro para fazer o PAC da Saúde, que será uma revolução. O mais bem elaborado programa para a saúde deste país deixou de ser elaborado porque alguns disseram que sem a CPMF se reduziria a carga tributária. Porém, ainda não vi nenhum produto que ficou 0,38% mais barato no bolso do consumidor”, disse Lula. Finalizou desejando que “mais pessoas com talento possam nascer e trazer seu conhecimento para o país”.

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[
EXPEDIENTE] [EMAIL]