Fernando Solanas é um dos cineastas mais importantes do cinema argentino. Autor de uma trajetória marcada por forte crítica social e questionamentos políticos, seus filmes se relacionam com a sensibilidade e a cultura do país, como A Nuvem, A Hora dos Fornos e Argentina Latente. Figura influente na produção latina, o diretor é o principal convidado

e será homenageado na terceira edição do Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, realizado a partir de segunda até 13 de julho, com programação que inclui 121 longas e sessões gratuitas no Memorial da América Latina, Cinesesc, Sala Cinemateca e Cinusp. A sessão de abertura, realizada às 20h30 no Memorial, exibe o documentário Os Uruguaios, dirigido pela cineasta Mariana Viñoles, que traça um delicado panorama do pequeno país ao sul do continente americano. Trata-se de um episódio da série

Questionamentos políticos em A Nuvem (1998), do argentino Fernando Solanas, homenageado pelo festival

Os Latino-Americanos, cujos dez primeiros títulos ganham pré-estréia durante o festival.

O cineasta Fernando Solanas profere uma aula magna no próximo sábado, dia 12 de julho, às 15h, em que discute temas relacionados à sua obra e ao cinema latino. O diretor acompanha também a exibição de parte importante de sua filmografia, que conta com os títulos Sur (1988), em que um homem acusado de atividades subversivas durante a ditadura deixa a prisão após cinco anos; Argentina Latente (2007), ensaio testemunhal sobre as potencialidades do país para enfrentar sua reconstrução; Os Filhos de Fierro (1972), inspirado no poema Martín Fierro, de José Hernández; A Hora dos Fornos (1968), trilogia documental e obra fundamental do cinema político-militante; e A Nuvem (1998), que acompanha os esforços, alegrias e desventuras de um grupo de atores que defendem um velho teatro independente que está prestes a ser vendido, entre outros.

O festival presta homenagem ainda ao cubano Tomás Gutiérrez Alea, que completaria 80 anos em dezembro de 2008, através de uma retrospectiva de sua obra, que conta com os títulos Histórias da Revolução (1959), que traz relatos da tomada de poder pelos revolucionários; a comédia Morte de um Burocrata (1966), que critica a burocracia e seus personagens enferrujados; o clássico Memórias do Subdesenvolvimento (1968), que retrata um burguês que vê sua família e amigos migrarem após a revolução, mas decide ficar no país; Morango e Chocolate (1994) e Guantanamera (1995), que evidenciam aspectos polêmicos da sociedade e do estado cubano, como a homofobia e a burocracia.


O mexicano Partes Usadas (2007) de Aáron Fernández, dentro da sessão Contemporâneos

Programação – Além das homenagens, o festival exibe ainda as sessões Contemporâneos, que reúne 35 títulos produzidos entre 2006 e 2008 por países como Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Cuba, Peru, República Dominicana e Venezuela; Desdobramentos do Cinema Novo, uma retrospectiva do movimento dos anos 1960, com obras influenciadas pelas discussões sociais e estéticas dos novos cineastas da época; Mostra Escolas de Cinema, dedicada a curtas-metragens produzidos por importantes escolas da América Latina; e Os Latino-Americanos, que promove a pré-estréia dos dez primeiros documentários da série homônima, desenvolvidos pela Televisão América Latina (TAL).

Contemporâneos traz, por exemplo, os longas M (Argentina, 2007), de Nicolas Prividera, premiado como melhor filme no Festival Mar Del Plata; Partes Usadas (México, 2007), de Aarón Fernández, que mostra as relações entre juventude e criminalidade; a comédia policial inédita no Brasil A Noite dos Inocentes (Cuba, 2007), de Arturo Sotto Díaz, que fala de uma Havana repleta de preconceitos e um travesti violentamente agredido. Outros títulos inéditos são Os Andes Não Crêem em Deus (Bolívia, 2007), de Antonio Eguino; e O Presidente Tem Aids? (Haiti, 2005), de Arnold Antonin.

Desdobramentos do Cinema Novo exibe dez obras influenciadas pelo movimento, como O Lugar Sem Limites (México, 1977), de Arturo Ripstein, ambientado em prostíbulos e que coloca homossexuais, prostitutas e boêmios como sujeitos com potencial de transformação social; A Lira do Delírio, (Brasil, 1978), de Walter Lima, que se passa no Rio de Janeiro, em ambientes de ruptura comportamental; e o documentário Chircales (Colômbia, 1972), dirigido por Jorge Silva e Marta Rodriguez, que aborda a situação de exclusão vivida pela população da zona rural.

A Mostra Escolas de Cinema reúne doze escolas representadas pela International Association of Film and Television Schools (Cilect). Ao fim do festival, o melhor curta será premiado com uma bolsa-residência no Brasil para desenvolvimento de um projeto cinematográfico.


O documentário colombiano Chircales (1972), de Jorge Silva e Marta Rodriguez, sobre a exclusão

Já Os Latino-Americanos traz a pré-estréia dos documentários Os Argentinos: 13.000 km de Diversidade e Conflito, de Luis Esnal; Os Colombianos: Tal Como São, com direção geral de Omar Rincón; Os Equatorianos: Este Maldito País, de Juan Martín Cueva; e Os Peruanos: Panelas e Sonhos, de Ernesto Cabellos Damián, entre outros.

O festival oferece ainda uma série de debates com grandes nomes do cinema. Na próxima quinta, dia 10 de julho, o assunto é Nova Geografia, às 15h, e Ensino, às 20h; e na próxima sexta, dia 11, os diretores discutem a obra de Tomás Gutiérrez Alea, às 15h; e o tema Realidade: Apreensão e Representação, às 20h. Ainda durante o festival serão lançados os livros Memórias do Subdesenvolvimento, do cubano Edmundo Desnoes, que inspirou o filme homônimo, e Ciclo de Debates – 1º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, organizado por Maria Dora Mourão.

O festival vai até 13 de julho, no Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, 3823-4600), no Cinesesc (r. Augusta, 2.075, Cerqueira César, 3087-0500), na Sala Cinemateca (Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, 3512-6111) e no Cinusp (r. do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colméias, Cidade Universitária, 3091-3540). Grátis. A programação pode ser acessada no site www.memorial.sp.gov.br.

 
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