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modernização, que transformou a experiência visual do cidadão”, explica Helouise. “Não se tratava de produzir imagens destinadas apenas à contemplação. A fotografia passou a ser entendida prioritariamente como imagem pública de consumo, produzida para circular na forma impressa. É o momento da consolidação de um mercado para a fotografia e da profissionalização da atividade de fotógrafo.”
Helouise observa que as imagens registram o momento em que a fotografia deixa de ser apenas uma tentativa de capturar o real para tornar-se uma atividade de interpretação. “Rompe-se, assim, a antiga incompatibilidade entre documentação e experimentação. Do mesmo modo, caem por terra as fronteiras entre a fotografia como expressão artística e a fotografia aplicada.”
A mostra reúne 150 fotos, sendo 19 do acervo do MAC, 11 do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP e 120 da coleção do Banco Santos, que, desde 2005, está sob a guarda do MAC por determinação judicial da 6a Vara Federal. “A justaposição dessas coleções mostrou-se reveladora, na medida em que nos permitiu identificar a permanência de certos temas como a cidade, o retrato do artista, o nu e o movimento, assim como a reiteração de um certo tipo de olhar nos mais diversos contextos socioculturais.”
Um fenômeno que, segundo Helouise, que também atua como vice-diretora e professora do MAC, aponta para a internacionalização de uma nova visão de mundo. “Essa tendência pode ser observada em imagens de fotógrafos brasileiros, mexicanos, franceses, alemães, norte-americanos e japoneses, entre outros, resultando do intenso trânsito de pessoas, informações, idéias e técnicas.”
A curadora
Helouise Costa:
fotografias
remetem às
transformações
culturais da
modernização
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Homenagem a Baudelaire – O conceito da exposição remete à reflexão do poeta francês Charles Baudelaire, no conhecido ensaio O pintor da vida moderna, onde o pintor Constantin Guys passa a buscar o eterno no cotidiano do homem comum. “Baudelaire afirma que o seu personagem busca o circunstancial e tudo o que este sugere de eterno. As fotos desta mostra colocam em evidência as marcas do momento em que foram produzidas e, talvez, justamente por isso, pareçam materializar, a um só tempo, o transitório e o imutável que, segundo o poeta, habitam a modernidade.”
Esse é um conceito que o visitante pode perceber ao observar o olhar de Thomas Farkas, precursor da fotografia moderna no Brasil e um dos fundadores do Departamento de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, registrado na foto Telhas, de 1947. Uma imagem que registra um momento único, quando a sombra incide sobre as telhas, propiciando a diluição da realidade. As telhas deixam de ser telhas e a foto se transforma em gravura. “A cidade moderna passou a oferecer ao cidadão urbano experiências perceptivas inusitadas, marcadas pela velocidade, pela simultaneidade, fragmentação e contraste”, lembra Helouise. “Tornou-se comum vivenciar no cotidiano a justaposição de elementos díspares, a visão de objetos fora de contexto, em escalas não habituais. Estas são características marcantes da cena urbana incorporadas pela estética moderna, de uma maneira geral, e pela fotografia em particular.”
Interessante também é a relação dos fotógrafos com os artistas. De um lado, estão Picasso, Chagal, Frida Kahlo e Diego Rivera, entre outros, em seus ateliês, permitindo-se acompanhar em seu dia-a-dia. Por sua vez, os fotógrafos Brassaï, Bresson, André Kertész, Lucien Bloch e Carl Van Vechten compõem retratos com a mesma composição de uma pintura.
“Fotógrafos da Vida Moderna” é a primeira grande mostra de fotografia que resulta da guarda provisória de parte da coleção do banqueiro Edemar Cid Ferreira. Um acervo que está sendo cadastrado e tem sido muito importante para as pesquisas que a USP desenvolve. Entre as metas da exposição está o objetivo de conscientizar a população e autoridades sobre a importância da permanência dessa coleção em uma instituição pública, dada a inexistência de um patrimônio fotográfico como esse em território nacional.
A exposição “Fotógrafos da Vida Moderna” está em cartaz até 28 de setembro no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, no Parque do Ibirapuera (avenida Pedro Álvares Cabral s/nº, portão 3, São Paulo), de terça a domingo das 10h às 18h. Entrada franca. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 5573-9932.
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