Saburo Shochi é bastante metódico. Todos os dias, acorda às 6 da manhã, faz exercícios físicos e vai para a escola que coordena. Duas vezes por semana, tem aulas de línguas estrangeiras. E, nos últimos quatro anos, roda pelo mundo durante um período do ano ministrando palestras, vestido com camisa social, mais gravata-borboleta de bolinhas. Um

detalhe: Saburo tem 101 anos de idade. O educador japonês chega ao Brasil em agosto para apresentar, no dia 14, a palestra “Educando o Coração”, na Faculdade de Educação da USP. Saburo vem falar sobre seu sistema de ensino, focado na educação de crianças de até 3 anos de idade.

O professor prega um maior contato entre pais e filhos. Essa proximidade se daria por meio de brinquedos artesanais, construídos com material reciclado. “A criança vê o pai pegar os objetos e transformá-los em brinquedos e fala: ‘Uau, meu pai é demais’”,

exemplifica André Takeshi Yoshimoto, que representa o educador no Brasil.

O método educacional desenvolvido por Saburo é aplicado em sua escola, a Shiinomi Gakuen, no Japão. A instituição foi fundada em 1954 pelo professor, motivado pelo fato de dois de seus filhos terem apresentado problemas no desenvolvimento mental durante a infância. A Shiinomi foi a primeira escola japonesa a trabalhar com crianças com necessidades especiais.

Hoje, além de coordenar sua escola, Saburo também é professor honorário da Universidade de Fukuoka. Com formação variada, que envolve psicologia, medicina e literatura, o educador, desde os 99 anos de idade, passa 40 dias por ano pelo mundo, ministrando palestras. Esta é a sua quarta “volta ao mundo” e sua segunda vez no Brasil.

No ano do centenário da imigração japonesa no país, Saburo comemora seus 102 anos de idade por aqui, em 16 de agosto. Ao todo, o educador ficará cinco dias no Brasil. Essa passagem por terras brasileiras se deve ao sucesso da palestra proferida, no ano passado na Associação Miyagui Kenjin, em São Paulo. Segundo Yoshimoto, Saburo até resolveu investir no português. “Ele, animado com o carinho recebido no Brasil, decidiu estudar um pouco de português para ser gentil.” A visita acontece com a coordenação da professora Roseli Fischmann, da Faculdade de Educação, e com o apoio da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo.

Longevidade – O funcionamento do cérebro de Saburo é compatível com o de um adulto de 30 anos, segundo exame ao qual o professor se submeteu, aos 100 anos de idade, nos Estados Unidos. “Ele enxerga muito bem, fala muito bem”, afirma Yoshimoto. O segredo para isso, segundo o próprio educador, revelado em muitas de suas palestras pelo mundo, é o fato de ele mastigar a comida por 30 vezes antes de engoli-la. Um outro segredo do centenário, segundo Yoshimoto, é estudar línguas. O professor fala japonês, chinês, coreano, inglês, “arranha” n russo e, agora, também o português.

Mas o maior segredo de Saburo talvez seja o fato de ele valorizar o afeto, como faz na educação. “Ele fala que, antes de mais nada, você precisa sorrir para a criança”, revela Yoshimoto. Yoshiharu Kikuchi, vice-diretor da Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo, concorda, com forte sotaque japonês: “Coração é sentimento, né? É mais importante que a inteligência”.

A palestra “Educando o Coração”, com o professor Saburo Shochi, acontece no dia 14 de agosto, das 14 às 17 horas, no auditório da Faculdade de Educação da USP. O evento é gratuito e aberto ao público. As inscrições devem ser feitas até o dia 12 no Apoio Acadêmico da faculdade, que fica na avenida da Universidade, 308, Cidade Universitária, São Paulo. Mais informações pelo telefone (11) 3091-3574.

 
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