Nestes últimos séculos de cultura escrita, o livro já foi personagem central de muitos autores, como Montaigne, Emerson e Manguel. Jorge Luis Borges inicia seu pequeno ensaio intitulado O Livro da seguinte maneira: “Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo.

O microscópio, o telescópio são extensões de sua visão; o telefone é a extensão de sua voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões de seu braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”. Borges relembra ainda os prazeres dos bibliófilos. Para os amantes de livros, cada obra tem um sabor especial. A textura das páginas, os aromas exalados pelo papel e a tinta, a beleza das formas – atributos capazes de despertar uma paixão quase sensual no indivíduo. No entanto, o valor que Borges confere ao livro é mais que físico. “O livro pode conter muitos

erros, podemos não concordar com as opiniões expedidas pelo autor, mas, ainda assim, ele conserva algo sagrado, algo divino, não com um tipo de respeito supersticioso, mas com o desejo de encontrar a felicidade, de encontrar sabedoria.”

Figura ilustre para diversos autores, o livro também será celebrado num importante evento de São Paulo, a Bienal Internacional do Livro, que acontece a partir de quinta até 24 de agosto, no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Criada em agosto de 1970 pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), a Bienal tinha como objetivo introduzir no país a tradição européia das grandes feiras de livros encontradas na França, Alemanha e Itália. Hoje, a prioridade é a difusão do livro e promoção da leitura. Segundo Plinio Martins, presidente da Edusp, “o livro sempre teve pouco espaço de divulgação. O livro nunca é uma notícia, só aparece nos jornais nos fins de semana, nunca em um espaço nobre. Então, a Bienal tem uma função de divulgação e é uma oportunidade para que as editoras mostrem sua produção sem a intermediação do comprador. Numa livraria o que você vê é uma amostra do que a editora produz”.

Martins afirma que, apesar de não haver provas de que a Bienal influencie nos hábitos de leitura do público, constitui uma esperança para os editores. “A quantidade de pessoas que visita a Bienal e paga para ler livros é sintomática. Percebemos que há um interesse muito grande pela leitura. Costuma-se dizer que o Brasil é o país do futebol, mas, num domingo, você pode ter na Bienal o dobro de pessoas de um clássico do futebol paulista, como eu já vi.” Nesse sentido, a Bienal e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo promovem o lançamento do Livro de Todos. O projeto ficou aberto durante um mês e recebeu, via internet, 362 textos de 173 autores diferentes. Ele mostra que não é preciso ter uma grande idéia para escrever um livro e que qualquer um pode se tornar escritor. O capítulo inicial foi redigido por Moacyr Scliar, um dos mais conhecidos autores brasileiros da atualidade. A obra contou ainda com participação do best seller Roberto Shinyashiki e do vencedor do Prêmio Jabuti Menalton Braff, além de Maurício de Sousa, responsável pela ilustração da capa.

Atividades – Além de 4.100 lançamentos e 210 mil títulos expostos, a Bienal deste ano traz 350 expositores – representando mais de 900 selos editoriais – e mais de 130 convidados, sendo que 40 deles são estrangeiros. Eles vêm enriquecer a programação cultural do evento – estima-se que a Bienal trará uma atividade a cada três minutos –, expondo suas idéias em bate-papos descontraídos com o público, que deve chegar a 800 mil pessoas.

Tradicional do evento, o Salão de Idéias Volkswagen reúne escritores consagrados, personalidades do jornalismo, das artes e da crítica. Neste ano o espaço traz nomes como Patrick Deville, autor de romances como Cordon Bleu e Pura Vida: Vie et Mort de William Walker; o escritor italiano Vincenzo Cerami, co-autor do roteiro de A Vida é Bela; o americano John Sack, que escreveu O Lobo no Inverno; e o premiado roteirista dos filmes Amores Brutos e 21 Gramas, Guillermo Arriaga. Dentre os convidados brasileiros estão Nélida Piñon, Lygia Fagundes Telles, José Mindlin e Ana Maria Machado, além de Rubem Alves, Moacyr Scliar, Marcelo Rubens Paiva, João Bosco, Gilberto Dimenstein e Chico Anysio. Os encontros vão abordar temas como meios de comunicação, mundo globalizado, leitura e formação de leitores.

Já o Espaço Literário Ipiranga traz para o centro da discussão os 200 anos da indústria do livro no Brasil, com palestras de Laurentino Gomes, Isabel Lustosa e Lília Schwarcz, entre outros. Ainda são temáticas os três centenários: da imigração japonesa, da morte de Machado de Assis e do nascimento de Guimarães Rosa, além do acordo ortográfico, o futebol como metáfora e a obra de Walter Benjamin e Clarice Lispector. Fazem parte das mesas o historiador Marcos Villa, os jornalistas Laurentino Gomes e Humberto Werneck, os professores José Miguel Wisnik e João Roberto Faria e o escritor Cristovão Tezza, entre outros.


Além dos titulos e da programação cultural, a Bienal lança o Livro de Todos

A Bienal promove também um espaço para educação continuada para professores do ensino médio e fundamental. O Fala Professor! é composto por um ciclo de palestras pautadas no tripé-base do ensino: metodologia, conteúdo e bibliografia. O destaque desta edição é a professora e pesquisadora francesa Josette Jolibert, que fala sobre como ensinar a ler e a escrever. Outros destaques são Claudia Aratangy, diretora de projetos especiais da Fundação para o Desenvolvimento da Educação; e os professores Vitor Henrique Paro e Circe Bittencourt, da USP.

Como é de costume, o evento separou ainda uma área para os universitários: o Espaço Universitário HSBC. São três sessões diárias com 80 vagas cada que oferecem discussões sobre os mais variados temas com grandes nomes do meio acadêmico e profissional. Com presenças como Valdir Cimino, Rui Amaral, Antonio Campos, Caio Túlio Costa, Peter Fry, Célia Sakurai, Orlando Strambi, Paul Singer e Walcyr Carrasco serão discutidos assuntos ligados às áreas de educação, jornalismo, direito, antropologia, ciências biológicas e sociais, saúde, economia, religião, história, urbanismo e relações internacionais.

Já para as crianças, a Bienal preparou pela primeira vez o espaço Ler é Minha Praia, com o objetivo de estimular a leitura nos mais jovens. Traz contação de histórias, bate-papos com escritores, apresentações musicais e aulas de origamis e cartuns. O espaço conta ainda com um sistema de roteiro inteligente, em que as crianças serão orientadas a visitar estandes onde há livros e atividades específicas para sua faixa etária.

A Bienal vai promover ainda uma exposição retrospectiva em comemoração aos 50 anos do Prêmio Jabuti, o mais tradicional da literatura brasileira. O Jabuti configura-se hoje num espaço democrático para promoção do que há de mais importante na cena literária brasileira, divulgando grandes escritores e lançando aqueles que ainda não são conhecidos do público. Segundo Rosely Boschini, presidente da CBL, trata-se de “um autêntico patrimônio cultural brasileiro, reconhecido por todos os que têm no livro um objeto de paixão”.

A Bienal acontece até 24 de agosto, diariamente, das 10h às 22h, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, que fica na av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana. As inscrições para palestras do Espaço Universitário HSBC e do Fala Professor! custam R$ 10,00 e podem ser feitas através do site www.bienaldolivro.sp.com.br, em que se encontra a programação completa do evento. Informações pelo tel. 2226-0400. Os ingressos custam R$ 10,00 e serão convertidos em cupons de desconto.

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[
EXPEDIENTE] [EMAIL]