O professor José Vicente Caixeta Filho é o que ele ensina. Ele é engenheiro civil formado na Escola Politécnica, mestre em Economia formado na Austrália, doutor em Engenharia de Transportes de novo formado na Poli e pós-doutor em Agronomia Agrícola formado na Alemanha. Ensina logística e coordena o grupo de pesquisa e extensão em Logística

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Agroindustrial ligado ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP em Piracicaba. Em comum entre a sua carreira pessoal e sua atividade docente há isto: ambas são essencialmente multidisciplinares. No seu grupo há alunos de graduação, de pós, bolsistas das áreas de engenharia agronômica, ciências econômicas, ciências dos alimentos, ciências da computação, gestão ambiental, jornalismo, e outras mais.

É hora de dizer o que é, afinal, essa logística. Segundo Caixeta Filho, há muitas definições possíveis (até no título tudo é multi), porém, a mais direta e simples é a forma racional e econômica de fazer com que produtos cheguem no lugar certo, na hora

certa e em condições adequadas. Uma definição um pouco mais complexa leva em conta a preocupação da logística com o planejamento e operação de sistemas físicos, informacionais e gerenciais necessários para que insumos e produtos vençam condicionantes especiais e temporais de forma econômica.

Seja qual for a definição, a novidade na logística agroindustrial hoje em dia é o cuidado com a integração entre as diversas atividades. Não tem sentido uma logística especializada exclusivamente na movimentação de produtos; é necessário que também se preocupe, e de forma integrada, com a aquisição de insumos, por exemplo. Um caso clássico: a soja. Ela pede uma logística adequada para a produção, para os insumos (fertilizantes, defensivos, maquinário), para movimentação, para exportação. Não convém fechar grandes contratos no exterior se o campo não está pronto. O gestor tem que fazer bom uso dos diversos sistemas de que dispõe. Outro exemplo que Caixeta Filho cita: o armazém é um sistema físico, mas a decisão sobre armazenar agora ou depois, vender agora ou depois, faz enorme diferença para a logística e o atendimento ao cliente mais à frente. Por aí se vê melhor como a logística supõe a integração entre as atividades.

Voltando à característica multidisciplinar tanto da logística quanto do grupo que coordena, o professor Caixeta Filho diz que  as mesmas condições se encontram no mercado de trabalho. Não são raros os casos em que a logística recebe contribuições importantes de um simples supervisor de almoxarifado, de um especialista em planejamento de colheita, de um funcionário voltado para a exportação ou importação. Na Esalq, essa variedade de pessoas e de especializações se faz notar claramente. Há profissionais egressos de escolas de ciências agrárias, possuidores de rica bagagem em logística adquirida em sala de aula ou em grupos de pesquisa, e que vão dando cara nova ao mercado do agronegócio. “Vemos com orgulho ex-alunos exercendo funções-chave nos mais diversos ambientes, na logística de planejamento e movimentação de produtos diversos”, comenta o professor. Será que Caixeta Filho é o maestro dessa orquestra? “Não, eu sou quem varre o chão do palco”, responde.

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O professor Caixeta Filho: interdisciplinariedade é uma necessidade

País agrícola – O coordenador do grupo de pesquisa  acredita que o Brasil continuará sendo por muito tempo ainda importante produtor de alimentos para o mundo. “Seremos fundamentais nisso”, pondera, acrescentando que vê com satisfação o termo logística ser repetido com freqüência cada vez maior. No entanto, não se pode esquecer que produtos agrícolas caracterizam para a logística cargas de baixo valor agregado. Em vista disso, o peso da tarifa de frete é muito significativo, podendo até ocorrer uma situação em que para movimentar milho numa rota rodoviária superior a três mil quilômetros o custo do frete supere o valor da mercadoria transportada. O fato é que qualquer contribuição da logística para baixar custos é bem-vinda. É ótimo quando se evita ficar refém de uma única modalidade de transporte, normalmente rodoviário, e se conseguem alternativas por ferrovias, hidrovias ou outras formas de deslocamento. Também ajuda a derrubar custos o frete de retorno –  vai com soja, volta com máquina.

Caixeta Filho observa que nas principais empresas que comercializam cargas agrícolas observam-se claramente definidos os cronogramas e as equipes técnicas com responsabilidade em logística. Em muitos casos há engenheiros agrônomos atuando. Nesse ponto entra também a responsabilidade da Universidade e, especificamente, da Esalq por meio do grupo de pesquisa e extensão em Logística Agroindustrial. Eles trabalham muito com modelos matemáticos para auxiliar na tomada de decisões, mas modelo matemático não significa necessariamente algo de grande complexidade.

Definir o melhor caminho de uma determinada origem até um determinado destino é uma operação matemática. Do mesmo modo, definir a melhor localização para a implantação de uma planta industrial. Aliás, a logística tem sobre outras modalidades de conhecimento a vantagem da aplicabilidade imediata. Por essa e outras razões, “o mercado nos descobriu”, disse Caixeta Filho, “acabou o medo da relação pecaminosa da academia com o mercado. Um precisa muito do outro”. Segundo ele, em qualquer trabalho, a primeira coisa necessária é a clareza em relação ao problema a resolver. Se for importante e grave, será preciso ir pessoalmente à usina, ao armazém, onde quer que o problema esteja, porque desse jeito até se conseguem recursos da empresa para aplicar na solução.

Crédito foto: divulgaçãoNa prática – A Esalq  ainda não possui um curso específico de logística, mas inclui essa modalidade de ensino numa “área de conhecimento” em que se oferecem disciplinas de graduação e pós-graduação, trabalhos de pesquisa também de graduação e pós, além de extensão por intermédio do grupo Esalq-Log. Há várias maneiras de passar para o mercado e a sociedade em geral os conhecimentos derivados de pesquisas e serviços.

O grupo Esalq-Log tem sede própria no campus de Piracicaba, trabalha com transportadoras, produtores, importadores, exportadores, e mais agentes do setor agroindustrial. Com aproximadamente 30 pessoas (funcionários ou bolsistas) produz há 11 anos o Sistema de Informações de Fretes (Sifreca) com dados sobre frete de produtos agrícolas, de todas as regiões do Brasil, todos os produtos e rotas (7 mil), informados por telefone, internet, fax ou pesquisa de campo. Disponibiliza semanalmente informações sobre fretes praticados, condições do mercado, embarques de mercadorias, preços, quantidade de caminhões em operação, falta de caminhões se for o caso, como está a safra, etc. Dá um panorama instantâneo do país agrícola. Dez por cento dessas informações (sigilosas em relação às empresas consultadas) podem ser acessadas no endereço http://log.esalq1.usp.br. Empresas com contratos para consultoria recebem informações completas por meio de um jornal enviado via correio.

Pirassununga – Em 2009, começa no campus da USP em Pirassununga o primeiro curso de graduação em Engenharia de Biossistemas, preferencialmente voltado para controle de qualidade, eletrônica e computação, com aulas sobre zootecnia, biologia e  produção no campo. São 60 vagas em período diurno, tempo integral, a serem disputadas no vestibular deste ano. O coordenador do curso, professor Celso Eduardo Lins de Oliveira, espera até seis candidatos por vaga atraídos pelo ineditismo e oportunidade dessa modalidade de ensino.

 

Eucalipto transgênico

No Laboratório Max Feffer do Departamento de Genética da Esalq, o professor Carlos Alberto Labate, agrônomo com especialização em genética de plantas, desenvolve metodologia de transformação genética do eucalipto, tendo em vista maior volume e melhor qualidade de biomassa, tanto para produção de celulose como de etanol. Na casa de vegetação, ligada ao laboratório, há também exemplares de fumo. Do eucalipto é difícil fazer transgênico, segundo Labate, porque se trata de planta dita recalcitrante e apenas algumas poucas empresas conseguiram a façanha no mundo. A metodologia consiste em transferir um gene de um organismo no qual se tem interesse para outro, e a  vantagem disso é apressar o melhoramento da planta, pois pelo processo natural o ciclo é de vinte anos em média.  Os técnicos precisam dessa metodologia especialmente para melhorar geneticamente árvores de interesse da indústria. No caso do eucalipto, também a composição química é importante na produção de celulose e de outros açúcares, como a lignina. Árvores sem lignina ou com lignina facilmente retirada no processo industrial representam ganho considerável. De acordo com Labate, dois ou três por cento de melhora na qualidade de uma árvore significam milhões de dólares para as indústrias.

Além dos transgênicos, o pesquisador da Esalq trabalha também na parte da genômica funcional das plantas, isto é, no que se relaciona com doenças do eucalipto e com os genes que participam desse processo. Também aí o interesse é melhorar a qualidade da madeira. embora, por enquanto,  não seja possível calcular se houve ganhos ou não. Os experimentos estão na fase de plantas no campo. A empresa com a qual o laboratório tem parceria, a Suzano Papel e Celulose, faz esses ensaios e só depois disso avaliará os resultados.

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O professor Labate: plantas melhores em menos tempo

Transgênicos de eucalipto, como de qualquer outra espécie, são acompanhados de perto pelo governo federal e as plantas geneticamente transformadas devem ser colocadas em áreas específicas determinadas pela Comissão Nacional de Biossegurança, do Ministério de Ciência e Tecnologia.

Um dos objetivos da equipe de Labate é demonstrar que o eucalipto tem potencial energético superior ao da cana-de-açúcar na produção de etanol. Setenta por cento da cana são água, 16% são açúcar e o que sobra é bagaço que, hidrolizado, dá etanol. Já a água contida no eucalipto não vai além de 25%. Um programa financiado pela Fapesp busca montar a infra-estrutura para fazer a hidrólise das fibras de eucalipto.

Da Austrália – Diz-se que o Jardim Botânico que D. João VI mandou fazer no Rio de Janeiro recebeu exemplares de eucalipto, mas o certo é que no final do século 19 o engenheiro Edmundo Navarro de Andrade trouxe mudas de eucalipto da Austrália e desenvolveu amplas plantações no interior de São Paulo (Rio Claro, Jundiaí), a fim de  transformar a madeira em dormentes para a Companhia Paulista de Trens e fonte de energia para as marias-fumaças. 

Labate considera mitos algumas crenças em desfavor do eucalipto. Por exemplo, a de que resseca o solo e não serve para reflorestamento porque nele não podem se alimentar nem viver pássaros e bichos. Responde que o eucalipto apenas cresce muito rapidamente, mas não resseca a terra, e quanto ao reflorestamento, diz que uma técnica possível de plantio é misturá-lo com vegetação nativa, conseguindo-se boa sinergia. O eucalipto brasileiro é um sucesso de produtividade, a melhor de todos os países. Leva sete anos para alcançar de  25 a 30 metros de altura e ficar pronto para uso industrial. Nessa idade produz 150 toneladas de madeira por hectare, excelente material para possível  produção de etanol.

 
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