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Comida de rua
“A ‘comida de rua’ pode ser considerada uma realidade de dupla face: por um lado, alimenta e nutre, por outro, absorve um crescente número de trabalhadores, satisfazendo a duas grandes necessidades do mundo atual: alimentar a população a um baixo custo e empregar trabalhadores.” É assim que Ana Maria Cavalcanti Lefevre, líder do grupo de pesquisa no CNPq introduz o debate de Alimentos de Rua no Brasil e Saúde Pública (Annablume, 224 págs., R$ 30,00). O livro contém uma série de artigos que contextualizam a comida de rua como preocupação constante das políticas públicas de saúde e da Vigilância Sanitária, “em decorrência da exposição crescente a doenças que possam ser veiculadas por esses alimentos”, diz a autora. A obra descreve em detalhes os principais atores que participam do fenômeno “comida de rua”, bem como estabelece padrões de representação e atuação frente ao seu objeto, em localidades diferentes como São Paulo, Mato Grosso e Bahia. Discute as medidas de controle e fiscalização sanitária no Brasil, como melhorar as práticas de manipulação de alimentos pelos vendedores, o perfil destes, a importância socioeconômica do comércio de alimento de rua, experiências de avaliação das condições higiênico-sanitárias desses alimentos e recomendações originadas dessas análises.
Histórias da Eldorado
Quando as festas ainda eram feitas para se comemorar e não para cumprir agenda, o músico e jornalista João Lara Mesquita, recém-chegado dos Estados Unidos, deu início ao projeto da Nova Rádio Eldorado. Mesquita narra os acertos e desacertos do seu trabalho naquela que ele chamava de “radiozinha” no livro Eldorado, a Rádio Cidadã (Editora Terceiro Nome, 224 págs., R$ 34,00). Ele dirigiu a Eldorado AM e FM de 1982 a 2003. Nesse período, criou o Estúdio Eldorado e o Prêmio Eldorado de Música, idealizou o Prêmio Visa de MPB, liderou a campanha pela obrigatoriedade da “Voz do Brasil” e foi responsável pela criação do selo Eldorado. O livro tem desde trechos engraçados, como o de seu encontro com Adoniran Barbosa no elevador, a hilários, quando narra o chá-de-cadeira que tomou para falar com um possível patrocinador. Mostra os bastidores das notícias nos capítulos sobre uma entrevista com Collor e outro sobre a campanha de trânsito que levou a um jantar na casa de Maluf – “Foram os encontros mais estranhos, enrolados e exóticos de toda minha vida profissional”, lembra –, além de derrapadas, como o anúncio antecipado da morte de Tancredo Neves. O livro se torna mais pertinente por causa do Dia do Rádio, comemorado no último dia 24.
O encanto de Élon Brasil
“Tão branca a nossa arte, tão europeu nosso texto, que, de um olhar ao trabalho cafuzo de Élon Brasil (Brasil!), a primeira palavra que ocorre é ‘alumbramento’”. É assim que Marco Antonio Arantes descreve as primeiras impressões causadas pela obra do pintor Élon Brasil, nascido na urbana Niterói, mas que dedicou sua vida aos negros, aos índios e à alma das coisas. Élon Brasil e as Nossas Raízes Encantadas (Editora Terceiro Nome, 208 págs., R$ 98,00), de Damásio Contreras, é ricamente ilustrado com obras do artista e fotos suas em aldeias indígenas. Élon viveu dois anos com o pajé Mayuta, debruçado sobre o rio Tanguru. Foi seu período de iniciação na selva, quando perdeu o “cheiro de civilização”. No entanto, ele começa a pintar os índios apenas em 1986, com a tribo Tukano, às margens do rio Negro, no Amazonas. O livro traz lembranças da época da ditadura militar, ainda em Niterói, da amizade com Jorge Amado e Menotti del Picchia, da vida em São Paulo e de experiências nas tribos e em Benin, na África. Sua arte chega ao espectador no estado mais descomplicado e despretensioso. “Élon pinta com precisão rigorosa, usando tinta e a matéria dos sonhos, a que não sabemos dar nome”, define Arantes.
Cozinha Modelo
Os primeiros experimentos com a eletricidade na iluminação em escala reduzida propiciaram o surgimento de pequenas usinas geradoras entre 1880 e 1900, sendo que a cidade de São Paulo começou a receber os serviços de eletricidade já na segunda metade do século 19, ainda que de forma incipiente. Quanto ao gás, desde o século 18 existiam experiências na sua obtenção a partir do carvão, mas foi somente no início do século 19 que passou a ser usado na iluminação pública – o gás utilizado para iluminação, calefação e cozinha era obtido a partir do carvão mineral; e em 1872 foi construído em São Paulo o primeiro gasômetro. A produção em larga escala dessas fontes de energia acontece a partir da Segunda Revolução Industrial. O gás e a eletricidade são os processos resgatados no livro Cozinha Modelo – O Impacto do Gás e da Eletricidade na Casa Paulistana – 1870-1930 (Edusp, 216 págs., R$ 48,00), de João Luiz Máximo da Silva, resultado da dissertação de mestrado defendida no Departamento de História da USP. Foram pesquisados relatórios de diretoria das empresas concessionárias de gás e eletricidade, relatórios técnicos, notícias de jornal, legislação e normas, com foco na atuação do Grupo Light, em São Paulo. O lançamento acontece nesta terça, das 18h30 às 21h30, na Livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509, tel. 2167-9900).
Cultura Brasileira
Após duas edições e mais de uma dezena de reimpressões, Ideologia da Cultura Brasileira (1933-1974) – Ponto de Partida para uma Revisão Histórica, com autoria de Carlos Guilherme Mota, é republicado pela Editora 34 (424 págs., R$ 52,00). “Obra já clássica” e “Livro do contra”, foi assim que Florestan Fernandes e Antonio Candido, respectivamente, se referiram ao livro, após seu lançamento nos anos 70, em plena ditadura militar. A obra, que suscitou polêmica dentro e fora dos meios acadêmicos, indica momentos decisivos do processo de conhecimento histórico no Brasil, apontando temas predominantes em cada momento, bem como alguns traços metodológicos e os conteúdos ideológicos das principais produções. Analisa obras de intelectuais como Mário de Andrade, Caio Prado Jr., Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Florestan Fernandes, Celso Furtado, Ferreira Gullar, entre muitos outros. “Balanço dos balanços que alguns dos nossos intelectuais fizeram ou estão fazendo do Brasil: este me parece o objetivo primeiro do ensaio. A sua questão candente, que atravessa o livro de ponta a ponta é: o que tem significado a expressão cultura brasileira, tão empregada por aqueles intelectuais nos últimos quarenta anos?... Projeto não só complicado, mas complexo”, como afirma Alfredo Bosi no prefácio.
Ensino no Império
Tomando a história como instrumento e condição de liberação, uma “verdadeira epopéia da liberdade humana”, é que a professora Maria de Lourdes Mariotto Haidar escreve o livro O Ensino Secundário no Brasil Império (Edusp, 272 págs., R$ 38,00). Trata-se de um estudo que visa à reconstrução de um passado próximo, o período que sucedeu à reforma constitucional de 1834 e antecedeu à proclamação da República. A obra mostra o aparecimento de liceus provinciais a partir de 1835 e a criação do Colégio de Pedro II na Corte, em 1837, “os primeiros esforços no sentido de imprimir alguma organicidade a esse ramo do ensino”. A autora fala sobre a “pseudodescentralização” dos estudos secundários vigente após o Ato Adicional – que contribui para o entendimento da problemática educacional da época –, já que houve, durante todo o Império, um monopólio dos estudos maiores. Foi analisado um amplo leque de documentos do período, anais e pareceres, memórias históricas, requerimentos, projetos e discussões da Câmara dos Deputados e da imprensa, além de estatutos e regimentos, currículos e planos de estudos. A obra discorre ainda sobre os preparatórios e os exames parcelados, a iniciativa particular e a liberdade de ensino e os estudos secundários femininos.
Desmitificando Caio Prado Jr.
“Sobre Caio Prado Júnior (1907-1990) não basta falar do comunista ou do historiador, nem mesmo do geógrafo, do filósofo, do ‘economista’com formação em direito, ou do paulista de família tradicional.” As palavras são de Lincoln Secco, professor do Departamento de História da USP, que está lançando o livro Caio Prado Júnior – O Sentido da Revolução (Boitempo Editorial, 256 págs., R$ 36,00). O autor compõe um retrato rico da vida e obra de Caio Prado Júnior, com foco na militância política e na associação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) com o objetivo de atacar os males que afligiam a população. O título faz parte da Coleção Paulicéia e traz elementos fundamentais para a compreensão das transformações, lutas sociais e conflitos enfrentados pelo Brasil no século 20. É um “esboço da história do marxismo brasileiro”, afirma Ricardo Musse na orelha do livro. Secco fala sobre a relação aparentemente conflituosa do militante com o partido e se propõe a desmitificar Caio Prado Júnior, “indo além de sua visão a respeito daquela relação e também do senso comum que simplesmente contrapõe a imagem do grande intelectual à do partido ‘obscurantista’ que o perseguia”. Por fim, mostra que ele não era um mero adepto do sindicalismo rural de grande empresa, mas um defensor da desconcentração da propriedade rural.
A Retórica de Rosseau
Bento Prado Jr. dividiu sua vida intelectual entre duas vocações: a filosofia e a literatura, e durante mais de uma década, resultaram ensaios e artigos, e um trabalho maior e inédito, A Retórica de Rosseau: o discurso político e as belas-letras, escrito originalmente em francês, entre 1970 e 1974. Quem já ouvira falar da preciosa fonte, mal podia esperar para conhecê-la por inteiro. E foi assim que A Retórica de Rosseau, que tanto valoriza o Ensaio sobre a Origem das Línguas, conheceu a mesma sorte: permaneceu, durante aproximadamente trinta anos, entre os guardados de seu autor, vindo a público somente após a morte dele. Esses são trechos da apresentação escrita por Franklin de Mattos para o livro A Retórica de Rosseau (Cosac Naify, 455 págs., R$ 69,00), que resgata o longo ensaio de Bento Prado Jr. (1937-2007), além de reunir oito textos do autor publicados em revistas acadêmicas. A obra apresenta uma abordagem minuciosa e incomum ao mostrar a coerência da obra do filósofo-escritor Jean-Jacques Rosseau. O livro será lançado nesta terça, às 19h, com uma mesa-redonda com a participação do organizador Franklin Mattos, Paulo E. Arantes e Ruy Fausto. No Prédio de Filosofia e Ciências Sociais da FFLCH/USP (av. Prof. Luciano Gualberto, 315, sala 8, Cidade Universitária). Mais informações pelo tel. 3031-2431. Durante o lançamento o livro será vendido com 50% de desconto, inclusive para outros títulos de filosofia.
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