Uma revolucionária experiência de gestão universitária vem sendo largamente praticada atualmente. Trata-se da instalação de campi avançados de universidades da Europa e dos Estados Unidos em outros continentes. A pioneira nesse processo foi a Universidade de Paris, a Sorbonne, que instalou em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, um campus para

o ensino de humanidades, com custos que poderão chegar a US$ 100 milhões – inteiramente financiados pelo governo local. Em Doha, capital do Quatar, funcionam desde 2002 vários cursos superiores, oferecidos por diferentes universidades americanas, como as de Cornell (Medicina), do Texas (Engenharia) e de Georgetown (Relações Internacionais). Já a Universidade de Nova York obteve um adiantamento de US$ 50 milhões do governo dos Emirados Árabes para instalar um campus também em Abu Dhabi. “Além da inédita forma de construir novos conhecimentos, essas iniciativas têm se mostrado eficazes na afirmação de novos horizontes com o aporte de recursos correspondentes para as instituições.”

Essas afirmações estão no artigo “A revolução acadêmica”, do ex-reitor da USP Jacques Marcovitch, publicado na nova edição da Revista USP, da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP. A nova edição – de número 78 – traz o dossiê “Gestão e Política na Universidade Pública”, com sete textos que abordam os desafios e as perspectivas das universidades no século 21. “Neste dossiê, especialistas contribuem com dados notáveis e muitas vezes surpreendentes no que diz respeito não somente ao passado e ao presente da universidade, mas, principalmente, ao seu futuro”, afirma no editorial o editor da Revista USP, jornalista Francisco Costa.

Revista USP, número 78, dossiê “Gestão e Política na Universidade Pública”, Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da USP (telefone 11 3091-4403), 160 páginas


Reorganização – Outro artigo publicado no dossiê da nova edição da Revista USP é “Gestão e política na universidade pública”, do professor do Instituto de Química da USP Walter Colli. Esse texto é quase uma “proposta de reorganização da USP”, segundo Colli. Depois de apontar os defeitos do modelo vigente na academia hoje – entre eles o sindicalismo, que “introduziu a partidarização na Universidade, que não se confunde com a tomada de consciência política”, e a ineficiência dos colegiados –, o professor passa a fazer propostas para uma nova gestão universitária. Ele descarta a eleição direta para reitor, porque esse processo privilegia não a qualidade acadêmica, mas a retórica, e porque o ativismo político introduz “forte ruído” na administração da universidade. “A universidade como órgão especializado no saber é instituição do estado e, portanto, da sociedade e deve fugir das disputas entre partidos políticos.”

Sobre o financiamento da universidade pública, Colli lembra que, além dos recursos do governo garantidos por lei, deve-se considerar como “bem-vindo” qualquer dinheiro extra-orçamentário. “Sempre me posicionei a favor da existência das fundações como sistemas de arrecadação, desde que fiscalizadas pelo poder central, para não fugirem dos objetivos acadêmicos e transformarem a universidade em mera vendedora de serviços”, escreve Colli. “O Conselho Universitário teria um grande papel em disciplinar e incentivar formas de captação de recursos usando as habilidades e o conhecimento dos docentes.”

Colli cita também a questão da descentralização. Para ele, a maioria das questões administrativas deveria ficar a cargo de sub-reitorias regionais. “Poucas coisas devem estar vinculadas ao poder central: decisão sobre salários, regras de concurso docente e o exame vestibular, para manter a qualidade na escolha dos professores e dos alunos”, diz o autor. “A qualidade da universidade é estritamente dependente da qualidade desses dois segmentos. Por isso, uma forte avaliação centralizada também é desejável, seja individual, para os docentes ingressantes, seja institucional, para detectar problemas. A avaliação deve ser dirigida pelo reitor.”

A pós-universidade – No artigo “Universidade e democracia” – também publicado na edição 78 da Revista USP –, o professor Cristovam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-ministro da Educação, destaca que o desafio das universidades para as próximas décadas é mais do que mudar ou reformar: é evoluir e inventar uma instituição nova. A essa nova academia, Buarque dá o nome de “pós-universidade”. Entre suas características, segundo o ex-reitor, estão: ela não terá um endereço geográfico, e sim eletrônico, pois se constituirá de uma rede, que estará onde o aluno estiver; não haverá disciplinaridade (“Em um mundo onde o saber muda constantemente, as disciplinas perderão o sentido”) nem professor (“Professor e aluno serão partes de uma única função: o permanente aprendizado do saber em evolução”). “O que vai definir se a universidade evoluirá ou se a pós-universidade tomará seu lugar como centro gerador de saber superior vai depender do resultado do processo entre as universidades-evolucionistas, que se transformam, e as universidades-convento, que reagem à mudança.”

O dossiê traz ainda os artigos “Gestão – Desafios e perspectivas”, de Myriam Krasilchik, “Uma análise do acesso à educação no Brasil por jovens de 18 a 24 anos no período de 1995 a 2006”, de Cibelle Yahn de Andrade e Norberto Dachs, “Gestão universitária, autonomia, autoritarismo”, de Roberto Romano, e “O Programa Univesp e a expansão do ensino superior público paulista”, de Carlos Vogt.

 
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