Diversidade. Para a professora Esther Hamburger, chefe do Departamento de Cinema, Rádio e TV da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, essa é a palavra de ordem para caracterizar a recente produção dos alunos do curso de Audiovisual. Segundo ela, os trabalhos são marcados pela grande heterogeneidade, seja nos estilos e

formatos como na duração. Essa produção foi reunida em DVD e será lançada na próxima segunda, dia 6 de outubro, às 20h30, no Espaço Unibanco de Cinema (só para convidados, mas ficará disponível no departamento; mais informações pelo tel. 3091-4332). São oito curtas de ficção e um documentário, filmados em película, a maioria em 35 mm, feitos como Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs). Além de levar os filmes para a grande tela, o lançamento corresponde ao dia de abertura desta edição da Semana de Audiovisual da ECA, que discute a produção e crítica na área.

O documentário Procura-se e, abaixo, os curtas premiados Romance.38 e Cigano


A partir deste ano, o departamento vai sistematizar o lançamento da produção dos alunos, não só pela importância de possuir um material de fácil acesso, mas para pensar a evolução dos trabalhos. “Essa é uma preocupação nova”, afirma Esther Hamburger. “É muito necessário, mas ainda muito incipiente”, completa. A professora relembra a experiência no último Festival de Biarritz, que acontece todo ano na França. Conta que se surpreendeu ao ver a qualidade técnica de escolas como a polonesa Lodz Film School e a Autônoma do México. “Se por um lado o nosso trabalho não tem a qualidade técnica dessas escolas, que são mais antigas e têm recursos técnicos muito superiores, por outro, tem uma heterogeneidade que é muito interessante”, enfatiza. Em contraste ela comenta a produção da Lodz Film School, que, apesar da qualidade impressionante, tem “filmes muito parecidos, uma certa fôrma, uma escola muito clara no produto final”.

No DVD – Muitos títulos foram premiados em festivais. O curta Cigano (16 min), de Eduardo Mattos, recebeu o Prêmio de Melhor Ator para Jaílton Soares na 35a Jornada de Cinema da Bahia e o Prêmio MovieMobz do 19o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. No roteiro, um menino negro que acabou de se mudar para a casa de uma família branca, nutre esperanças de ser tratado como um filho e ir para a escola. A contragosto, aprende com a empregada Joaquina a condição de um “menino de cor” na casa e passa a sonhar em ir embora com um grupo de ciganos que está de passagem pela cidade.

Outro curta premiado é Santa Chuva (15 min), com direção de Rafael Salomão Cruz, roteiro vencedor do Prêmio Estímulo ao Curta-Metragem 2006. Foi o único filmado no estúdio ainda inacabado do departamento e tem como protagonista um menino que nunca viu a chuva. Os limites de seu universo são as estacas da cerca do jardim, que ele só cruza escondido da avó. A história mostra como ele enganou o Aiangá, misteriosa figura que tentava conseguir todos os bonecos da avó, que possuíam poderes sobre as chuvas.

Cidade do Tesouro (15 min), dirigido por Célio Franceschet, ganhou o Prêmio Destaque em Contribuição Artística do Festival Brasileiro de Cinema Universitário deste ano. A produção agrada pela estética, com toques de fantástico e filme antigo. É sobre um homem esquivo e de meia-idade que mora com sua mãe, e ambos acompanham pela TV o “caso do bandido da geladeira”. Ele evita sua vizinha a todo custo, por mais que ela queira se aproximar, até que chega o momento final.

A produção de Romance.38 (15 min), assinado a quatro mãos por Vinícius Casimiro e Vitor Brandt, impressiona, ainda mais por ter sido gravado com poucos recursos de estúdio. É o filme que melhor simboliza que as limitações de arte e cenário que atrapalhavam os trabalhos mais antigos estão sendo superadas. A história tem elementos de metalinguagem e mostra um escritor que segue os passos de seu personagem e vice-versa. A vida imita a arte ou a arte imita a vida? O filme foi premiado como Destaque pelo Voto Público do Festival Brasileiro de Cinema Universitário.

Destaque ainda para Procura-se (45 min), único documentário do ciclo, com direção de Rica Saito. O trabalho segue a linha do falso documentário, mas “é um filme muito verdadeiro”, comenta a professora. Falso porque os depoimentos são feitos por atores, mas todos estiveram relacionados de alguma forma com o tema: Mário Rocha. Muito mais que músico e compositor, Mário foi uma figura que concentrou em si o espírito das décadas de 60 e 70. “O que o Mário já fazia em 68 não estava nada atrás do que os tropicalistas começavam a fazer”, conta o crítico Carlos Callado, que aparece no documentário. “Eram tempos difíceis. Todo mundo muito estranho”, comenta o personagem do guitarrista Silvinho. Amigo de Mário, participou do álbum Psilocibina, “raiz de um monte de coisas que vocês estão ouvindo hoje”, completa o produtor Jorge Mascarenhas.

Dentre as produções encontram-se ainda Até Amanhã (29 min), de André Bonfim, que resume a densidade trágica e poética de um amor frustrado na noite da virada do ano; Hoje é o Seu Dia (14 min), de Thais Fujinaga, passado no dia do aniversário de 30 anos de uma mulher deprimida, que sonha com jogos de bingo e velhas senhoras de vestidos rosa; Construção (9 min), produção de Maria Gutierrez, sobre o cotidiano de trabalhadores da construção civil; e o alucinado Eletrotorpe (15 min), de Ana Luíza Béco e Yuri Amaral, que une histórias de um médico legista à procura de ecstasy e uma mulher que transportava a droga na barriga de um bebê morto.

Pensar os filmes dessa nova geração de cineastas é essencial, mas não é tudo. Para Esther, exibi-los na tela do cinema também é importante, “porque o filme só se realiza quando vai para o meio ao qual se destina”. Os trabalhos deste ano já começam a fazer carreira e atrair a atenção de críticos e festivais. No próximo ano, “com o prédio terminado e recursos, esperamos dar um salto na qualidade, que já vem melhorando”, diz a professora. E para o próximo ciclo alguns filmes despontam no cenário cinematográfico. Nuvem e Cantuta, por exemplo, já criam expectativas no departamento.

 

Semana do Audiovisual

O lançamento coincide com o início da 9a Semana do Audiovisual da ECA/USP, que será realizada de 6 a 10 de outubro. Serão projetados filmes de alunos no Auditório Paulo Emílio da escola, seguidos de debates com professores e diretores. Já confirmaram presença nomes como Carlos Augusto Calil, Arlindo Machado, Lauro César Muniz, Fernando Meirelles e Adhemar Oliveira. O tema será Produção e Crítica, que envolve mesas de discussão sobre a Produção da ECA, Mercado audiovisual e Crítica e produção televisiva. Serão exibidas ainda, no Cinusp, pré-estréias de filmes brasileiros e, em telão externo, trabalhos de estudantes de outras universidades. As atividades são gratuitas e não é preciso fazer inscrição. A ECA fica na av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Cidade Universitária. Informações e programação completa em http://sav2008.blogspot.com.

 
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