A 50ª edição do Prêmio Jabuti reconheceu a importância da trajetória da Editora da USP (Edusp) no mercado editorial brasileiro em duas categorias: Economia, Administração e Negócios, que premiou o livro Crescimento econômico e distribuição de renda – Prioridades para ação, organizado pelo professor Jacques Marcovitch, e Ciências Naturais e

Ciências da Saúde, que destacou Dimensões humanas da biosfera-atmosfera na Amazônia, coordenado pelos professores Wanderley Messias da Costa, Bertha K. Becker e Diógenes Alves. “São livros que priorizam a pesquisa, o debate e a reflexão”, observa Plinio Martins Filho, diretor presidente da Edusp. “Acho que o livro tem que provocar, questionar, causar indignação. O livro produzido na Universidade deve levar a pesquisa, o conhecimento. Não pode ser passivo ou uma mera divulgação.”

Nesta edição dos 50 anos do Jabuti, a comissão julgadora analisou 2.141 obras, 4% a mais do que em 2007, quando participaram 2.052 publicações. O prêmio, segundo Rosely Boschini, presidente da Câmara Brasileira do Livro, tem conquistado o status de patrimônio cultural brasileiro, transformando-se num instrumento democrático para a promoção do melhor da cena literária brasileira e também da pesquisa em diversas áreas da ciência. “O Jabuti homenageia os diversos segmentos e todas as áreas de produção de um livro, desde a melhor capa,

passando pela ilustração e projeto gráfico até a melhor obra. É reconhecido por todos que têm no livro um objeto de paixão.”

Dimensões humanas – A reflexão sobre as articulações necessárias para o desenvolvimento sustentável da região amazônica e o alerta para a importância de aliar as ciências naturais e sociais na preservação e desenvolvimento econômico e social  pontuam o livro Dimensões humanas da biosfera-atmosfera na Amazônia. Bertha Koiffmann Becker é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Ciências. Wanderley Messias da Costa é professor da USP e pesquisador do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) – uma iniciativa internacional de pesquisa liderada pelo Brasil. Diógenes Salas Alves é professor e pesquisador da Divisão de Processamento de Imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O livro traz uma coletânea de textos que apresenta os resultados de parte das pesquisas desenvolvidos pelo programa LBA, que envolve uma extensa rede de instituições e grupos de pesquisas do Brasil e do exterior. Chama a atenção para problemas polêmicos como a urbanização da Amazônia. “O crescimento demográfico concentrou-se fortemente nos núcleos urbanos, a ponto de a região ser denominada de floresta urbanizada”, observa Bertha Becker. “A acelerada urbanização acarretou problemas de inchação urbana. Grande número de cidades nasceram e cresceram com a expansão de fronteira agropecuária em áreas agrícolas e de garimpo.”


Dimensões humanas da biosfera-atmosfera na Amazônia, de  Wanderley da Costa, Bertha Becker e Diógenes Alves (organizadores), Edusp, 178 páginas, R$ 45,00.

Bertha explica que a Amazônia teve um extraordinário surto de crescimento demográfico nas últimas décadas do século 20, passando sua população de 500 mil habitantes na década de 1950 para 18 milhões no ano 2000. “Tal surto explica, em parte, os problemas sociais e ambientais, particularmente nas cidades.”

Diógenes Alves analisa as estratégias do LBA. “As duas questões centrais são compreender como a Amazônia funciona como um ecossistema regional, e como mudanças de cobertura e uso da terra e do clima podem afetar esse funcionamento. Para tanto, o experimento prevê investigações dos padrões e processos de mudança de cobertura e uso da terra na região de estudo, e de cenários plausíveis dessas mudanças que incorporem a diversidade e complexidade dos processos e atores sociais envolvidos nas mudanças de uso da terra, num arcabouço complexo de interações, em que mudanças no clima e na ecologia se relaciona com o uso sustentável da terra e, de uma forma geral, com os assentamentos humanos.”

As modalidades do uso do território e as inovações produtivas são apresentadas por Wanderley Messias da Costa. O estudo traz também as tendências dominantes nas atividades industriais da Amazônia, destacando cinco setores: exploração madeireira, produção energética, complexos minero-metálicos, Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus e a bioindústria. “Um dos temas mais debatidos na atualidade envolvendo a expansão das atividades econômicas na Amazônia diz respeito à natureza e à intensidade da participação de cada uma no seu processo de desmatamento”, observa. “Os resultados dos estudos que têm se debruçado sobre essa questão apontam basicamente para um cenário que considera a participação da indústria madeireira com o crescimento da sua importância econômica e dos seus correspondentes impactos diretos e indiretos que atingem áreas de exploração tradicionais e novas; a acelerada expansão da pecuária que implica nas áreas previamente desmatadas e no contínuo desbravamento de áreas novas para a formação de pastagens; a incipiente e acelerada expansão do cultivo da soja, que avança sobre áreas previamente desmatadas e a expansão da pequena propriedade familiar induzida principalmente pelos projetos de assentamento rural e pela sua crescente integração aos mercados”.


Crescimento econômico e distribuição de renda – Prioridades para ação, de Jacques Marcovitch (organizador), Edusp, 234 páginas, R$ 45,00.

Educação e saúde – O livro Crescimento econômico e distribuição de renda – Prioridades para ação, organizado por Jacques Marcovitch, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, responde a dez questões que se tornaram prioritárias no Brasil e em outros países da América Latina, relacionadas às seguintes áreas: educação, saúde, emprego, habitação, proteção social, infra-estrutura, reforma tributária, inovação, comércio internacional e serviços financeiros. São questões que apresentam os estudos e análise de Hermínia Maricato, Guilherme Ary Plonski, Márcia Faria Westphal e Marcio Pochmann, entre outros.

“A grande assimetria econômica e social das cinco regiões do Brasil, ou mesmo de suas unidades federativas, amplia de tal modo as demandas, que se torna cada vez mais urgente eleger prioridades básicas para a agenda nacional”, esclarece Jacques Marcovitch. “Em 2006, os programas de governo apresentados pelos dois aspirantes à Presidência da República, embora formalmente bem construídos, cederam à tentação da abrangência excessiva. Ambos procuraram responder a todas as expectativas do eleitorado, abrindo demasiadamente o leque de proposições, que, assim, deixaram de ser factíveis com os recursos disponíveis.”

Marcovitch alerta que, diante do atual e insatisfatório índice de eficácia em suas políticas públicas, o Brasil corre o risco de chegar a 2030 sem atenuar as disparidades regionais que se tornam evidentes, por exemplo, nas taxas de mortalidade infantil. Os textos reunidos no livro fazem uma análise sobre as políticas públicas. Um questionamento que tem como referência o Fórum Econômico Mundial em São Paulo. Os temas apresentados em seu decorrer foram abordados nesse conjunto de ensaios. “Jamais foi tão forte em nosso país a participação da sociedade civil e de seus técnicos independentes na abordagem das políticas públicas. É muito importante que os governos sejam receptivos a essa oferta e deixem de caracterizá-la como se representasse o avesso de suas estratégias.”

 
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