O desafio de divulgar a arte brasileira em livros com projetos gráficos diferenciados pontua os 20 anos da Editora da USP (Edusp). É essa história que está sendo apresentada na exposição “Artes na Edusp”, no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Sob curadoria de Mayra Laudanna e Carla Fernanda Fontana, a mostra reúne as fotografias e gravuras

distribuídas com os exemplares vendidos em cada lançamento. Fazem parte das coleções Artistas da USP e Artistas Brasileiros. Apresenta também capas e projetos gráficos diferenciados dos lançamentos da Edusp. “Os livros presentes nessa mostra possibilitam acesso a obras raras e a documentos muitas vezes inacessíveis”, diz Mayra (leia o texto abaixo).

“A primeira tentativa de fazer livros de arte na Edusp começou de uma forma pouco significativa, ainda na gestão de João Alexandre Barbosa”, conta Plinio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp. “Na época, foi feito um acordo com uma empresa que financiava livros de arte por leis de incentivo à cultura. Foram lançados dois títulos, o de Antonio Gomide e o de Samson Flexor. Porém, os livros eram distribuídos para os clientes e não circulavam na Universidade.”

Feres Lourenço Khoury


A partir de 1994, com a gestão de Sérgio Miceli, quebrou-se o paradigma de que não se podia editar livro de arte na Universidade por ser caro. “Quando chegava à Edusp um livro de arte que teria de ser editado em quatro cores, a resposta era: ‘Não, isso é muito caro, a gente não pode fazer’. Com o Sérgio foi diferente. Apoiado pelo reitor na época, Flávio Fava de Moraes, ele teve a liberdade para pensar a editora. Tinha consciência de que qualquer editora universitária é deficitária e que sua obrigação como dirigente era a de disponibilizar todas as pesquisas feitas na Universidade, inclusive as da área de arte.”

Martins explica que a coleção de arte que inaugurou essa linha editorial na Edusp foi Artistas Brasileiros. A meta inicial foi publicar mestrados, teses de doutorado e estudos realizados na Universidade. O projeto gráfico contou com a criatividade de Moema Cavalcanti. “Ela fez um projeto diferenciado, principalmente no que se refere à capa. Em geral, pensa-se em capa de livro de arte com imagem, toda colorida. Ela optou por uma capa neutra, imprimindo apenas o título da obra, o nome do autor e a logomarca da coleção no verso do papel cartão super 6, sem orelha, sem sobrecapa. Ao se abrir o livro, as cores das reproduções parecem muito mais valorizadas.”

O projeto recebeu muitos elogios e vem surpreendendo a cada edição. São 17 livros que apresentam o trabalho de Jorge de Lima, João Câmara, Hélio Cabral, Cândido Portinari, Pedro Alexandrino, Oduvaldo Vianna Filho, Lasar Segall, Carlos Bracher, Evandro Carlos Jardim, Maria Clara Machado, Hermelindo Fiaminghi, Anna Letycia, Flávio Império, Ramos de Azevedo, Alex Flemming, Ernesto de Fiori e Claudio Tozzi.


Rego Monteiro

Artistas da USP – Evidenciar artistas da Universidade, entre professores e estudantes. Com essa proposta nasceu a Coleção Artistas da USP. “A idéia era desenvolver o projeto com uma pesquisa feita pela própria Edusp”, lembra Martins. “O Sérgio escolhia um artista e íamos ao seu ateliê. Eu opinava sobretudo no sentido de dizer se a obra daria ou não um resultado gráfico bom. A intenção era mostrar parte do trabalho do artista, não necessariamente cronológico, de maneira a possibilitar uma visão geral da sua produção.”

Com essa coleção, Martins explica que foi possível mostrar que a Universidade não produz só cultura escrita, mas também cultura visual. Nos primeiros livros dessa coleção não se colocava texto. “Essa radicalização causou um certo estranhamento no público, o que me parece natural, dada a nossa pouca familiaridade com a arte. Passamos, então, a colocar pequenos textos, amenizando aquele efeito inicial, mas sempre com o domínio da imagem sobre o texto.”

Artistas da USP já reúne 19 livros com as obras dos seguintes artistas: Marco Buti, Maurício Nogueira Lima, Feres Lourenço Khoury, Hélio Vinci, Claudio Mubarac, Renina Katz, Laurita Salles, Daniel Albernaz Acosta, Rosangela Rennó, Paulo Pasta, Thomaz Farkas, Laura Vinci, Lygia Eluf, Luise Weiss, Atílio Avancini, Alex Flemming, José de Souza Martins, Ermelindo Nardin e Takashi Fukushima.

Artes visuais e editoração – Martins – que é professor do curso de Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – acredita que esses dois projetos de livros de arte são de extrema importância para a Edusp e para o ensino da arte. Com tiragem limitada – varia entre 1.000 e 1.500 exemplares –, vários títulos estão esgotados. “A Edusp é a única editora universitária que tem uma política de publicação de livros de arte. As outras publicam esporadicamente um ou outro livro de arte, não coleções. Isso é um avanço, abandonou-se a idéia de que livro de arte tem de ser financiado por empresas, pois eles foram bancados pela própria Universidade.”


Alex Flemming

A Edusp continuou priorizando a arte, publicando livros que não se limitavam a essas duas coleções, como Maria Bonomi – Da gravura à arte pública, uma pesquisa organizada por Mayra Laudanna. Lançou, ainda, o projeto inusitado de livro-objeto com a Caixa Modernista, com fac-símiles de imagens e catálogos, e Do Amazonas a Paris, com os fac-símiles dos livros de Rego Monteiro, ambos organizados por Jorge Schwartz.

“Nesse sentido, de estar sempre buscando aprimorar a Edusp a partir da própria Universidade, é importante lembrar a sua atuação como uma editora-escola”, destaca Martins. “A partir do momento em que se passa a editar livros de arte, há todo um conhecimento que os alunos precisam adquirir. Atualmente, não é admissível um livro malfeito, não há desculpa, uma vez que a tecnologia permite excelentes trabalhos e isso, os alunos que passaram pela Edusp aprenderam.”

Martins criou a disciplina Artes Visuais e Editoração na ECA, que vem permitindo aos alunos pensar uma edição de arte. “Como editor e professor, penso que é um campo de conhecimento muito grande e importante. Já que lidamos com essas reproduções e com a divulgação do conhecimento, temos de ter um compromisso com o que realmente se está pretendendo fazer.”

A exposição “Artes na Edusp”, com curadoria de Mayra Laudanna e Carla Fernanda Fontana, está em cartaz desde o dia 8 de outubro no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP (avenida Professor Mello Morais, travessa 8, Cidade Universitária, São Paulo). Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-3247. Entrada grátis.

 

O livro como obra de arte

Uma exposição que mostra a arte do livro. E os livros de arte.  Com essa proposta, “Artes na Edusp” destaca a criatividade de desenhar uma capa que atraia o leitor e possa valorizar o seu conteúdo. Traz também a atenção da editora na elaboração do projeto gráfico. “Nos últimos anos, dando continuidade à sua diretriz, a Edusp lançou o inusitado para uma editora universitária: livros-objeto”, explica a curadora Mayra Laudanna. “Singulares e com requintes de acabamento invejáveis, esses livros presentes nessa mostra possibilitam acesso a obras raras e a documentos muitas vezes inacessíveis, a exemplo da Caixa Modernista, composta por fac-símiles de imagens, catálogos e textos de importância para estudiosos do período.”

Todos os livros das coleções Artistas Brasileiros e Artistas da USP estão sendo apresentados. Interessante, no entanto, é ver as obras desses artistas no espaço. São gravuras e fotografias que foram distribuídas junto com os primeiros cem livros vendidos no dia do lançamento. “Essa foi uma estratégia que desenvolvemos como atrativo para a apresentação dessas edições e como divulgação da obra do artista”, observa Plínio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp.

“Artes na Edusp” reúne fotografias de Jorge de Lima, Daniel Albernaz Acosta, Rosangela Rennó, Thomaz Farkas, Atílio Avancini e José de Souza Martins. E gravuras de João Câmara, Antonio Hélio Cabral, Cândido Portinari, Lasar Segall, Evandro Carlos Jardim, Hermelindo Fiaminghi, Anna Letycia, Marco Buti, Maurício Nogueira Lima, Feres Lourenço Khoury, Hélio Vinci, Claudio Mubarac, Renina Katz, Laurita Salles, Lygia Eluf, Luise Weiss, Alex Flemming, Ermelindo Nardin, Takashi Fukushima, Marcelo Grassmann e Francesc Domingo Segura.

 
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