O ensino nas escolas de Ribeirão Preto ganha um importante instrumento com o lançamento do primeiro Atlas Escolar Histórico, Geográfico e Ambiental da cidade. O Atlas oferece uma gama variada de informações, que remontam aos primeiros moradores da região, os índios. De lá para cá, a história da formação do município é ilustrada com base nos

Crédito foto: Rosemeire Talamone

principais acontecimentos. E não pára por aí. O projeto foi criado pelo Grupo de Estudo da Localidade (ELO) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e teve colaboração do Laboratório de Cartografia do Centro Universitário Barão de Mauá e de vários órgãos da prefeitura municipal, como o Arquivo Público e a Secretaria de Educação.

O Atlas contempla temas nacionais e mundiais emergentes, só que no espaço de vivência de professores e alunos da cidade. “Partimos do princípio de que um atlas não é

Andréa Lastória (terceira, da esquerda para a direita): ensino vivido

somente composto por mapas. Os livros didáticos não trazem especificidades das cidades no seu contexto e pensamos que o ensino de história e geografia nos anos iniciais da escola básica deve focalizar o estudo do local de vivência desses professores e alunos”, diz a coordenadora do ELO, professora Andréa Coelho Lastória.

Foram quase três anos de pesquisa. O Atlas é composto por temas independentes que destacam o que é prioritário para a escola, numa linguagem específica para o ensino fundamental. Todos os temas são ilustrados com mapas e fotografias e, na versão em CD-ROM,  eles são acompanhados de música de artistas locais e regionais, que cederam os direitos autorais. A seleção dos temas foi feita pelos professores das escolas participantes do ELO. Todos os assuntos abordados mostram a preocupação ambiental, mas para chamar ainda mais a atenção para o tema ele foi incluído no título. “A idéia é que o aluno reflita o seu cotidiano de forma crítica e a partir de informações que estão na academia”, explica a coordenadora.

A vice-coordenadora do ELO, professora Noely Mendes Paes, da Escola Estadual Rafael Leme Franco, de Ribeirão Preto, disse que um conceito importante utilizado na construção do Atlas foi a articulação dos saberes.  “O trabalho foi realmente conjunto, as informações e estudos foram se interagindo e se complementando”, analisa.

A professora Andréa Lastória confirma que o trabalho foi coletivo. “Envolveu pesquisadores, alunos, pós-graduandos e funcionários da USP, professores da rede pública – formados e em formação.  Os mapas se comunicam por si, a base foi o cadastro técnico da prefeitura. Todas as fotografias aéreas são de satélite brasileiro”, diz.


Uma das telas do CD-ROM do Atlas de Ribeirão Preto: interatividade

O prefácio foi escrito pela professora Helena Copetti Callai, geógrafa e autora do primeiro atlas municipal no país, da cidade de Ijuí, no Rio Grande do Sul. Ela sintetizou a importância de o município contar com seu próprio atlas. “Estudar o lugar para compreender o mundo – essa pode ser a proposta desse Atlas, e a sua produção e apresentação ao público, em especial o escolar, oportuniza trabalhar as questões da vida cotidiana. Ao produzir esse atlas escolar de Ribeirão Preto, o Grupo Elo disponibiliza as condições para fazer a leitura do lugar.”

Uma das curiosidades do Atlas é sobre a própria formação da cidade, sempre vinculada à agricultura cafeeira. Ele traz a importância dos entrantes mineiros nessa formação e o fato de a cidade não estar inserida no movimento dos Bandeirantes, pois sua formação é posterior a ele. Outra questão abordada e que não aparece nos livros didáticos é que a cidade não viveu a era dos barões do café, e sim a dos coronéis do café. “Temos a ciência como referência e já é consenso no meio acadêmico um novo conceito da formação da geografia. A geografia escolar traça os rumos da geografia pura. Por exemplo, o contexto econômico e político fez emergir a geografia do turismo”, enfatiza Andréa. Para José Faustino de Almeida Santos, aluno do curso de História do Centro Universitário Barão de Mauá, o interessante é que, mesmo sendo ele aluno, pôde contribuir com a experiência de formação para a composição do Atlas.

O Atlas traz a configuração do espaço geográfico ao longo da história da cidade, por meio de variadas linguagens (textual, pictórica, gráfica e outras), em formato CD-ROM. “O formato traz a possibilidade de interatividade, facilita a rapidez na manipulação, além de apresentar movimentos e músicas”, diz Andréa. “Inicialmente a prefeitura de Ribeirão Preto vai distribuir o Atlas nas escolas municipais, posteriormente será distribuído para bibliotecas, museus, escolas estaduais e esperamos parcerias para a produção da versão impressa, que já está pronta. Para isso, precisamos de patrocinadores”, revela a pesquisadora, que informa, ainda, que o Atlas estará disponível no endereço eletrônico  http://sites.ffclrp.usp.br/laife nos próximos meses.

 

Um elo com a educação

A construção do Atlas é somente uma das iniciativas do Grupo de Estudos da Localidade (ELO). “O ELO tem diferentes iniciativas na área de educação”, diz Andréa Coelho Lastória, coordenadora do grupo.  Ainda segundo Andréa, no ELO o professor é protagonista e pesquisador. Baseia sua produção na necessidade que encontra na sala de aula.

O ELO é uma comunidade de aprendizagem profissional da docência. Estuda a localidade de Ribeirão Preto e é ligado ao Laboratório Interdisciplinar de Formação do Educador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. É composto por estudantes de graduação e pós-graduação, professores do ensino básico e superior das redes pública e privada e pesquisadores das áreas de pedagogia, história e geografia. “A interdisciplinaridade possibilita que os saberes se complementem e estimula discussões e ações educativas em conjunto, consolidando os objetivos propostos”, diz Andréa. 

Segundo ela, o grupo compartilha saberes da prática pedagógica e das áreas específicas do conhecimento, pesquisa a localidade de Ribeirão Preto, reflete sobre as permanências e mudanças realizadas pela sociedade ao longo do tempo e produz novos saberes. Os alunos de graduação, principalmente da área de história, já utilizam os estudos no ELO para trabalhos de conclusão de curso. “Já temos outros desdobramentos desses estudos, a formação de recursos humanos. A convivência traz a experiência”, comemora Andréa. “O grupo conta com professores que estão ainda em formação, com pessoas que estão no meio da carreira e uma em especial que já está para se aposentar. É tudo muito rico.” Mais informações sobre o ELO podem ser obtidas pelos telefones (11) 3602-3845 e 3602-3634. 

 

Animação mostra mudanças na região

O Atlas Escolar Histórico, Geográfico e Ambiental de Ribeirão Preto, elaborado pelo Grupo de Estudo da Localidade (ELO) da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, está dividido em 32 partes. Em cada uma delas, além de mapas e fotos, pode ser acessado também um ícone que traz mais informações específicas. Nas fotos de época, por exemplo, foi colocada uma animação em que o aluno poderá observar a transformação de um determinado local, percebendo como era nos anos 20 do século passado e como é hoje. As imagens, de forma lenta, se sobrepõem. O estudante ou professor pode também consultar os bairros da cidade e, no mapa cartográfico, ver os limites geográficos do bairro, sobreposto na foto aérea da área em questão. “Nesse formato, o aluno terá mais noção do espaço onde vive”, diz Gabriel Vendrusculo, do Laboratório de Cartografia do Centro Universitário Barão de Mauá, que também participou do projeto. O Atlas em CD-ROM inicia apresentando com animação o mapa do município e sua inserção nos mapas da microrregião de Ribeirão Preto, do estado de São Paulo, do Brasil, da América e no mapa-múndi. Basta acessar o tema “De Ribeirão para o mundo”.

 
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