A média da população paulistana, cinéfilos à parte, levaria muito tempo para conseguir assistir a todos esses filmes. Mas isso não detém Renata de Almeida e Leon Cakoff, organizadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que este ano chega à sua 32ª edição, com esse volume de títulos exibido em apenas 14 dias, em sessões

contínuas e diversas salas de cinema. O festival foi criado em 1977 por Cakoff, crítico de cinema, para celebrar os 30 anos da fundação do Masp, e enfrentou anos de censura prévia, imposta pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do governo. Apenas no final da gestão de Figueiredo, último dos presidentes da ditadura militar, conseguiu se livrar da censura.

Em idade balzaquiana, a mostra tem “atrativos irresistíveis”. Alguns dos filmes têm títulos sugestivos, como Todo Mundo Tem Problemas Sexuais (Brasil, 2008), média-metragem de Domingos Oliveira. Outros são assinados por diretores consagrados. Win Wenders traz seu novo Palermo Shooting (Alemanha, 2008), sobre um fotógrafo em crise existencial que vai para Palermo, na Itália, e acaba encontrando um novo amor (o cineasta ainda faz uma seleção de seus filmes preferidos e participa de debates após a exibição); e Woody Allen com Vicky Cristina Barcelona (Espanha, EUA, 2008),

O Silêncio de Lorna, dos irmãos Dardene, melhor roteiro em Cannes, e o novo filme de Woody Allen, Vicky Cristina Barcelona

comédia sobre uma viagem de verão a Barcelona em que duas jovens americanas (entre elas a atual favorita do diretor, Scarlett Johansson) se envolvem com um pintor (Javier Barden) e sua desvairada ex-mulher (Penélope Cruz). A abertura traz Terra Vermelha (Itália, Brasil, 2008), de Marco Bechis, sobre o suicídio de um garoto indígena que desperta sua comunidade, que vive às margens de uma fazenda.

São dois os homenageados desta edição: o cineasta sueco Ingmar Bergman, que estaria completando 90 anos, e Kinachi Okamoto, um dos pioneiros do novo cinema japonês. De Bergman serão exibidos A Hora do Lobo (1968), Crise (1946), Vergonha (1968), Rumo à Alegria (1950) e Fanny e Alexander (1982); além da exposição “Meus Encontros com Bergman”, com fotografias do cineasta tiradas nos bastidores das filmagens, e o relançamento de sua autobiografia, Lanterna Mágica, reeditada pela Cosac Naify. Da cinematografia de Okamoto, marcada pela 2a Guerra Mundial, serão exibidos A Batalha de Okinawa (1971), A Vida Elegante do Sr. Comum (1963), O Guerreiro Vermelho (1969), Oh, Minha Bomba! (1964) e Desperado – Posto Avançado (1959), entre outros.

O cineasta argentino Paulo Trapero, um dos mais reconhecidos de sua geração, é outro que, mesmo não sendo homenageado, vem ao Brasil para o festival. Assim como o israelense Amos Gitai e o iraniano Abbas Kiarostami em outros anos, vai ministrar um workshop de direção (vagas esgotadas). Dentre os filmes que levam sua assinatura, serão exibidos Do Outro Lado da Lei (Argentina, 2001), Família Rodante (Argentina, Brasil, França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, 2004), Nascido e Criado (Argentina, Brasil, Itália, Inglaterra, 2006), e Leonera (Argentina, 2008).


Che, de Steven Soderbergh

O grupo francês Octuor de France, que já se apresentou na Quinzena dos Realizadores, do Festival de Cannes, no Festival do Filme de Bolonha e no Festival de Montreal, é convidado especial da mostra. Ele participa de um projeto de renovação do cinema mudo com “projeções-concerto” de filmes clássicos. O grupo executa peças originais, compostas por Gabriel Thibaudeau, para os filmes O Homem que Ri (EUA, 1928), de Paul Leni, e Poil de Carotte (França, 1925), de Julien Duvivier.

Mais destaques – Os cinéfilos também vão gostar de saber que a série alemã Berlin Alexanderplatz, com todos os 14 capítulos, será exibida. Dirigida pelo cineasta Rainer Werner Fassbinder para a TV em 1980, foi rodada pela última vez em 16 mm em 1985. Nesta edição da mostra, o seriado de 15 horas e meia de duração será exibido em 35 mm, dividido em blocos de três episódios por noite, a partir de 25 de outubro. A série mostra aos poucos a história de Franz Biberkopf, que acaba de sair da prisão por ter assassinado a namorada enquanto estava bêbado, entra para uma gangue e vai parar em um hospital psiquiátrico para mais uma tentativa de reabilitação.

Mas estas linhas são poucas para falar de todos os filmes do festival, afinal, são quase 500. Fazer um bom aproveitamento da mostra vai exigir do público um grande esforço de organização. Mas cabem ainda alguns destaques, como Canção Cubana (Canadá, 2008), dirigido por Fernand Bélanger, Louise Dugal e Yves Angrignon, um retrato crítico da ilha em que a câmera parece ser abandonada em diversos lugares, sem nenhum depoimento, mas vivificado por tradicionais músicas cubanas; O Silêncio de Lorna (Bélgica, Reino Unido, França, Itália, Alemanha, 2008), dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardene, Melhor Roteiro em Cannes, sobre um plano de matrimônio que concederia a uma jovem albanesa a cidadania belga, mas pode terminar em assassinato; Mais Tarde Você Entenderá (França, 2007), com assinatura de Amos Gitai, em que um jovem tenta convencer sua mãe a falar sobre sua infância e a morte dos pais, abordando ainda a colaboração de franceses com os nazistas durante a guerra.

Há também Sinédoque, Nova Iorque (EUA, 2008), estréia na direção do roteirista Charlie Kaufman – que escreveu Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança – que fala sobre a paranóia, o vício em medicamentos e o temor da guerra entre os americanos; Che (EUA, Espanha, França, 2008), de Steven Soderbergh, que deu a Benicio del Toro o  prêmio de Melhor Ator em Cannes, um épico moderno que aborda a ascensão de Fidel Castro via Revolução Cubana e a tentativa fracassada de Ernesto "Che" Guevara de implantar a mesma movimentação na Bolívia; e o documentário em preto-e-branco Garapa (Brasil, 2008), de José Padilha, que fala como a fome e a miséria se manifestam do ponto de vista pessoal de diversas famílias, dando vida a números e estatísticas.

A 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo será exibida a partir de sexta e vai até dia 30 de outubro. Os pacotes já estão sendo vendidos na Central da Mostra (Conjunto Nacional, na av. Paulista, 2.073), de segunda a sexta, das 12h às 18h, e o valor varia de R$ 90,00 (Permanente Especial) a R$ 390,00 (integral). Os ingressos individuais custam R$ 14,00 (de segunda a quinta) e R$ 18,00 (sextas, sábados e domingos); estudantes só terão descontos nos valores individuais. Programação completa no site www2.uol.com.br/mostra.

 
PROCURAR POR
NESTA EDIÇÃO
O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[
EXPEDIENTE] [EMAIL]