Em Vivo Contato é o tema desta edição da Bienal de São Paulo, que em um formato diferente propõe uma plataforma de observação e reflexão sobre as bienais no circuito artístico internacional. Ou seja, um estudo de caso da própria bienal, considerando as mudanças ocorridas no contexto cultural do Brasil e da América Latina, com a

globalização e a popularização da arte contemporânea. Assim, reduz o número de artistas a apenas 42 e diversifica as atividades, sem restringir-se à produção meramente contemplativa. Os curadores Ivo Mesquita e Ana Paula Cohen convidaram artistas plásticos que trabalham no limite entre realidade e ficção, memória pessoal e coletiva, para criar projetos que tragam à luz a história da Bienal de São Paulo, sob a perspectiva social, documental, política ou arquitetônica.

Um dos destaques é o Arquivo Histórico Wanda Svevo, maior patrimônio da Fundação Bienal de São Paulo e principal fonte de referência, que vai ocupar todo o terceiro andar, reativando sua história, dentro do projeto Plano de Leituras. Com um ambiente introspectivo, que possibilita ressignificações a cada olhar e mais próximo ao tempo da biblioteca do que às grandes exposições, traz ao público um grande volume de informação sobre mais de 200 bienais. E ainda uma plataforma de conferências,

A videoinstalação Video Portrait Gallery (2007), da sérvia Marina Abramovic (acima); e Airplanes and Angels (2008), da romena Mircea Cantor

painéis e conversas com artistas, que apresenta reflexões sistematizadas acerca do papel da Bienal de São Paulo hoje, assim como ao modelo de exposição que se multiplicou por toda parte.

A discussão gira em torno de quatro grandes temas: A Bienal de São Paulo e o Meio Artístico Brasileiro: Memória e Projeção (com relatos orais de memórias, avaliações e expectativas de profissionais sobre a instituição), Backstage (que réune profissionais responsáveis pelas agências governamentais e organizações privadas financiadoras); Bienais, Bienais, Bienais... (depoimentos de diretores e curadores, remetendo a um inventário de tipos e categorias de mostras sazonais); e História como Matéria Flexível: Práticas Artísticas e Novos Sistemas de Leitura (novos projetos, em diferentes tempos e espaços).

Novas propostas – Os outros andares trazem um novo conceito para a Bienal. O térreo será transformado em uma grande praça pública, retomando a idéia original de Oscar Niemeyer, e vai abrigar intensa programação musical, de dança, performances e até cinema. O segundo andar, ao contrário das bienais anteriores que transformaram todo o pavilhão em salas de exposição, será completamente aberto, revelando toda a sua estrutura arquitetônica, a partir do conceito Planta Livre, criado por Le Corbusier em 1926, para definir um dos cinco princípios da nova arquitetura, que com o uso de pilotis e o concreto armado, as paredes não são mais usadas na sustentação dos andares de um edifício.

Traz também o Vídeo Lounge, com curadoria do artista Wagner Morales, com o intuito de conectar os acontecimentos da praça com o campo da reflexão e da pesquisa através do registro em vídeo de tudo o que estiver acontecendo durante a Bienal (conferências, performances, workshops), além de uma programação de filmes temáticos desenvolvidos a partir de um olhar sobre o trabalho dos artistas participantes – como Marina Abramovic (Belgrado), Eija-Liisa Ahtila (Finlândia), Vasco Araújo (Portugal), Mircea Cantor (Romênia), Ângela Ferreira (Moçambique), Israel Gaván (Espanha) e os brasileiros Dora Longo Bahia, Mabe Bethônico, João Modé e Iran do Espírito Santo, entre outros.


Obra em metal, plástico e vinil, de 2007, do brasileiro Rivane Neuenschwander

Quatro projetos especiais integram a programação: Archivo Abierto (Centro de Documentación de las Artes, Centro Cultural Palacio la Moneda, de Santiago, Chile), Weightless Days (dos brasileiros Angela Detanico e Rafael Lain, dos japoneses Megumi Matsumoto e Takeshi Yazaki e do irlandês Dennis McNulty), Cinema Capacete (Rio de Janeiro) e do coreógrafo Ivaldo Bertazzo (São Paulo). E Residências, parceria com o programa internacional de residências do Edifício Lutetia da Faap, traz seis artistas que vão desenvolver seus projetos em São Paulo: Erick Beltrán (México), Gabriel Sierra (Colômbia), Goldin+Senneby (Suécia), Javier Peñafiel (Espanha) e Sarnath Banerjee (Índia), além de apresentar palestras sobre seus trabalhos.

O novo formato da Bienal ainda propõe quatro publicações: O Jornal 28b, distribuído semanalmente junto a um jornal gratuito com circulação na cidade de São Paulo, com a programação da mostra, textos críticos, artigos e intervenções de artistas (o conjunto final com nove números integra o catálogo final da exposição), O Guia da Bienal, com entrevistas dos artistas sobre os projetos desenvolvidos, além de uma coletânea de textos sobre a mostra publicados desde 1951 e uma seleção de ensaios, comunicações e depoimentos.

Como já afirmava Lourival Gomes Machado na apresentação da 1ª Bienal, por sua própria definição, a Bienal deveria cumprir a tarefa de colocar a arte moderna do Brasil não em simples confronto, mas em vivo contato com a arte do mundo. Esse é o conceito resgatado pela 28a edição da Bienal, 57 anos depois.

A 28ª Bienal de São Paulo começa neste domingo e vai até 6 de dezembro, de terça a domingo, das 10h às 22h, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo do Parque do Ibirapuera. Entrada franca. Programação em www.28bienalsaopaulo.org.br.

 
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