NEHiLP

English version                                                                            Coordenação: Prof. Dr. Mário Eduardo Viaro

Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa
Projeto Número I


RETRODATAÇÃO DAS PRIMEIRAS OCORRÊNCIAS DO LÉXICO DA LÍNGUA PORTUGUESA

Diferentemente do que ocorre com a maior parte das línguas europeias (inglês, francês, espanhol e italiano), os dicionários da língua portuguesa são bastante falhos no tocante aos seus dados etimológicos. Confunde-se derivação sufixal e prefixal com etimologia, confunde-se étimo da palavra com sua origem remota, não há cuidado suficiente com étimos de línguas ágrafas e desconhece-se muito da influência árabe, sem falar da abundância de étimos fantasiosos que descaracterizam o estudo etimológico como um trabalho científico. A mídia e a internet contribuem para a divulgação de soluções fantasiosas, sem que os estudos acadêmicos na área de Linguística Histórica e Filologia consigam expor suas conclusões sobre o assunto. Como aconteceu com a Estilística, as pesquisas etimológicas de caráter científico foram muito produtivas até a década de 20 do século XX, quando estiveram no seu auge, no entanto, eventos históricos e ideológicos promoveram o esquecimento de muitas técnicas e resultados. Alicerçados na pesquisa linguística, os estudos etimológicos voltaram sobretudo a partir da década de 90 e hoje há ferramentas importantes para se desenvolver pesquisas de qualidade no nível acadêmico, que possam contribuir para a mudança da visão da sociedade sobre o tema. Nesse sentido, esta pesquisa sobre datação das primeiras ocorrências das palavras portuguesas, apresentada pelo NEHiLP é o primeiro passo para a criação de um novo dicionário etimológico da língua portuguesa.



OBJETIVOS

(1) Desenvolvimento de programas de computador que permitam gerar listas de palavras existentes em cada texto investigado e ao mesmo tempo associá-las a algumas de suas características (por exemplo, autor, página, data de criação e publicação da obra). Em seguida se fará, também mediante programas de computador, a retroação automática das primeiras ocorrências das palavras, comparando-se esse output com outras listas bastante extensas (mais de 200.000 verbetes), obtidas a partir de informações presentes em dicionários etimológicos atuais, as quais já estão disponíveis e preparadas pelo Grupo de Morfologia Histórica do Português (www.usp.br/gmhp);

(2) Formação de grupos especializados em:
(a) palavras de base latina ou associadas a substratos antigos (antigos helenismos, palavras celtas, ibéricas etc) e de superstrato germânico;
(b) palavras de origem ameríndia;
(c) palavras de origem africana;
(d) palavras de origem árabe;
(e) palavras de origem indiana, chinesa e japonesa;
(f) palavras de origem desconhecida;
(g) palavras internacionais europeias surgidas a partir do século XVII (de várias origens, sobretudo italiano, espanhol, francês e inglês);

(3) Revisão das datações geradas automaticamente, como descrito no item (1) pelo grupo especificado no item (2). Coleta de contextos de uso em textos analisados (trecho da obra em que a palavra investigada é mencionada, assim como indicação do autor, obra, página). Estudos sobre o percurso entre a origem mais remota e o étimo. Análise das propostas etimológicas existentes: confirmação, refutação ou indicação de necessidade de investigação mais detalhada;

(4) Criação de um banco de dados online de acesso restrito aos pesquisadores do NEHiLP, que será preenchido pelos integrantes enquanto as pesquisas estiverem em andamento. Colaborações externas ao banco de dados serão avaliadas pelos grupos especializados mencionados no item (2) antes de serem incluídas no banco de dados. Finda a pesquisa, os verbetes considerados ‘concluídos’ serão disponibilizados ao público por meio da internet;

(5) Estudo das acepções da mesma palavra envolvendo datação independente, considerações sobre étimos específicos e inserção no bancos de dado descrito no item (4). Esse estudo provavelmente requererá maiores investigações futuras mas já pode ser iniciado simultaneamente;

(6) Divulgação das pesquisas por meio de livros, artigos científicos, artigos voltados à comunidade extra-acadêmica, páginas na internet, oficinas, encontros, congressos, conferências, palestras e cursos promovidos pelos integrantes do NEHiLP e por convidados de grupos de pesquisas afins.



JUSTIFICATIVA

Todos os pesquisadores que se dedicam a aspectos históricos e à diacronia da língua portuguesa, há mais de vinte anos, sentem falta de material especializado à altura do dicionário etimológico Oxford para a língua inglesa, do Le Robert para o francês, do de Cortellazzo & Zolli para o italiano ou de Corominas para o espanhol. As obras mais completas que temos em língua portuguesa são as várias publicações de Antônio Geraldo Cunha e o dicionário de Houaiss & Villar (2001), que não é propriamente um dicionário etimológico (e que, além disso, sofreu uma redução dos dados etimológicos na sua segunda edição). As datações existentes nessas obras, porém, são de razoável qualidade para a Idade Média (nesse ponto também são as de José Pedro Machado anteriores ao século XII e repetidas no dicionário de Houaiss & Villar), mas a partir do século XVI as datações apresentadas nelas são muito imperfeitas. São ausentes ou muito falhas sobretudo para os séculos XVII, XVIII e XX. O NEHiLP dispõe de pesquisadores de várias linhas que podem promover um estudo de qualidade para preencher essas lacunas faltantes: trata-se de arabistas (prof. Dr. Federico Corriente, da Universidad de Zaragoza/Espanha; prof. Dr. Mamede M. Jarouche e profa. Dra. Safa A. A. C. Jubran, DLO/FFLCH), africanistas (profa. Dra. Margarida M. T. Petter, do DL/FFLCH, Prof. Dr. Francisco da Silva Xavier, Centre de Recherche de la Recherche Cientifique/Sorbonne IV), sanscritistas e indo-europeístas (prof. Dr. Daniel Kölligan, da Universität zu Köln/Alemanha, prof. Dr. Mário Ferreira, DL/FFLCH, prof. Dr. José Marcos M. de Macedo, DLCV/FFLCH, prof. Dr. Josenir Alcântara de Almeida, UFC ), especialistas em latim tardio e em filologia românica, sobretudo em línguas ibero-românicas (profa. Dra. Valéria G. Condé, DLCV/FFLCH; prof. Artur Costrino, UFPel), linguistas conhecedores de muitas línguas e de teorias morfológicas/estilísticas que permitam o tratamento com o grande número de palavras derivadas por sufixação e prefixação do português (prof. Dr. Martin Becker, Universität zu Köln/ Alemanha, profa. Dra. Graça M. O. S. Rio-Torto, Universidade de Coimbra/ Portugal, prof. Dr. Bruno O. Maroneze, UFGD; profa. Dra. Elis de A. C. Caretta, DLCV / FFLCH, prof. Dr. Mário Eduardo Viaro, DLCV/FFLCH, prof. Dr. Paulo Chagas de Souza, DL/FFLCH, prof. Dr. Aldo L. Bizzocchi, FMU, profa. Andréa Lacotiz, FATEC/SP, Dra. Solange Peixe Pinheiro de Carvalho, FFLCH), filólogos e conhecedores da problemática histórica que envolve textos medievais e antigos textos brasileiros (prof. Dr. Sílvio de A. Toledo Netto, prof. Dr. Marcelo Modolo, prof. Dr. Phablo M. R. Fachin e prof. Dr. Manoel M. S. Almeida, DLCV/FFLCH; prof. Dr. Nelson Papavero, MZ-USP; prof. Dr. Carlos Eduardo Mendes de Moraes, UNESP/Assis), especialistas em corpora digitalizados (prof. Dr. Michael J. Ferreira, Georgetown University/EUA www.corpusdoportugues.org; profa. Dra. Clotilde de Almeida Azevedo Murakawa e a a Dra. Mariana Giacomini Botta, UNESP/Araraquara, integrantes do Dicionário Histórico do Português do Brasil - DHPB, além do Prof. Dr. Zwinglio de O.Guimarães-Filho, IF/USP, pertencente ao Grupo de Morfologia Histórica do Português www.usp.br/gmhp/), especialistas em Ciência da Computação (prof. Dr. Marco Dimas Gubitoso, IME/USP). Muitos desses pesquisadores atuam em duas ou mais linhas. Ao todo, 48 pessoas, entre professores, alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorandos integram o núcleo.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa

nehilp@usp.br