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Um bate papo com Michael Lahr e Flávio Vieira

Por Lucas Gerez Foratto

Na semana do dia 13 a 17 de março, os professores Michael L. Lahr e Flávio Vilela Vieira participaram dos encontros semanais do Nereus e de um circuito de palestras, somadas com a assessoria do professor Lahr nos temas relacionados a matrizes de insumo-produto. Para aproveitar a visita, a equipe do Nereus realizou um bate papo para saber a opinião de ambos os professores em temas diversos.

Michael L. Lahr

Professor e pesquisador no Centro de Pesquisas de Políticas Urbanas (CUPR, da sigla em inglês) da Rutgers University, o professor Lahr estuda economia regional, microeconomia aplicada, análise de matriz insumo-produto, análise de impactos econômicos e economia urbana. Além disso, Lahr atua como diretor na Rutgers Economic Advisory Service (R/ECON™) que elabora estudos tanto para o setor privado quanto para o público.

Equipe Nereus: Professor, o senhor poderia nos contar como surgiu o curso de “Planejamento Urbano e Políticas de Desenvolvimento” e como seria a interação desse curso com os que conhecemos, como economia aplicada, estatística, ou até mesmo o data manager?

Lahr: O foco do curso está nos estudos de Geografia e Economia Urbana, quando estamos falando em graduação temos uma sobreposição dessas duas áreas. No planejamento urbano o core está em como podemos minimizar as externalidades negativas presentes nas políticas públicas no local. Sendo assim, mesmo sem utilizar os jargões da economia, tratamos de temas parecidos, mas com abordagens diferentes.

Em alguns casos, por exemplo, quando eu ensino sobre custos, nós analisamos a teoria do uso da terra, tão conhecido pelos economistas, mas focamos em como utilizá-la da melhor maneira, como as interações com os vizinhos e os seus respectivos preços podem afetar o valor da sua própria casa, sem entrar no mérito do valor de uso da terra.

Outros assuntos mais específicos, mas que estão no radar dessas questões, são as interações entre os bairros. Os bairros mais pobres e mais depredados de New Jersey são os de latinos e porto-riquenhos, que vivem em condições precárias devido aos baixos níveis de renda. Por outro lado, os bairros dos estudantes também se encontram em condições ruins, uma vez que eles estão sempre muito atarefados com outras coisas e com uma leve tendência para procrastinar tarefas domésticas, esses lugares acumulam muito lixo amostra, sem contar no acumulo de neve no inverno.

Equipe Nereus: Então como o senhor trata das questões econômicas e as suas respectivas análises sem utilizar diretamente o approach econômico?

Lahr: Geralmente quando eu ensino os contextos de economia eu relaciono com a história americana, o que pode ser um problema para os alunos estrangeiros, mas de qualquer forma, é menos exaustivo para a maioria dos alunos que não possuem muita familiaridade com o ferramental e com a abordagem matemática, necessária no approach econômico, o que dificulta bastante a utilização dessas teorias em minha sala de aula.

Vou dar um exemplo: estudar a formação dos centros urbanos e evolução das cidades pode ser abordado com os estudos de infraestrutura urbana dos séculos XIX e XX. A Filadélfia e as cidades satélites que formavam um centro importante de produtores de trigo originou esse importante polo, hoje mais urbano e com pessoas com maior pode aquisitivo.

Quando estudamos o crescimento da cidade de Nova York, vemos que ela não era nada além de uma área de pescadores até meados do século XIX. Com a construção do canal comunicando Bufalo e NY foi possível formar as regiões dos lagos, de suma importância no cenário atual. Na minha última turma foi mais complicado lecionar dessa maneira, uma vez que 50% dos estudantes eram da China e da Coreia.

Equipe Nereus: Então no curso de vocês há uma analise de temas parecidos, mas sem os jargões econômicos, o famoso economês.

Lahr: Alguns termos não tem como escapar, como é caso do termo “elasticidade”, isso eles conseguem compreender e verificam os impactos de políticas públicas via elasticidades das variáveis. Também estudamos nas aulas de graduação a teoria de zoneamento urbano, do Tibout, mesmo que eles não concordem muito (risos).

Acredito que o problema está na escassez de ferramental matemático, os alunos não estão inteirados nessa metodologia o que torna difícil a aplicação de modelos mais complexos no decorrer do curso.

No que tange ao desenvolvimento do programa, para mestrado e depois doutorado, o número de PhD são relativamente baixos, então, como não há uma demanda tão forte nesta área não temos uma continuação.

Equipe Nereus: E como está a Rugters Universiy em termos acadêmicos?

Lahr: A Rutgers é de longe a melhor universidade pública do Estado (New Jersey), e se compararmos no cenário nacional, somos a sexta força, atrás de Berkeley (1ª), Virginia (2ª), Texas (3ª), Michigan (4ª) e Wisconsin (5ª). As melhoras universidade ainda são as privadas, lá as pesquisas obtêm financiamentos e patrocínios para acontecerem.

Como estamos em uma universidade pública, no caso uma estadual, o foco está mais na aula do que nas pesquisas, o orçamento é mais voltado para os alunos e é inclusive com orçamento relacionado com o número de alunos.

Equipe Nereus: O que o senhor faz na Rutgers Economic Advisory Service (R/ECON™)? O senhor realiza estudos de análise de Insumo-Produto mais específicos para os órgãos governamentais ou para as instituições privadas?

Lahr: R/ECON é um trocadilho em inglês que seria uma investigação, trata-se de uma parceria com outro pesquisador, que realiza os trabalhos de econometria. Nós montamos matrizes de Insumo-Produto das mais variadas, já fizemos até uma para os cassinos de New Jersey.

Atualmente, no que tange aos estudos de Matriz de Insumo-Produto, nós estamos estudando os impactos de infraestrutura de saneamento na região de New Jersey, patrocinados por uma empresa de encanamento, responsável pela distribuição de gás natural. Temos uma elevada produção nos Estados do Oeste, porém não há uma rede de tubos para redirecionar essa distribuição.

O gás é muito importante para a região, pois a combinação dos fatores faz com que o máximo que podemos suprir da matriz energética por energia renovável se encontra na casa dos 20%. O fato de ser uma península, não ter vento, não ter sol e nem rios com queda para instalar hidrelétricas subordinam a região para uma utilização de energia advinda do petróleo, gás e carvão.

Equipe Nereus: E como o senhor enxerga a interação entre os pesquisadores estrangeiros, que aumentam a cada ano nos EUA, e os pesquisadores americanos?

Lahr: De um ponto de vista muito otimista, a nossa faculdade, inclusive, está buscando envolver as parcerias em uma via de mão dupla, mandando nossos alunos para outros países como é o caso do Brasil e da Índia, no momento. Nas nossas aulas, estamos com um grande número de alunos argentinos e colombianos. Confesso que ainda sinto falta de alunos mexicanos, eles são os vizinhos mais próximos, porém os com menos participação nos cursos de graduação, mestrados e daí por diante.

Flávio Vilela Vieira

Flávio Vilela Vieira, graduado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) de 1984 a 1988, com mestrado na Fundação Getúlio Vargas, de 1989-1993, realizou o mestrado Universidade de Illinois e continuou seus estudos na Universidade de New Hempshire onde obteve o título de PhD. Atualmente, Vieira é professor na Universidade Federal de Uberlândia, com enfoque nas áreas de Economia Internacional e Econometria.

Equipe Nereus: Professor, o senhor poderia nos contar um pouco mais sobre as suas linhas de pesquisas. O seu foco se mantém nas áreas de econometria aplicada e economia internacional?

Vieira: Eu sou pesquisador pelo CNPq, com bolsa de produtividade na área de economia internacional desde 2003, então minha área de atuação é economia nternacional, tanto no lado monetário quanto no financeiro. Eu já trabalhei com a parte de fluxo de comércio em trabalhos pontuais, mas o meu foco está mais nas outras questões, sempre com modelagem econométrica. Devido a isso, na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) eu ministro as aulas de econometria teórica na graduação e econometria aplicada na pós.

Equipe Nereus: O senhor está como pesquisador associado do Nereus: em quais pesquisas o senhor contribuiu?

Vieira: Eu já realizei algumas pesquisas em parceria com os professores Eduardo (Haddad) e Azzoni na área de exportações dos Estados brasileiros e como isso se relaciona com Mercosul. Atualmente, estamos elaborando algumas pesquisas relacionadas ao fluxo de comércio Brasil-Marrocos. Por enquanto, o enfoque está na varredura da literatura sobre o tema. Inclusive o professor Eduardo já possui papers sobre o tema, junto com os pesquisadores Vinícius de Almeida Vale e Fernando Salgueiro Perobelli.

Em 2015 eu estive envolvido no projeto do Nereus que realizou pesquisas no Líbano com a aplicação de modelos de equilíbrio geral, apesar da minha baixa familiaridade com esse instrumental analítico. Contribui com o que eu sei, ou seja, com a análise macro.

Em 2006 eu fiz um curso com o pessoal aqui do Nereus de equilíbrio geral computável para entender essas técnicas utilizadas pelo pessoal daqui, aprendi um pouco de metodologia, mas não a ponto de me tornar pesquisador na área. Durente o tempo que fiquei na FEA estudando, pude notar como é bacana a relação entre os professores do Nereus e os seus alunos, tanto os de graduação quanto os da pós.

Apesar das técnicas de modelagem serem bem complexas e com difícil manuseio, eles conseguiram formar toda uma geração de pesquisadores na área, como é o caso do Fernando Perobelli que está em Juiz de Fora e outros em Minas Gerais, no Paraná, na Bahia e em São Paulo que continuam estudando sobre esse temas. Os spillovers de conhecimento por aqui são notáveis. Em Uberlândia é bem diferente, o grupo do corpo docente é menor, assim como o número de alunos o que dificulta uma interação deste tipo.

Equipe Nereus: E em Uberlândia, o senhor está com projetos em andamento?

Vieira: Agora estou terminando um artigo sobre as exportações dos BRICS, com modelos autorregressivos com defasagens distribuídas com técnicas de cointegração, os chamados ARDL. Os BRICS tem preenchido grande parte da minha agenda, mas continuo com estudo em crescimento econômico e desalinhamento da taxa de câmbio.

Equipe Nereus: Uma pergunta sobre os BRICS, além da já conhecida política cambial na China, o senhor nota uma convergência na linha de atuação, no que tange as desvalorizações cambiais nestes países?

Vieira: A percepção que podemos notar é de que em todos os países emergentes, incluindo os BRICS, se você consegue trabalhar uma taxa de cambio real efetivo mais depreciado, no longo prazo você acaba obtendo vantagens que favorecem as exportações, por exemplo. O problema é que nos BRICS, com exceção do China, há uma elevada volatilidade cambial relativamente grande, como nós podemos notar no caso da Rússia depois da desvalorização do petróleo, na Índia um pouco menos, na África do Sul com uma dinâmica parecida com o caso do Brasil o que nos torna reféns desta oscilação no câmbio.

Já a China, de 1994-2005, conseguiu manter uma taxa de câmbio mais depreciada por 11 anos, o que favoreceu e muito as exportações. Houve uma forte pressão para apreciação do seu câmbio, sobretudo dos países europeus e dos Estados Unidos, principais importadores de produtos chineses, mas como eles estavam com uma quantidade grande de reservas, conseguiram manter o câmbio real depreciado.

Equipe Nereus: Para encerrar, como está estruturada a Faculdade de Economia em Uberlândia, em termos de matérias, professores e pesquisas?

Vieira: Desde os anos 70, Uberlândia era meio que o satélite da Unicamp, tanto no pensamento quanto na própria equipe de professores, sendo assim, o enfoque se situava mais na análise do contexto histórico e com uma menor utilização de métodos quantitativos, por exemplo. Mas nos últimos 10 anos as novas contratações seguem mais a linha do mainstream.

Além disso, nós também estamos com um curso recente de Relações Internacionais dentro do Instituto de Economia, então estamos com dois cursos de graduação (Economia e Relações Internacionais), dois de mestrado (Economia e Relações Internacionais) e um de doutorado (Economia).


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