Oficina do USP MUNICÍPIOS aborda a responsabilidade do educador no uso da imagem

Por Luísa Hirata e Diogo Bachega Paiva

A sexta Oficina de Capacitação dos professores municipais de Piraju teve como proposta  trabalhar a educação para a mídia e a formação de um olhar crítico sobre a circulação das imagens no cotidiano. A palestra foi ministrada pelo Prof. Dr. Luciano Guimarães, da Universidade de São Paulo (USP), no dia 18 de agosto de 2021, via transmissão ao vivo no canal CJE, no YouTube.  Ele é doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e docente no departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP).

O professor apresentou, inicialmente, como o olhar é naturalizado ao longo do crescimento do indivíduo. Quando crianças, “experimentamos o universo todo com imagens”, mas no ensino superior são raras as imagens e ilustrações presentes nos livros acadêmicos. Guimarães abordou diversas questões, especialmente no que diz respeito ao consumo da informação visual e ao repertório imagético, sempre enfatizando a importância de  desnaturalizar o olhar. 

Como professor da área do Jornalismo, Guimarães trouxe exemplos do “jogo sujo da informação”, em que a imagem é apresentada de tal forma que deturpa a informação à qual está vinculada em algum grau, gerando efeitos de sentido relevantes.

O palestrante apresentou atividades simples que podem ser realizadas em sala para desenvolver o olhar crítico dos alunos, sempre enfatizando o uso de imagens que dialoguem com o repertório dos estudantes em cada etapa do ensino.

Guimarães ilustra o ciclo da informação em sala de aula da seguinte forma:  docente produz informação (original ou alterada) e a transmite para os estudantes. Eles a recebem, interpretam e, a partir disso, passam a poder reproduzir e transmitir essa informação. O funcionamento do ambiente de aprendizado é cíclico, onde todos produzem, transmitem e recebem informações.

Além das dicas, o professor aponta sete responsabilidades que os docentes devem assumir nesse processo:

  1. Selecionar fontes seguras, confiáveis e éticas
  2. Adquirir repertório e formação crítica
  3. Alterar ou produzir conteúdo com qualidade
  4. Transmitir por meios e linguagens adequados
  5. Formar “leitores” aptos e críticos, fornecendo repertório e instrumentos
  6. Incentivar e promover o uso de imagens de forma consciente, ética e responsável
  7. Incentivar e promover a produção de conteúdos éticos e criativos

As imagens técnicas, como gráficos e tabelas, têm uma “propensão maior a nos fazerem acreditar [nelas]”, por isso exigem maior cuidado na análise. Muito utilizadas pelos meios de comunicação, Guimarães mostra exemplos de como, mesmo com dados corretos, podem levar a leituras e sensações diferentes da informação apresentada.

“Duvide dessas informações. Cheque. Avalie. E aprenda como funcionam as imagens”, resume.

No fim da apresentação, Luciano apresentou diversos exemplos de construção de sentido através da imagem. Em um deles, aponta uma conexão imprópria de texto e imagem durante uma reportagem televisiva.

Em uma reportagem televisiva sobre um acidente automobilístico, enquanto o texto diz que os envolvidos beberam “ao menos quatro garrafas”, a imagem é de centenas de garrafas, o que intensifica maliciosamente a impressão do consumo excessivo de álcool. Imagem: Reprodução

Guimarães comenta sobre as fotos utilizadas pelo Estadão em um gráfico sobre intenções de voto nas eleições de 2022 publicado no Twitter.

Luciano comenta sobre a escolha de uma foto que sugere tristeza para representar o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que ele liderasse a intenção de voto. Compara com outra foto tirada pelo mesmo fotógrafo no mesmo dia, em que Lula está sorridente, para apontar a intencionalidade presente na escolha das imagens. Imagem: Reprodução

Em outro momento, o professor confronta uma charge sobre um acontecimento de 2012 com o evento retratado, analisando as incoerências.

A charge retrata o encontro de Lula e Haddad com Maluf no contexto de aproximação e apoio político entre Lula e Maluf. Enquanto a tirinha retrata Haddad como “cupido”, atribuindo a ele o apoio a essa aproximação, a análise dos registros fotográficos do encontro mostra que o candidato estava incomodado com a situação. Imagem: Reprodução

Guimarães também propôs um exercício para os alunos, em resposta a uma das perguntas feitas pelos professores de Piraju. A partir de uma fotomontagem de papel, em que se junta informações diversas e de variadas origens para se criar uma nova composição, o aluno precisa falar sobre o que fez e por que fez sua produção dessa forma específica. Isso fará com que ele declare a intencionalidade de sua imagem, ou seja, toda produção nasce de uma proposta. 

Como referência extra para os professores, ele recomenda seus livros As cores na mídia: a organização da cor-informação no jornalismo (Annablume, 2014) e Design da Notícia & Jornalismo Visual no Notícias do Jardim São Remo (ECA-USP, 2017), este disponível aqui.

A atividade é parte do projeto “Registro Digital da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju – desenvolvimento das habilidades comunicacionais no Ensino Fundamental I e II”, do programa USP Municípios em parceria com a prefeitura da Estância Turística de Piraju. A gravação está disponível abaixo:

Luísa Hirata e Diogo Bachega Paiva são repórteres e bolsistas do projeto “Registro da Memória e do Turismo na Estância Turística de Piraju: desenvolvimento das habilidades comunicacionais no ensino fundamental I e II” do Programa USP MUNICÍPIOS

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