No que se refere à composição da matriz energética, o Brasil é um país singular. Mais de 46% da energia consumida é gerada partir de fontes renováveis, muito acima dos 12,7% da média global ou ainda dos 6,2% dos países desenvolvidos. Em 2007, pela primeira vez dentre as fontes renováveis, as hidroelétricas perderam a liderança na oferta de energia no país, sendo os produtos oriundos da cana-de-açúcar detentores da maior fonte de energia produzida no país.
No mercado internacional, barreiras econômicas são disfarçadas de socioambientais, impondo que a agricultura forneça alimento, energia e fibra suficiente para a crescente demanda, sem afetar o ambiente, sendo socialmente correto e melhorando a balança comercial.
À agricultura não deve ser atribuída a responsabilidade de reverter os impactos ambientais negativos que os demais setores causam, para suprir a demanda de recursos para que a vida urbana possa manter o seu padrão. Ao cruzar a porteira, levamos diversos tipos de insumos que serão consumidos no processo produtivo e que estarão incorporados no produto final, não fisicamente, mas depreciados ao prestarem um serviço demandado pelo processo produtivo.
Os insumos diretamente aplicados (fertilizantes, defensivos, sementes) são determinados pela própria prescrição agronômica, enquanto combustíveis, maquinário, infraestrutura e mão de obra são utilizados indiretamente na disponibilização daqueles insumos às plantas. A intensificação dos sistemas de produção é feita através da mecanização, que é uma ferramenta de extrema importância, uma vez que através dela, as plantas têm acesso aos insumos.
Considerando que a subsolagem para uma dada cultura tem que ser feita a 15 cm de profundidade, se ela for realizada a 10 cm, certamente o volume de solo a ser explorado pelas raízes não será o desejado. Caso ela seja feita a 20 cm, houve um gasto de combustível desnecessário (maior esforço tratório), ou ainda, perdeu-se a oportunidade de se trabalhar mais área pelo mesmo período de tempo.
A lucratividade energética da cana-de-açúcar, considerando-se que o etanol e o bagaço são de 9,0 (safra 2005/06). Se for considerada a cogeração de eletricidade, o índice sobe para 9,3. A energia demandada pela produção agrícola e pelo transporte foi de 210 MJ/t e para o processamento, foi de 23,6 MJ/t. O monitoramento de como a agricultura demanda recursos naturais e energia e de quanto fornecem de energia é fundamental para a definição de políticas de estímulo à produção de fontes de bioenergia e também de otimização do uso de insumos.
Assim, o balanço energético (energia total) fornecido em uma tonelada de cana é de 1951,4 MJ ou, se considerado um hectare, 169,8 GJ (87 t/ha). Portanto, a determinação da contabilidade dos fluxos de entrada e de saída de energia é um fator de fundamental importância para a melhora da eficiência de uma fonte de bioenergia, identificando a demanda total, a eficiência refletida pelo ganho líquido e pela relação produção/demanda, além da quantidade necessária para produzir ou processar um determinado produto.
Revista Opiniões – Junho/2010. Texto por: Thiago Libório Romanelli (Professor de Fluxo de Energia em Sistemas Agrícolas da Esalq).
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