Curiosidade: o que mudaria se o mundo fosse vegetariano?

(Texto extraído e adaptado da revista Superinteressante)

Se nossos ancestrais não tivessem um dia preferido o bife à alface você não estaria lendo esta matéria. Aliás, tanto ela como este blog não existiriam, porque ainda seríamos muito primitivos. Foi o aumento no consumo de gordura e proteína animal, ocorrido há 2 milhões de anos, que possibilitou o crescimento do nosso cérebro até chegar ao tamanho atual, segundo Rui Murrieta, professor de antropologia biológica da Universidade de São Paulo. O cérebro humano consome um quinto da energia que ingerimos diariamente. Sem carne, que é uma fonte rica e instantânea de calorias, não conseguiríamos alimentar esse órgão gastão. Detalhe: isso era verdade naqueles tempos. Hoje em dia conhecemos vegetais que substituem a carne.

Mas não é só isso. Se não fosse pelo filé, o pessoal que hoje defende o direito dos animais e prega o fim do consumo de carne nem saberia como mobilizar. Nem eles nem ninguém. É que a caça foi um dos maiores incentivos para que o homem aprendesse a se organizar socialmente. Afinal, para caçar um búfalo era preciso reunir o pessoal, dividir tarefas e estabelecer hierarquias.

Na verdade, devemos até a agricultura ao consumo de carne. O homem começou a plantar há cerca de 10 mil anos, o que o fixou em um local e acabou com a vida nômade. Mas o pastoreio foi o primeiro passo para manter as pessoas em um mesmo lugar. Já que não precisavam sair toda manhã para ir atrás da caça, que estava no quintal, nossos ancestrais tinham mais tempo para cuidar da terra.

E se a adoção da salada ocorresse hoje? E se fosse mundial? O impacto imediato seria na economia, pois o consumo de carne movimenta bilhões de dólares por ano no mundo. No Brasil, segundo maior produtor de carne bovina no mundo[1], estados como Goiás, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, principais pecuaristas do país, perderiam receitas. Teríamos perdas de mais de 2,4 bilhões de reais em exportações por ano[2]. Além disso, haveria queda no emprego e na renda de muita gente. A criação é a única fonte de receita para cerca de 20 milhões de pessoas no mundo, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas sobre o assunto. Só para se ter uma idéia, o PIB da pecuária em vendas externas foi de US$ 76,7 bilhões em 2010.

Mas muito provavelmente o Brasil não seria muito prejudicado pela mudança. Afinal, o mundo precisaria de grãos. E nós somos um dos maiores produtores de grãos do mundo (só que, atualmente, boa parte dessa produção é usada para alimentar rebanhos nos países ricos, acredite!). “O Brasil é uma potência agrícola e poderia investir em produção de soja para fazer carne vegetal. Haveria a transferência da renda para outras fontes alimentares”, diz o agrônomo especialista em pecuária José Vicente Ferraz.

O impacto ambiental seria enorme. Atualmente, dois terços das áreas agrícolas são destinadas à criação. Isso dá espantosos 30% da terra disponível no mundo. Ou seja, sobraria espaço para plantar e a pressão sobre áreas preservadas, como a Amazônia diminuiria bastante. Mas é provável que o consumo de petróleo aumentasse, para fabricar fertilizantes, tecidos sintéticos e transportar áreas sem potencial agrícola, gerando uma crise energética.

O corpo humano sofreria alterações? Difícil dizer. É fato que somos onívoros por natureza, ou seja, nosso corpo digere vegetais e carne. Mas não dá para saber, com certeza, se a dieta vegetariana limita ou expande o crescimento, a saúde e a longevidade. Vegetarianos e defensores do bife têm as próprias verdades e é difícil achar pontos consensuais. “O vegetarianismo restringe o acesso a um grupo de nutrientes importantes que estão concentrados na carne. O homem foi feito para comer carne”, afirma o nútrólogo Mauro Fisberg.

O fato é que, para abandonar a carne, precisaríamos saber mais sobre nutrição, porque viver sem bife exige cuidados, sob o risco e de ficarmos anêmicos.

 

AMAZÔNIA

A criação de gado ocupa grande parte das melhores terras agrícolas brasileiras. Se o gado desaparecesse, ia sobrar terra para plantar. As áreas preservadas, como Amazônia, cerrado e Pantanal, ficariam em paz durante um bom tempo, sem desmatamento e queimadas.

RIO GRANDE DA ESPANHA

Os portugueses ocuparam o Sul do país criando gado para fornecer carne e couro para o sudeste, onde havia mineração. Sem esse recurso, provavelmente o Rio Grande do Sul teria ficado sem ocupação e seria dominado pelos espanhóis

Há pouco mais de 2 milhões de anos, os hominídeos que viviam na Terra aumentaram o consumo de carne, uma fonte rica de energia. Foi essa potência extra que tornou possível a sobrevivência de hominídeos com cérebro maior, que consome mais calorias. Foi assim que nosso cérebro chegou ao tamanho atual. Esse órgão consome 20% da energia que consumimos. Sem a carne, ainda seríamos meio macacos.

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Dados extraídos dos sites:

[1] http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/aftosa/index.shtml#11

[2] http://www.agrocarnes.com.br/carnes.htm

Texto por Manuela Aquino – arquivo Superinteressante

2 Comentário

  1. Leia novamente esse paragrafo

    O homem começou a plantar há cerca de 10 mil anos, o que o fixou em um local e acabou com a vida nômade. Mas o pastoreio foi o primeiro passo para manter as pessoas em um mesmo lugar. Já que não precisavam sair toda manhã para ir atrás da caça, que estava no quintal, nossos ancestrais tinham mais tempo para cuidar da terra.

    Porque eles iriam precisar sair toda manha para ir atrás da caça se eles não comessem carne.

  2. Olá Fabiana, obrigado pela participação.
    Esse texto foi originalmente escrito na Revista Superinteressante, nesse ponto eles abordaram não a ideia de que se fossemos todos vegetarianos, mas sim a história de como surgiu a agricultura. Por sermos onívoros, a partir do momento que o Homem conseguiu domesticar alguns animais para seu sustento é que ele passou a se fixar em apenas um lugar e assim se interessou em também domesticar algumas plantas.
    Agradecemos pela participação e acompanhe sempre o blog.