O agronegócio pede nova instituição

Texto adaptado da Folha de São Paulo – 23/09/2010.

A agropecuária brasileira precisa ser repensada, e os esforços devem se concentrar no desenvolvimento de uma nova instituição, que planeje o futuro nos alicerces ambiental, energético e da segurança alimentar. Observa-se profunda transformação da agropecuária, baseada na mudança tecnológica. Vários segmentos se modernizaram, incorporando novas tecnologias. Entretanto, nota-se que existe parte expressiva dos produtores com baixa capacidade de absorção de conhecimento. Pelo censo, apenas 8% dos estabelecimentos agropecuários estão na vanguarda tecnológica, pois geram 85% da produção total, evidenciando a vulnerabilidade tecnológica do setor em nosso país. 

O agronegócio é responsável por 25% do PIB. Na cadeia, a agropecuária é responsável por 26% do produto setorial, enquanto a indústria e a distribuição, conjuntamente, respondem por 64%. Esta é uma tendência internacional, em que há redução da importância da agricultura relativamente à agroindústria e à distribuição. 

São necessárias políticas que estimulem as redes de difusão de conhecimento e melhorem o planejamento das regiões rurais. Porém, não é o que acontece. No orçamento da União, em 2009, menos de 1% foi destinado ao conjunto dos ministérios que representam a agropecuária. 

O crescimento produtivo é estimulado pelo desenvolvimento tecnológico, diante da maior competição externa. Uma produção moderna oferece bens em quantidades superiores, mas a preços reais decrescentes, o que causa contenção inflacionária e distribuição relativa de renda. Esses mesmos efeitos ficam comprometidos num ambiente de baixa incorporação tecnológica. 

Não há margem para a aplicação difusa de recursos públicos em mais de um ministério. Sem juízo de valor, a agropecuária deve ser pensada de forma estratégica, sob o comando de instituição forte, mas única: o ministério do agronegócio.

Texto por José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho – mestre em economia aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, doutor em economia pela Unicamp, atualmente pesquisador do IPEA e professor na Universidade de Brasília.

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