Mais alimentos para o País: pesquisa desenvolvida na USP em Pirassununga busca aumentar a produção de carne bovina

Fonte: Jornal USP

Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia eleva produção de carne para 600 quilos por hectare.

VALÉRIA DIAS,
Agência USP de Notícias:

Na pecuária de corte tradicional brasileira, cada hectare (ha) de terra – que equivale a 10 mil metros quadrados (m²) – é usado para a pastagem de um único animal, levando a uma estimativa de produção anual média de carne em torno de 54 quilos (kg)/ha. Porém, nesse mesmo espaço, quase do tamanho de um campo de futebol, é possível criar, ao mesmo tempo, oito animais e ainda assim elevar a produção de carne para 600 kg/ha ao ano. Essa alta produtividade pode ser encontrada no sistema de pastagens de alta lotação de animais, desenvolvido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, em Pirassununga.
“Essa produção elevada decorre de uma série de fatores que incluem, entre outros, nível alto de adubação da pastagem com nitrogênio e o confinamento do gado durante os meses de inverno. Nesse período de estiagem, o gado recebe uma dieta à base de milho, soja, cana-de-açúcar e ureia a fim de levar a um desempenho máximo dos animais”, explica o professor Luis Felipe Prada e Silva, do Laboratório de Pesquisa de Gado de Corte do Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) da FMVZ.
De acordo com o professor, “dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) indicam que, no Brasil, em 2010, foram produzidas 9,2 milhões de toneladas de carne em equivalentes de carcaça. Se dividirmos este número por 170 milhões de hectares, que é a área de pasto existente no País, chegaremos ao número de produção anual de carne de 54 kg / ha”.
Prada e Silva comenta que, atualmente,  a pecuária de corte tradicional, no estado de São Paulo, está deixando de ser atrativa, pois não consegue ser tão competitiva em relação ao cultivo de cana-de-açúcar ou laranja, ou mesmo à pecuária leiteira. “A criação de gado de corte está mudando para o norte do País, em regiões de terras mais baratas e de fronteira. Com isso, há uma intensificação do desmatamento de florestas. Vende-se a madeira de forma a ocupar a área desmatada com pastos destinados a pecuária de corte”, explica o coordenador do laboratório.
No entanto, como mostram os estudos da FMVZ, é possível sim inverter esse quadro. “Nosso objetivo é promover a intensificação da pecuária de corte, tornando possível que um número maior de animais seja criado numa mesma área, com alta produtividade”, destaca o professor. Os professores Augusto Hauber Gameiro e Angélica Pereira, do VNP, também integram o projeto, além de cerca de 15 pesquisadores, entre mestrandos e doutorandos, que desenvolvem estudos com o grupo.
Uma dessas pesquisas foi desenvolvida por Rinaldo Rodrigues. Orientado pelo professor Gameiro, Rodrigues realizou, durante o seu mestrado, uma análise econômica da iniciativa implantada no campus de Pirassununga. A conclusão do trabalho é que o sistema de pastagens de alta lotação de animais é competitivo mesmo em regiões de terras mais caras, utilizadas para a plantação de laranja e cana-de-açúcar.

Diferenciais – O sistema começou a ser implantado em 2009 numa área de 25 ha do campus de Pirassununga e passou a funcionar plenamente em 2010. A criação, atualmente, conta com 240 animais, de bezerros a animais adultos. A maioria é criada no pasto. Já os machos adultos próximos ao abate (de 16 a 20 meses) ficam em confinamento. “A média nacional para o abate de machos é de 36 a 48 meses”, informa o pesquisador.
No sistema desenvolvido na USP, as fêmeas têm a primeira cria aos 24 meses. No Brasil, isso ocorre, em média, entre os 36 e os 48 meses. A fertilidade também é outro diferencial: na média brasileira, a cada 100 vacas expostas aos touros, entre 50% a 60% ficarão prenhes. No sistema implantado na FMVZ, esse índice é de 90%.
A adubação do pasto é outro ponto importante. “A maioria dos pecuaristas não cultiva o hábito de adubar o pasto. Em nosso sistema, chegamos a utilizar cerca de 300 quilos de nitrogênio por hectare ao ano”, destaca.

Fonte: Jornal da USP

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