A biologia sintética na produção de bioenergia

Publicado em 20 de maio deste ano no site da revista Science, o artigo científico mais importante da década chamou a atenção do mundo sobre a forma como iremos lidar com a ciência daqui em diante. O artigo, que reporta o primeiro organismo vivo guiado por um genoma sintético, abre inúmeras possibilidades para o futuro e nos coloca de frente à alternativas interessantes para a forma de como iremos explorar a natureza.

Após 15 anos de pesquisas, investimentos que somam US$ 40 milhões e a colaboração de uma equipe extremamente persistente, Craig Venter e Hamilton Smith, responsáveis pela pesquisa, conseguiram fazer  o que há muito tempo se teorizava: produzir um organismo vivo a partir do zero.

Venter (à esq.) e Ham Smith – dupla fez o primeiro genoma sintético.

Venter diz que numa próxima etapa tem interesse em buscar o genoma de algas para produção de bioenergia. Ressalta que um dos maiores desafios na produção energética atualmente está em consegui-la de forma barata e limpa, e as algas o fazem muito bem.

As microalgas geram uma grande quantidade de biomassa rica em óleo que pode ser utilizado para a síntese de biodiesel e bioquerosene.  A utilização de microorganismos “engenheirados” na produção de biocombustíveis deverá produzir resultados mais rapidamente e com excelentes padrões, sendo uma nova aposta para empresas como a americana Exxon, que já se comprometeu a investir US$ 600 milhões no projeto de bioenergia.

No Brasil, pesquisas semelhantes utilizando conceitos da biologia sintética vêm sendo desenvolvidas no Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), em Campinas/SP. Uma das linhas de pesquisa inclui induzir em fungos e bactérias a produção de determinadas enzimas para atacar a parede celular vegetal, em prol da segunda geração do etanol.

Mas, se por um lado essa técnica oferece uma vasta rede de possibilidades, por outro sabe-se que adequá-la à organismos complexos será uma tarefa difícil. Eis uma pequena comparação: o genoma de uma planta de milho (fonte do etanol norte-americano) possui, em média, 32 mil genes, sendo 32 vezes maior do que o genoma sintético utilizado pela equipe de Venter (de 600 a 1000 genes em média). Considera-se que a cana-de-açúcar tenha o mesmo número de genes que do milho, porém com oito cópias de cada um. Isso nos leva a um total de 240 mil genes trabalhando para a síntese de etanol. Fazer com a cana-de-açúcar o mesmo que foi feito com a bactérias em laboratório seria 400 vezes mais trabalhoso, de modo que o uso organismos relativamente simples torna essa questão algo mais palpável para um futuro próximo.

A contribuição das algas na produção de biocombustíveis traz benefícios ainda maiores, pois são capazes de assimilar CO2 da atmosfera no seu processo de fotossíntese e ainda de aproveitarem os subprodutos agrícolas como substrato. Porém, existem desvantagens nessa nova técnica, que incluem os altos custos de operação, dificultando a produção em larga escala. Para alguns especialistas, a utilização de algas na síntese de biocombustíveis é uma aposta para a próxima década, num momento em que iremos dispor de estudos mais aprofundados e tecnologias mais eficientes.

Ainda que se leve algum tempo para concluir a pesquisa, a ciência tem mostrado o caminho das pedras. Mais do que nunca os pesquisadores estão conectados, buscando alternativas para o desenvolvimento sustentável e do bem-estar da raça humana. A nós cabem escolhas sensatas no dia-à-dia e a consciência de que devemos estar sempre em busca de algo novo, não importando a sua origem, mas o tamanho dessa consquista.

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Fonte: Revista Fapesp

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