Entrevista – Prof. Iran José Oliveira da Silva (ESALQ/USP)

Por Humberto Luis Marques e Rodolfo Antunes. Extraído da revista Avicultura Industrial – ed. 1216 – 10/2012.

IranA ambiência na produção animal tem ampliado seu foco de atuação nos últimos anos, englobando hoje praticamente todas as etapas do ciclo produtivo – desde o incubatório até a chegada ao matadouro, também chamado de pré e pós-porteira, respectivamente. Ao longo de todo esse processo ocorrem perdas não calculadas, porém significativas e que podem impactar negativamente nos resultados produtivos e financeiros de empresas avícolas.

Para o professor Iran José Oliveira da Silva, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Ambiência (Nupea), do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP), a ambiência rompeu as porteiras da propriedade e a tendência é que ganhe maior destaque e cresça muito mais.

Confira alguns trechos da entrevista concedida à revista Avicultura Industrial.

Avicultura Industrial – A Ambiência engloba hoje vários outros aspectos, como o acústico, o social, o biológico. No entanto, o foco das discussões parece sempre se centrar mais na questão térmica. Estes outros aspectos estão mais distantes das discussões e/ou das pesquisas?

Iran José Oliveira da Silva – Não. Todos estão sendo estudados. É que estas pesquisas começam a tomar corpo agora. E tudo isso é fruto do que? Das questões de bem-estar animal. No pano de fundo do desenvolvimento da ambiência temos hoje uma demanda maior do mercado em relação à preocupação com a qualidade de vida do ser vivo. Atualmente há uma confusão muito grande das pessoas. Elas acham que bem-estar animal é ambiência. Muitos falam de conforto térmico como se isso fosse bem-estar animal. E não é necessariamente assim. Ele é um dos quesitos que podem proporcionar o bem-estar, que é algo muito mais amplo do que ambiência.

AI – O senhor comentou sobre os avanços nos estudos relacionados à ambiência pré-porteira e pós-porteira. Em quais dessas duas etapas eles avançam mais?

Silva – No Brasil, praticamente só nosso grupo de estudos trabalha com ambiência pré-porteira e pós-porteira. Existem outros grupos que desenvolvem pesquisas com algumas linhas específicas. Só para te dar um exemplo dos aspectos que têm evoluído hoje. Em caminhões transportadores de ovos férteis e pintos de um dia, subentende-se que eles teriam um sistema de climatização eficiente. Realizamos um levantamento com baús transportadores e notamos que este controle é totalmente ineficaz. No caso dos ovos, isso gera perda de peso, de desenvolvimento embrionário e outras, as quais impactam ao longo de toda cadeia a produtiva. Há uma clara necessidade de um refinamento maior da ambiência, ou do desenvolvimento de condições de ambiência melhores dentro da carga dos caminhões dito climatizados. Estamos falando de um ponto. Daí começamos a pensar: e na sala de ovos ou nas próprias incubadoras? Muitas têm lá o seu termostato e/ou equipamentos, mas entre o que os registros apontam e o que é realmente medido internamente, há uma substancial diferença. São detalhes, mas que geram perdas.

AI – Quais as principais tendências em ambiência para a produção avícola?

Silva – A grande aplicação do futuro é o animal como biossensor. Isso significa que será o animal que dará o sinal para o sistema eletrônico automatizado agir. Refiro-me ao ligamento e desligamento de cortinas, nebulizadores, enfim. Todo o manejo que hoje é feito por meio de sensores ficará a cargo dos animais. Não digo que isso será feito por um lote inteiro, mas por uma amostragem de um lote que vai comandar os sistemas automatizados da granja. Essa é uma tendência que vejo. E não está muito distante. A tecnologia em prol do desenvolvimento animal, mas com o animal tomando a decisão. Pode parecer meio viajante, mas essa já é uma realidade inerente em muitas pesquisas feitas ao redor do mundo.

AI – Quando o senhor fala em biossensores se refere tanto em aspectos aéreos quanto térmicos?

Silva – Sim, através de dados fisiológicos dos animais – seja batimento cardíaco, frequência respiratória, temperatura de superfície ou retal, nível de ruído, de pio, níveis de movimentação – e tomando como base a média de um grupo, se terá um modelo que comandará sistemas, ou seja, vai tomar decisões em função do conjunto de informações desse animal. Quer dizer, esse conjunto de informações a partir do microclima gerado vai fazer com que esse modelo tome a decisão. Vai ser um aparato em prol do melhor condicionamento desse ambiente. Isso seria a ambiência do futuro.

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